Presidente afegão quer negociar com Taleban
Governo do Afeganistão admite reconhecer jihadistas como movimento político para tentar processo de paz; grupo está presente em 70% do país
Depois de 16 anos de guerra e mais de 100 mil mortos, o governo do Afeganistão decidiu ontem tentara última cartada para consegui rapaz: reconhecer o Tale banco mo grupo político .“Estamos fazendo esta ofertas em precondições paraque os taleban contribuam para o processo de paz”, afirmou o presidente afegão, Ashraf Ghani. Éa primeira vez que o governo do país fala em uma negociação sem precondições.
O plano é uma tentativa de evitar uma guerra sem fim contra o Taleban, que ganha cada vez mais território no Afeganistão após uma década de declínio. Em 2016 e 2017, o grupoconquistou áreas que haviam si doto madas pelo governo afegão com apoio de tropas americanas. Es tima-seque oTaleban controle quase 4% do território do país e tenha presença em outros 66%. Segundo um levantamento do centro de estudos americano Fundação para a Defesa da Democracia, “desde a retirada da força máxima dos EUA do Afeganistão, o Taleban ressurgiu de forma incontestável”.
Nos últimos meses, os taleban intensificaram ações terroristas em várias regiões do país, até mesmo na capital, Cabul. No mês passado, mais de cem pessoas morreram quando uma ambulância transformada em carro-bomba explodiu no centro da capital. Segundo a ONU, o aumento no número de ataques terroristas no ano passado resultou em mais de 10 mil vítimas civis – 3.438 mortos e 7.015 feridos.
A saída dos EUA do Afeganistão também preocupa Ghani. O governo afegão sabe que não tem como vencer o grupo sem os americanos. Em 2017, havia 8.400 soldados americanos em solo afegão – no auge do conflito, em 2010, havia 140 mil. Trump quera retirada total, mas generais convenceram o presidente a enviar mais 3 mil soldados.
Outro fator que pode facilitar a negociação é a pressão que os EUA fizeram sobre o Paquistão no fim do ano passado, cortando apoio financeiro ao país enquanto Islamabad não parasse de apoiar o Taleban. Acredita-se que o Paquistão use os taleban para manter uma instabilidade na fronteira com a Caxemira, disputada com a Índia. “O fator financeiro e a pressão de Trump ajudam a explicar essa repentina vontade de negociação entre as partes”, tuitou Michael Semple, ex-negociador da ONU com o Taleban.
Em troca do reconhecimento como grupo político legítimo e da participação nas eleições, os taleban teriam de reconhecer o governo afegão e respeitar o estado de direito. Apesar da dificuldade, analistas acreditam que um acordo seja possível. “Mesmo com o sucesso no campo de batalha, os taleban tiveram perdas, sem contar com a ameaça do Estado Islâmico em território afegão. Um processo de paz pode ser bom e agrada aos taleban do Catar”, afirmou ao jornal
The Guardian Simon Gass, representante civil da Otan no Afeganistão. “Para o governo afegão, sem os americanos, a única maneira de lidar com o Taleban é o diálogo.”