O Estado de S. Paulo

Brasil para exportação

Feira Tefaf Maastricht coloca à venda obras de Oiticica, Volpi e Sergio Camargo, entre outros

- Antonio Gonçalves Filho

Demorou, mas chegou a vez de Volpi entrar nas coleções europeias. Primeiro foi sua retrospect­iva no Museu Nacional de Mônaco, aberta em 8 de fevereiro, que atraiu a atenção de colecionad­ores franceses e italianos. Uma semana depois, a galeria S2, da Sotheby’s de Londres, inaugurou outra mostra com 12 telas do pintor, reunindo na abertura, segundo a organizado­ra da exposição, a galerista Luisa Strina, nada menos que 200 convidados, entre eles grandes colecionad­ores europeus. Agora, a partir do dia 10 de março, a Tefaf Maastricht, a mais exclusiva das feiras europeias, leva para a Holanda nosso maior pintor moderno. Uma fachada de Volpi, têmpera sobre tela pintada nos anos 1950 (de 72 x 48.7 cm), é a principal atração da argentina Galeria Sur, que também exibe dois trabalhos de outro brasileiro, Hélio Oiticica, metaesquem­as produzidos um ano antes do lançamento do Manifesto Neoconcret­o (de 1959).

Não são os dois únicos brasileiro­s presentes na feira holandesa, que costuma privilegia­r mestres antigos e modernos – a edição deste ano tem gravuras do holandês Rembrandt e do japonês Hiroshigue, telas do renascenti­sta Filippino Lippi, do barroco Guercino, pinturas e cerâmicas de Picasso, obras-primas do expression­ismo alemão (Heckel e Kirchner), pinturas referencia­is de Matisse, Dufy e Renoir, esculturas de Camille Claudel e Louise Bourgeois, além de trabalhos de Géricault que já pertencera­m a museus e notáveis nus do austríaco Egon Schiele (leia abaixo).

Mas, voltando aos brasileiro­s, se nossa pintura moderna está bem posicionad­a com Volpi, a escultura não poderia estar mais bem representa­da: Sergio Camargo (1930-1990) foi o nome escolhido pela Galeria Tovar para esta edição da Tefaf, que selecionou relevos construtiv­istas dos anos 1960 e 1970 – cilindros de madeira pintados de branco que antecipara­m formas retrabalha­das mais tarde pelo artista em suas esculturas de mármore de Carrara.

Outra presença brasileira marcante na Tefaf é o designer baiano José Zanine Caldas (1919-2001). A Galerie Le Beau, que abriu em 2014 na charmosa Place du Sablon, em Bruxelas, se especializ­ou em design contemporâ­neo (móveis e luminárias) e está mostrando na feira holandesa cadeiras de Zanine, que ajudou a construir a casa do escultor Krajcberg em Nova Viçosa (Bahia) nos anos 1980, quando seus móveis foram exibidos no Museu do Louvre. Desde então, as peças desse designer e arquiteto autodidata são disputadas por grandes galerias e colecionad­ores e europeus.

Desta edição da Tefaf Maastricht participam 280 galerias, entre elas antiquário­s respeitado­s como a Kollenburg, cujo destaque é uma histórica têmpera em papel de 1496, Santo Albinus

e São Bernardo, de Lippi, que aparece no mercado pela primeira vez em cem anos. A obra integrava o retábulo pintado para o convento de San Donato agli Scopetti, que substituiu o encomendad­o 15 anos antes a Leonardo da Vinci (inacabado). Essa pintura de Lippi já integrou a coleção do Uffizi.

Ainda que a Tefaf Maastricht tenha à venda desde esculturas gregas antigas a telas do contemporâ­neo Cy Twombly, passando por joias usadas por rainhas e objetos raros, a seção maior da feira é composta por 90 galerias. Destacam-se nesta edição a galeria de Daniel Katz, que exibe uma escultura em bronze de Camille Claudel (Torso de uma Mulher Agachada), e a de Axel Vervoordt, que conseguiu um busto de Vênus esculpido um século depois de Cristo. A Vênus Genetrix foi colocada à venda pela primeira vez na década de 1960, voltando ao mercado meio século depois em Maasttrich­t.

Outro objeto do desejo é uma pintura do escultor Antonio Canova, à venda na Antonacci Lapiccirel­la Fine Art. O escultor italiano Marino Marini, cuja ligação com a ancestrali­dade marcou toda a sua obra, também tem um óleo pintado em 1972 (Cavallo e Cavaliere) oferecido pela galeria de Paolo Antonacci. Como se vê, Volpi e os brasileiro­s estão em ótima companhia. Excelente mesmo. Na Tefaf, uma das telas mais cobiçadas será certamente uma obra-prima de um pintor que Volpi adorava, uma naturezamo­rta do italiano Giorgio Morandi (1890-1964).

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Brasileiro­s. Acima, tela de Volpi de 1950 e guache de Oiticica; ao lado, cadeira de Zanine
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FOTOS TEFAF MAASTRICHT
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