O Estado de S. Paulo

Refis mais recente perdoa R$ 62 bi, quase o dobro do previsto

Regras mais generosas, com descontos de até 70% em multas e de até 90% em juros, concedidas após pressão no Congresso, atraíram adesão maior do que a esperada

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Deve chegar a R$ 62 bilhões o perdão concedido pelo governo federal no último parcelamen­to de débitos tributário­s, o Refis. O valor é quase o dobro dos R$ 35 bilhões esperados. O cálculo foi atualizado pela Receita Federal porque, com regras mais generosas, a versão final do programa acabou incentivan­do adesão maior do que a prevista. A primeira versão do Refis não incluía descontos em multas e juros. Após pressão

de parlamenta­res – muitos deles com dívidas com o Fisco – para melhorar as condições da proposta, o governo acabou concedendo descontos de até 70% em multas e de até 90% em juros, de olho em futuro apoio à reforma da Previdênci­a, que acabou engavetada. Os parcelamen­tos especiais permitem que empresas refinancie­m dívidas com descontos sobre juros, multas e encargos e, em troca, o governo recebe uma parcela da dívida adiantada, mas abre mão do que poderia ganhar com juros e multas.

O perdão concedido pelo governo federal no último parcelamen­to de débitos tributário­s, o Refis, deve chegar a R$ 62 bilhões – quase o dobro do valor calculado inicialmen­te pela Receita Federal. A estimativa oficial foi atualizada porque a versão final do programa, com regras mais generosas, acabou incentivan­do uma adesão maior que a esperada.

A primeira versão do programa não previa descontos em multas e juros, o que acabou sendo incorporad­o pelo governo. Mesmo assim, houve pressão de parlamenta­res para melhorar as condições do programa, que acabou dando descontos de até 70% em multas e 90% em juros.

Em agosto do ano passado, antes de o projeto ser aprovado no Congresso, a previsão da Receita era que a renúncia chegasse a R$ 35,1 bilhões ao longo dos 15 anos de parcelamen­to. “Renunciamo­s mais do que era previsto”, admitiu o chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias, ao apresentar os dados da arrecadaçã­o de janeiro.

Os parcelamen­tos especiais permitem que empresas refinancie­m dívidas com descontos sobre juros, multas e encargos. Muitas vezes, os juros são maiores que o débito original. Em troca, o governo recebe uma parcela da dívida adiantada, mas abre mão de uma parcela do que ganharia com juros e multas.

Parlamenta­res, muitos deles inclusive com dívidas com o Fisco, fizeram ao longo de 2017 forte pressão sobre o governo para melhorar as condições do Refis, lançado em janeiro e que acabou virando lei só em outubro do ano passado. Em meio às investidas, o governo cedeu de olho num futuro apoio à reforma da Previdênci­a – que acabou sendo engavetada.

Com os abatimento­s, a renúncia do Refis do ano passado – oficialmen­te chamado de Programa Especial de Regulariza­ção Tributária (Pert) – pode superar o Refis da Crise, lançado no fim de 2008, depois que as empresas brasileira­s foram atingidas pelo impacto da crise financeira internacio­nal. Esse até agora é o maior em renúncias: R$ 60,9 bilhões.

Motivo. A justificat­iva do Congresso para tentar ampliar os descontos do último programa era sempre dar condições aos empresário­s afetados pela crise para regulariza­r a situação com o Fisco, voltar a ter capacidade de investir e poder pagar suas obrigações em dia.

O que a Receita já identifico­u é que, além de a renúncia de recursos ter ficado acima do previsto, muitos contribuin­tes que aderiram ao parcelamen­to optaram pelo pagamento à vista, em janeiro de 2018. Isso, segundo a Receita indica que eles não tinham dificuldad­e de caixa a ponto de precisar parcelar a dívida em até 15 anos, apenas queriam ter os descontos generosos. Com isso, o governo registrou um ingresso de quase R$ 8 bilhões em receitas com o Refis – metade dos pagamentos à vista.

“Esses programas de renegociaç­ão de dívida se tornaram disfuncion­ais no Brasil. Você acabou criando indústria de não pagar imposto e deixar para depois”, disse o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper.

O Fisco é historicam­ente contra a edição de parcelamen­tos especiais porque, além da elevada renúncia, a prática estimula o não pagamento de tributos. Contribuin­tes que aderiram ao último Refis deixaram de pagar R$ 3,1 bilhões em tributos que venceram a partir de maio de 2017.

“Houve adesão de maior número de contribuin­tes, além da taxa que estávamos projetando. Renunciamo­s mais do que era previsto” Claudemir Malaquias

CHEFE DE ESTUDOS TRIB. DA RECEITA

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