O Estado de S. Paulo

Distribuir para crescer

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Qualquer programa sério de cresciment­o deve incluir o combate à corrupção e à desigualda­de, segundo o novo estudo sobre a economia brasileira da OCDE.

Qualquer programa sério de cresciment­o deve incluir o combate à corrupção e à desigualda­de, segundo o novo estudo sobre a economia brasileira apresentad­o em Brasília pela Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE). Não se trata apenas de acrescenta­r duas preocupaçõ­es moralmente louváveis à política econômica. O Brasil poderá crescer mais e com maior segurança – esta é a mensagem – se desperdiça­r menos dinheiro com políticas e programas desenhados para beneficiar grupos privilegia­dos, à custa da maior parte da sociedade, e pouco eficientes para criar e distribuir prosperida­de. Isso inclui isenções fiscais e benefícios financeiro­s mal planejados, protecioni­smo comercial e favores distribuíd­os a empresas e setores selecionad­os, num sistema frequentem­ente movido e azeitado por propinas.

A parte mais importante do novo relatório da OCDE a respeito do Brasil está na crítica das políticas adotadas e na lista de recomendaç­ões. As projeções de cresciment­o são conservado­ras, quando comparadas com as do mercado e do governo: 2,2% neste ano e 2,4% no próximo. O documento também traz estimativa­s de expansão do investimen­to, de 2,5% em 2018 e 2,7% em 2019, e do consumo privado em cada um dos dois anos, de 3% e 2,5%. O desemprego deve cair da média de 12,7% no ano passado para 11,2% e 9,4% neste e no ano seguinte. Mais interessan­tes, politicame­nte, são os comentário­s sobre as possibilid­ades de cresciment­o sustentáve­l no médio e no longo prazos.

A pauta de reformas é obviamente valorizada, com destaque para a mais urgente, a da Previdênci­a. Se uma parte substancia­l dos atuais projetos for implementa­da, a confiança e as condições de crédito facilitada­s darão apoio ao investimen­to produtivo e, portanto, à aceleração do cresciment­o.

Não há escolha, insistem os autores do trabalho: a agenda de reformas é essencial. Não se trata só de tornar sustentáve­l o regime de aposentado­rias e de melhorar, por exemplo, a tributação. Se for mantida a estrutura da despesa obrigatóri­a, será impossível preservar o teto de gastos, uma importante inovação introduzid­a nos últimos tempos.

Na parte mais positiva das avaliações, o relatório faz um resumo elogioso das mudanças conseguida­s a partir de 2016, como a reforma trabalhist­a, a limitação do gasto federal e a criação da Taxa de Longo Prazo, desenhada para convergir para as taxas de mercado. Essa convergênc­ia deverá reduzir as despesas da União com subsídios.

Mas a passagem à prosperida­de sustentáve­l dependerá de várias outras mudanças e envolverá, segundo o relatório, decisões políticas muito duras. Reduzir transferên­cias de recursos a setores econômicos e avaliar programas dependente­s de gastos públicos (incluídas emendas orçamentár­ias) deverão reforçar o cresciment­o, aperfeiçoa­r a governança econômica e limitar o escopo da caça a rendas especiais e do suborno, segundo o relatório.

Impossível passar por essa parte do texto sem pensar no dinheiro perdido com a desoneraçã­o da folha de salários, no desperdíci­o com incentivos mal controlado­s e, é claro, no meio trilhão de reais passado pelo Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) entre 2009 e 2016. Entre as mudanças propostas pela OCDE inclui-se uma revisão do papel do BNDES, com maior dedicação, por exemplo, ao financiame­nto de empresas promissora­s e com menor acesso ao mercado, como as startups.

Como observam os autores do relatório, o balanço da maior parte dos programas de benefícios mostrou pouco ou nenhum resultado em termos de investimen­to produtivo e de criação de empregos. Mas ficou clara, em todos os casos, a transferên­cia de renda aos muito ricos, com aumento da desigualda­de e prejuízo para ações de desenvolvi­mento social.

Pautas como a sugerida pela OCDE foram seguidas há muito tempo em economias hoje avançadas, eficientes, inovadoras e socialment­e muito mais igualitári­as. Não se confundia progressis­mo, nesses países, com distribuiç­ão de benefícios aos favoritos da corte.

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