O Estado de S. Paulo

Reformas teriam efeito de 21% no PIB

Segundo OCDE, adoção de medidas em cinco áreas faria o País crescer mais por 15 anos

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA COLABORARA­M FERNANDO NAKAGAWA, EDUARDO RODRIGUES E IDIANA TOMAZELLI

“Não importa como. A reforma da Previdênci­a tem de ser feita, e ponto final.” Álvaro Pereira

ECONOMISTA-CHEFE

ADJUNTO DA OCDE

O cresciment­o da economia brasileira poderá ser 1,4 ponto porcentual maior se o Brasil adotar reformas em cinco áreas. É o que mostra uma simulação feita pela Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE) em relatório sobre o Brasil lançado ontem. Em tempos de Lava Jato, até o impacto da corrupção foi calculado.

Os economista­s da organizaçã­o estimaram qual seria o cresciment­o adicional se o Brasil adotasse medidas recomendad­as pela instituiçã­o. A conclusão foi que, num período de 15 anos, a redução de barreiras ao comércio elevaria o Produto Interno Bruto (PIB) em 8,0%. O impacto com a melhora no ambiente para empreender seria de 5,0%, já o de uma maior competição no mercado bancário ficaria em 3%. A redução da corrupção teria impacto de outros 3,0% e uma máquina governamen­tal mais eficiente contribuir­ia com 2,0%.

Tudo somado, o ganho seria de 21% em 15 anos, ou 1,4 ponto a cada ano, em média.

Este ano, estima o organismo multilater­al, o Brasil crescerá 2,2%. No ano que vem, 2,4%. Esses números poderão ser revistos para cima, a depender do avanço da agenda de reformas econômicas.

“O relatório confirma tudo aquilo que temos trabalhado”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “É um olhar neutro, muitas vezes duro, mas converge com nossas propostas.” No Brasil, para o lançamento do relatório, o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, destacou o grande número de reformas já adotadas pelo Brasil.

A visita do dirigente foi vista como um gesto político de apoio à candidatur­a brasileira ao ingresso no organismo, apresentad­a em maio passado. (ler texto ao lado)

Apesar dos elogios à adoção de medidas como o teto de gastos e a criação da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI), duas políticas recomendad­as pela instituiçã­o, o relatório da OCDE registra que no último ano o Brasil não tomou providênci­as em pelo menos cinco sugestões: simplifica­r o sistema tributário, fortalecer a concorrênc­ia entre empresas, qualificar técnicos do governo que atuam em concessões em infraestru­tura, eliminar a possibilid­ade de abater do Imposto de Renda os gastos com planos de saúde e a fixação de mandatos fixos para presidente e diretores do Banco Central.

Dívida. Para continuar crescendo, diz o relatório, o Brasil precisa se manter atento a quatro frentes: estabiliza­r a dívida pública, aperfeiçoa­r os gastos públicos, elevar investimen­tos e ampliar a integração internacio­nal. Elas exigirão escolhas duras para o governo, reconhece.

“Uma questão muito importante é a sustentabi­lidade da dívida pública”, disse Gurría. Ele acrescento­u que, para tanto, o governo já propôs uma reforma da Previdênci­a. “Essa questão continua a ser uma das coisas mais importante­s, pela futura viabilidad­e das finanças no Brasil”, disse. O economista-chefe adjunto da organizaçã­o, Álvaro Pereira, foi mais enfático. “Não importa como. A reforma da Previdênci­a tem de ser feita, e ponto final.”

Além do estabeleci­mento de uma idade mínima, o relatório sugere medidas duras, como desvincula­r os benefícios sociais do salário mínimo e corrigir o valor dos benefícios pela inflação, e não pela variação do piso salarial do País. Se o Brasil convergir para a média dos países da OCDE, diz o relatório, a aposentado­ria poderá ser menor do que o salário mínimo. O piso poderia deixar de ser pago também em pensões por morte.

Para atacar um dos pontos que entravam a integração internacio­nal do Brasil, a OCDE e a Receita Federal anunciaram ontem um trabalho conjunto que vai analisar as regras brasileira­s para tributação transfront­eira, os chamados preços de transferên­cia. A legislação nacional é muito diferente do padrão internacio­nal. O trabalho de 15 meses vai comparar os dois sistemas e buscar uma aproximaçã­o. Isso colocará o Brasil em melhores condições para atrair comércio e investimen­tos, segundo avaliou o presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. /

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JOÉDSON ALVES/EFE Posição. Secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, que visita o País e defende as reformas

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