O Estado de S. Paulo

Cade barra venda da Liquigás ao Grupo Ultra

Com decisão do órgão, Ultragaz terá de pagar multa de R$ 280 milhões à Petrobrás

- Lorenna Rodrigues /BRASÍLIA

O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) reprovou ontem a compra da distribuid­ora de gás de cozinha Liquigás, detida pela Petrobrás, pela Ultragaz. O negócio, de R$ 2,8 bilhões, anunciado novembro de 2016, fazia parte do plano de desinvesti­mento da estatal. Com o veto, o Ultra terá de pagar uma multa de cerca de R$ 280 milhões à Liquigás, prevista em contrato para o caso de o conselho barrar a operação.

O julgamento do caso durou seis horas e terminou com um placar de 5 votos contra e 2 a favor. A relatora do caso, Cristiane Alkmin, votou pela reprovação do negócio, como já era previsto.

A operação foi considerad­a complexa desde o início. Líder de mercado, a Ultragaz iria elevar sua participaç­ão a mais de 60% em alguns Estados com a compra da Liquigás, vice-líder.

Pesou ainda na análise do conselho o fato de as duas empresas terem sido investigad­as por formação de cartel – os processos foram encerrados após o pagamento de multas milionária­s no ano passado. Última tentativa. O Ultra apresentou várias propostas para chegar a um acordo, mas não conseguiu convencer o conselho. A última oferta do grupo previa a venda de ativos equivalent­es a 45% da Liquigás. A relatora entendeu que, mesmo vendendo quase metade da distribuid­ora, ainda assim a concentraç­ão de mercado da Ultra ultrapassa­ria 40% em alguns Estados.

Para Cristiane, a concorrênc­ia só estaria garantida se a fatia de mercado da empresa fosse limitada a 30% por unidade da federação, mas, para isso, a Ultra teria que vender 65% da Liquigás,

o que a companhia não considerou interessan­te.

“É muita coisa, de fato. Mas não cabe ao Cade viabilizar o negócio a qualquer preço, temos que zelar pela concorrênc­ia”, afirmou Cristiane. “Não tenho pena da Petrobrás e sim da sociedade. Não posso fazer valer programa de desinvesti­mento da Petrobrás a qualquer custo”.

Em seu voto, Cristiane sugeriu ainda que uma nova venda da Liquigás seja feita para uma empresa com menos de 10% de participaç­ão de mercado.

Para Polyanna Vilanova, uma das conselheir­as que votaram a favor da operação, o conjunto de ativos que seriam alienados pela proposta garantiria a entrada de uma empresa com condições de concorrer no mercado com a Ultragaz.

Em nota, o Grupo Ultra afirmou que ao longo dos 15 meses de negociação com o Cade “a companhia buscou apresentar soluções operaciona­is, comerciais e societária­s que endereçass­em todas as questões e preocupaçõ­es concorrenc­iais levantadas durante o processo.”

Petrobrás, por sua vez, comunicou que analisará “imediatame­nte alternativ­as para o desinvesti­mento da Liquigás” e que o ativo continua no programa de vendas. A estatal reforçou ainda que terá R$ 286,2 milhões a receber da Ultragaz como multa pela não concretiza­ção do negócio.

 ?? AGLIBERTO LIMA/ESTADÃO - 23/5/2003 ?? À venda. Negócio de R$ 2,8 bilhões é parte do programa de desinvesti­mentos da Petrobrás
AGLIBERTO LIMA/ESTADÃO - 23/5/2003 À venda. Negócio de R$ 2,8 bilhões é parte do programa de desinvesti­mentos da Petrobrás

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil