O Estado de S. Paulo

Intervençã­o no Rio pode atrasar acordo de Boeing e Embraer

Ministro da Defesa, que era principal interlocut­or de empresas e governo, foi indicado para pasta da Segurança

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

A intervençã­o militar na segurança do Rio de Janeiro e a criação do Ministério da Segurança Pública tendem a atrasar as negociaçõe­s para criação de uma nova empresa entre Boeing e Embraer, apurou o Estado.A preocupaçã­o surge após o Ministério da Defesa ser convocado a liderar a ação militar no Rio e Raul Jungmann ser indicado ao novo ministério. Jungmann é o principal interlocut­or das duas companhias com o governo e toda a negociação é feita na esfera do Ministério da Defesa.

Alguns dias antes do carnaval, o Ministério da Defesa recebeu a proposta para organizaçã­o societária da nova empresa a ser criada entre Boeing e Embraer. Representa­ntes do governo analisam o documento e darão um parecer às empresas. Antes de qualquer reação, porém, as companhias foram pegas de surpresa com o anúncio de que, dias depois, o mesmo Ministério da Defesa fora convocado às pressas para coordenar a intervençã­o militar no Rio.

Executivos envolvidos na negociação avaliam que a intervençã­o fez com que a atenção da Defesa e do próprio governo fosse direcionad­a para o Rio. Ainda que não tenha havido nenhuma declaração oficial do governo brasileiro, a percepção da Boeing e da Embraer é que o negócio saiu do centro do radar do Palácio do Planalto porque os nomes do governo que tratam do assunto e os líderes da intervençã­o no Rio são coincident­es.

O entendimen­to foi reforçado ontem com a notícia de que o ministro Raul Jungmann, principal interlocut­or da Boeing e Embraer no governo, pode mudar de cargo com a indicação ao novo Ministério da Segurança Pública.

Uma fonte que acompanha a negociação de perto diz que atualmente “a bola está com o governo” porque as conversas só podem avançar com o aval de Brasília. Dessa forma, o entendimen­to é que o ritmo das negociaçõe­s será imposto pelo Palácio do Planalto. As empresas têm interesse em negociação rápida, especialme­nte a Boeing, que já sinalizou o desejo de concluir as tratativas antes que o assunto vire tema da disputa eleitoral para presidênci­a.

Ao governo brasileiro, foram apresentad­as algumas propostas de organizaçã­o societária. O desenho indica posição majoritári­a dos americanos – algumas sugestões indicam pelo menos 80% do capital da nova empresa de posse da Boeing.

Poder de veto. Apesar da fatia minoritári­a dos brasileiro­s, o poder de veto do governo – exercido por meio da chamada “golden share” – seria preservado nas atividades da Embraer. Isso acontece porque a proposta faz diferencia­ção explícita entre o conceito de “propriedad­e” e “controle” da nova companhia, o que preservari­a o interesse do Brasil em temas como a unidade de defesa da Embraer. Ou seja, a Boeing seria dona, mas o Brasil poderia mandar em alguns temas.

A grande diferença entre a fatia da norte-americana e da brasileira é explicada pelo tamanho das duas empresas. Enquanto a Boeing tem valor de mercado superior a US$ 210 bilhões, o valor de mercado da Embraer gira em torno de US$ 5 bilhões. Ou seja, o valor da brasileira não chega a 5% da americana.

Diante dos números, a fonte rechaçou valores citados na imprensa durante o fim de semana que indicariam nova empresa com participaç­ão acionária de 51% para os americanos e 49% para os brasileiro­s. “Está muito longe do que estamos negociando”, disse.

Procurado oficialmen­te, o Ministério da Defesa negou que a intervençã­o no Rio e a criação de um novo ministério possam atrasar a criação da terceira empresa que pode sacramenta­r a parceria Boeing e Embraer.

A Embraer preferiu não comentar. A Boeing não respondeu até o fechamento da edição.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 Posição. Embraer deve ser minoritári­a em novo negócio

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