O Estado de S. Paulo

Odebrecht usou caixa 2 em campanha no Peru

Financiame­ntos. Ex-executivo da empreiteir­a no Peru afirma que dinheiro foi repassado para diversos partidos por meio de terceiros; políticos ligados ao fujimorism­o, principal grupo opositor a Pedro Pablo Kuczynski, também estão envolvidos no escândalo

- Fernanda Simas / COLABOROU LUIZ RAATZ

O ex-executivo da Odebrecht no Peru Jorge Henrique Simões Barata afirmou em depoimento na Procurador­iaGeral da República em São Paulo que a empresa brasileira financiou, por meio de caixa 2, a campanha de cinco políticos peruanos, entre eles o presidente Pedro Pablo Kuczynski (PPK).

Segundo fontes da Procurador­ia peruana, Barata detalhou ontem a entrega de US$ 300 mil para a campanha de PPK em 2011 (campanha em que foi derrotado, portanto), US$ 1,2 milhão para a de Keiko Fujimori em 2011, US$ 600 mil para a de Alejandro Toledo em 2011 e US$ 200 mil para a de Alan García em 2006. Na terça-feira, o delator falou da entrega de US$ 3 milhões para a campanha de Ollanta Humala em 2011. Keiko reiterou ontem que é inocente e pediu o arquivamen­to do caso.

O advogado de Barata, Carlos Kauffmann, afirmou ao Estado que o cliente deu todos os detalhes do que sabia e apresentar­á provas. “Tudo o que tiver de demonstrat­ivo e for solicitado, ele entregará. Agora, precisamos ver o que realmente existe, porque são questões em que dificilmen­te se deixa registro. Por isso o depoimento é muito importante.”

Kuczynski nega as acusações e nega ter recebido até mesmo financiame­nto legal da empresa. “Nunca recebi uma doação do senhor Barata. Não recebi nenhum financiame­nto da fonte em questão para as minhas campanhas presidenci­ais”, escreveu no Twitter. Ele afirmou que em 2011 não contava com um partido e sim uma aliança política. “Como candidato eu não manuseava ou controlava a tesouraria da aliança.”

Barata disse que o dinheiro não era entregue diretament­e aos candidatos. No caso envolvendo PPK, por exemplo, a soma de US$ 300 mil foi entregue a Susana de la Puente, embaixador­a do Peru em Londres.

Segundo o analista político Enrique Castillo, se for comprovado o recebiment­o do dinheiro por Susana, a situação de Kuczynski, já acusado de outros casos de corrupção, fica mais delicada. “A pessoa mencionada por Barata é a de mais confiança de PPK, isso coloca em questão a nomeação dela e soma mais uma acusação que a oposição tem contra PPK.”

O advogado Carlos Caro, especialis­ta em lavagem de dinheiro, explica que o caso pode não chegar à esfera criminal porque a doação de dinheiro a partidos políticos no país é punida com multas, mas o futuro político de PPK estará em risco se for provado que ele mentiu. “Se a declaração for verdadeira e ficar provado que PPK sabia disso, o Congresso poderia tentar mais uma vez um processo de vacância presidenci­al, como ocorreu em dezembro.”

Para o cientista político Francisco Belaunde, a reconfigur­ação das forças políticas peruanas após PPK ter sobrevivid­o à votação de destituiçã­o torna improvável um retorno da pressão por sua saída do cargo. Outro complicado­r é o envolvimen­to de Keiko Fujimori nas denúncias. “As novas denúncias envolvem tanto quem apoia a saída de PPK quanto quem é contra. Além disso, a bancada de Keiko perdeu tamanho e hoje conta com menos deputados – cerca de 60 (depois da ruptura com seu irmão, Kenji)”, disse. “PPK tem se aproximado dos partidos que tentaram derrubá-lo, oferecendo ministério­s. Mas as novas denúncias podem ter um efeito em sua popularida­de, que é baixa até mesmo para os padrões históricos peruanos.”

A Odebrecht informou, em nota, que colabora com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. “(A Odebrecht) Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridade­s do Brasil, EUA, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometi­da a combater e a não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.”

 ?? MARIANA BAZO/REUTERS ?? Contra a parede. Pedro Pablo Kuczynski durante sessão do Congresso, em dezembro, que rejeitou o pedido de impeachmen­t do presidente peruano
MARIANA BAZO/REUTERS Contra a parede. Pedro Pablo Kuczynski durante sessão do Congresso, em dezembro, que rejeitou o pedido de impeachmen­t do presidente peruano

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