Por dentro do teatro do Oscar
Os bastidores do Dolby Theatre – com direito a discurso
Não apenas escutava cada passo, mas sentia o tablado vibrar suavemente sob meus pés. Rumava à plateia. Deveria me pronunciar não apenas à audiência daquele teatro, mas ao mundo. “All eyes on me”, pensei, em inglês. Diante de mim, o Dolby Theatre, com Meryl Streep, Sylvester Stallone e Matt Damon logo nas primeiras fileiras. É claro que vou engasgar no meu discurso de agradecimento do Oscar.
Acredite, fui protagonista da cena acima no famoso teatro onde, neste domingo, ocorre a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ou simplesmente The Academy. Infelizmente, não recebi a estatueta dessa vez: tratava-se de um tour guiado de 30 minutos, ao preço de US$ 23 (R$
74; dolbytheatre.com). Um pouco salgado, é verdade, só que é daquelas vivências que valem muito a pena para quem é fã. Fazia apenas uma semana que a festança havia rolado, portanto, o clima todo ainda continuava lá – e também alguns bonecos de papelão com os nomes das estrelas em suas respectivas poltronas no domingo anterior.
Desde 2001, a cerimônia é realizada no mesmo local – até 2012, o atual Dolby era chamado de Kodak Theatre. Mesmo sem receber um Oscar (você pode comprar o seu em uma das lojas vizinhas, na Hollywood Boulevard), eu estava genuinamente emocionado de estar ali, no palco onde são entregues os troféus aos principais nomes da produção cinematográfica internacional da temporada.
Assim como Hollywood se especializou em criar um universo em que sonhos são realizáveis, a visita pelo Dolby Theatre segue roteiro parecido. Dei sorte de embarcar na última turma do dia, com apenas mais quatro pessoas, um casal argentino e outro de chineses. O ingresso é comprado na própria bilheteria do teatro. Por causa da cerimônia, o tour fica interrompido durante cerca de um mês, e só voltará a operar em 9 de março.
O clima mais intimista parece ter deixado o jovem guia Harry Jones extremamente à vontade para destilar seus conhecimentos sobre o lugar e revelar-se uma enciclopédia das telonas.
Bem disfarçado nos fundos do Hollywood & Highland Center, um pequeno centro comercial, o teatro de 3.332 lugares ganha uma baita maquiagem semanas antes da festa. O badalado tapete vermelho pelo qual as celebridades desfilam até seus assentos é colocado apenas na véspera. As vitrines das lojas, com marcas variadas, de Forever 21 a Louis Vuitton, são cobertas por, pasmem, elegantes tapumes.
O único vestígio de que aquele lugar faz parte da rota mais badalada são discretos luminosos nas colunas com o vencedor de melhor de filme de cada ano desde a primeira cerimônia, em 1928. Registrei Forrest Gump (1994), Titanic (1997) e Moonlight (2016), vencedor da última edição.
Uma frustração: não poder fotografar os lobbies onde são recebidos os convidados. O carpete velho é decepcionante e lembra a velha sala de cinema do Gemini, na Avenida Paulista, pouco antes de fechar as portas. Uma surpresa: grandinha, com 33 centímetros, cada estátua do Oscar é feita de bronze, coberta por ouro 24 quilates e pesa 3,8 quilos – pouco mais que um recém-nascido. Uma pena não poder segurar, mas há um exemplar original numa vitrine, concedido honrosamente à empresa Dolby em 1988 por sua tecnologia de som.
Embora os números sejam contundentes, 34 metros de altura por 18 metros de profundidade, uns acham o palco enorme, outros pequenino, mas fato é que descobrir o teatro do Oscar entrando pelas coxias é emocionante.
Num minuto de silêncio do grupo me meti a falar alto, tentar escutar minha própria voz e me imaginar a receber o prêmio. Afinal, diante de bonecos qualquer um pode ser uma estrela de Hollywood.