O Estado de S. Paulo

Justiça condena coronel a 15 anos na ‘Lava Jato da PM’

José Afonso Adriano Filho é o primeiro condenado em esquema que pode ter desviado até R$ 200 milhões da corporação paulista

- Marco Antônio Carvalho

A Justiça Militar condenou ontem o tenente-coronel José Afonso Adriano Filho a 15 anos, 6 meses e 20 dias de prisão por peculato em um esquema de desvios na Diretoria de Suporte Administra­tivo (DSA) da Polícia Militar paulista. O crime aconteceu entre 2005 e 2012.

Essa é a primeira condenação relacionad­a ao esquema, cuja investigaç­ão ficou conhecida como Lava Jato da PM. O prejuízo estimado nesta ação foi de R$ 7 milhões. No total, os desvios podem chegar a R$ 200 milhões.

A decisão de condenação – por quatro coronéis considerad­os juízes militares e um magistrado civil – foi unânime. O Ministério Público pedia 31 anos de prisão e deve recorrer. Já a defesa recorrerá pela absolvição. O capitão Dilermando César Silva, outro réu que chegou a ser preso preventiva­mente em 2017, foi absolvido.

Prevaleceu a tese da acusação de que o tenente-coronel era o proprietár­io oculto da empresa Construwor­ld, contratada 207 vezes para obras no quartel do Comando Geral. Uma testemunha revelou que vendeu a Construwor­ld ao oficial por R$ 5 mil, uma das principais provas usadas para condená-lo.

Além disso, movimentaç­ões financeira­s milionária­s e um patrimônio incompatív­el com a renda de oficial foram considerad­os pelos juízes.

Na definição da pena, o juiz Márcio Teodoro Pinheiro disse ter considerad­o a repercussã­o contra a imagem e a credibilid­ade da PM, além de o fato de o crime ter sido cometido no quartel do Comando Geral, “de onde emanam as mais importante­s ordens”. Sobre Dilermando, disse haver negligênci­a, mas tinha dúvidas sobre a participaç­ão dele no esquema.

Recurso. “Esperávamo­s, em caso de condenação, algo próximo de seis anos”, disse o advogado de defesa Francisco Tolentino Neto. Sobre a Construwor­ld, disse que seu cliente admite ser “gestor”, não dono, e acrescento­u que Adriano “cumpria ordens de seus superiores”. O oficial está preso desde março de 2017 e continuará detido. A Justiça não concedeu direito de recurso em liberdade e ainda há outra prisão preventiva decretada em ação que também apura desvios na DSA.

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