‘Hollywood maquia os marginalizados’
O que chamou sua atenção no projeto?
Eu conhecia a reputação do diretor Sean Baker e de seu filme Tangerine (2015). Depois de ler o roteiro, nos encontramos, conversamos sobre como ele queria rodar, que seria num motel em funcionamento, que íamos aproveitar coisas do momento, com uma equipe pequena e um orçamento modesto. Achei que era tudo muito inteligente e a única maneira de filmar. Porque há algo de mau gosto nessa coisa de Hollywood maquiar tudo, especialmente ao falar de comunidades marginalizadas. Sabia que aqui seria realista, que íamos nos tornar essas pessoas o máximo possível para podermos ter acesso e uma visão respeitosa deles. Porque eles nos ajudaram a fazer o filme.
Por que gosta de trabalhar com diretores europeus e de outros países, inclusive o Brasil, com Hector Babenco, com quem você rodou Meu Amigo Hindu? Gosto de trabalhar com bons diretores. E também para evitar cair na mesmice, que restringe. Mesmo que o cinema seja uma linguagem internacional, os valores e a cultura variam muito de país para país. É interessante ver como você consegue escapar do condicionamento cultural. Em outros lugares, aprendo porque os valores são diferentes.
Como foi trabalhar com Babenco?
Foi um filme especial para ele, permeado de muitas coisas pessoais. Tentei estar presente para ele. Amava a equipe. Babenco era duro com a equipe, muitas vezes. Mas havia motivo: ele tinha paixão pelo filme, pela vida e pelo cinema. É disso que trata o longa. De novo, era outra cultura. Era o cara de fora e pude aprender muito.