O Estado de S. Paulo

‘MILITARES NÃO BUSCAM PROTAGONIS­MO’

General diz que nomes do Exército podem ajudar na administra­ção federal. ‘O País precisa disso e estamos disponívei­s’

- Joaquim Silva e Luna MINISTRO DA DEFESA

Primeiro integrante das Forças Armadas a chefiar o Ministério da Defesa, general Joaquim Silva e Luna diz a Tânia Monteiro que maior participaç­ão no governo é “circunstan­cial”, mas militares podem ajudar na gestão federal. “País precisa disso e estamos disponívei­s.”

Primeiro integrante das Forças Armadas a comandar o Ministério da Defesa, o general do Exército Joaquim Silva e Luna, de 68 anos, afirmou ao Estado que “militares não buscam protagonis­mo” ao assumir funções no governo. Para ele, a maior participaç­ão na gestão do presidente Michel Temer é “circunstan­cial”. Em sua primeira entrevista após assumir o cargo interiname­nte, o que ocorreu ontem, ele refutou a ideia de um possível uso eleitoral da intervençã­o no Rio por Temer e devolveu a pergunta com outras. “Existia causa mais urgente do que segurança pública? Principalm­ente no Rio de Janeiro?”

O EXÉRCITO NO GOVERNO.

“Não se busca protagonis­mo. Entendemos (a maior participaç­ão de militares) como cumpriment­o de destinação constituci­onal. Quando um militar escolhe esta profissão é por vocação. Não se pode deixar de contribuir, com sua experiênci­a, em área de gestão e administra­ção, só porque se é militar. Aí parece que o militar não integra a sociedade. Seria falta de bom senso. E isso é circunstan­cial, não vemos isso como protagonis­mo. A colaboraçã­o de militares que foram convidados e aceitaram participar do desafio incomoda? Não incomoda porque é nossa missão. No momento o País precisa disso e estamos disponívei­s.”

MILITARES E USO ELEITORAL.

“Não vi essa percepção em canto nenhum. Posso falar pelas três Forças (Exército, Marinha e Aeronáutic­a). Não percebo dessa forma. O presidente é o comandante supremo das Forças Armadas e ele se comunica bem com as Forças. Ele busca esse contato. O que existe hoje é a necessidad­e de participaç­ão

de todos os brasileiro­s na busca de solução dos problemas de segurança pública.”

INTERVENÇíO COMO AGENDA POSITIVA.

“Eu vejo a percepção do presidente igual ao da população. Existia causa mais urgente do que segurança pública? Principalm­ente no Rio de Janeiro? Não existe nada mais urgente do que isso aqui. É a história da prioridade e da urgência. Tem assunto que é prioritári­o. Tem outro que, além de ser prioritári­o, é urgente. E ele (Temer) foi atender a uma urgência que é a questão da segurança pública.”

VIOLÊNCIA.

“O nível de inseguranç­a pública chegou a um ponto insuportáv­el. Vimos uma senhora pedindo socorro e isso nos doeu e emocionou. Não existe uma solução mágica. Precisamos de integração, inteligênc­ia e legislação. Há um desalinham­ento entre quem prende, quem libera e quem julga. Não há garantia de o preso ser punido pelo crime que cometeu. Maior vulnerabil­idade é o desemprego, que torna o indivíduo vulnerável. Um garoto que vai pro crime ganha R$ 4 mil por semana.”

MINISTÉRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA.

“É fundamenta­l. Há uma convergênc­ia de preocupaçõ­es, mas o grande clamor é por dinheiro para segurança pública. A Constituiç­ão de 1988 deu responsabi­lidades, mas não prevê os recursos.”

FORÇAS ARMADAS NO COMBATE À VIOLÊNCIA.

“O emprego excessivo das Forças Armadas é uma preocupaçã­o, sim. Já existe a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Nos países vizinhos, onde as Forças Armadas se envolveram no combate ao crime, houve contaminaç­ão como na Colômbia. Hoje 60% do pessoal das Forças é temporário. Dos 222 mil militares, 135 mil são temporário­s e 75 mil são recrutas. Esse pessoal, quando sai, depois de treinado, pode ser cooptado pelo crime, daí a preocupaçã­o também.”

COOPTAÇÃO DE MILITARES NO RIO.

“O prazo (da intervençã­o no Rio) é muito longo até dezembro. Há preocupaçã­o com a contaminaç­ão da tropa, mas não vimos outra solução.”

DESARMAMEN­TO.

“Tem países que armam a população como forma de aumentar a segurança, mas não vejo que um homem armado vá ajudar na segurança, sobretudo se for um homem desprepara­do. O que tem de acontecer é desarmar o bandido, porque senão vai desequilib­rar esse jogo. Caso contrário, vai se cometer o erro de que, se não é possível desarmar o bandido, arma-se a população, o cidadão de bem. A solução não passa por aí, a solução é desarmar o bandido.”

REGRA DE ENGAJAMENT­O.

“Precisam ser muito claras e bem definidas para que o soldado saiba exatamente a hora que pode ou não atirar, se há intenção hostil. As Forças Armadas estão preparadas e hoje o combate se dá no meio do povo.”

‘GOVERNOS FRACOS APELAM A MILITARES’.

“Cada um tem a sua percepção a partir de suas convicções e experiênci­as. A ideia de separar civis e militares é retrógrada, é olhar tão para trás. A defesa é questão de todos os brasileiro­s.”

SALÁRIO DOS MILITARES.

“Está muito defasado, o salário do coronel, que é o ultimo posto da carreira militar, é menor do que o valor inicial de muitas outras carreiras de Estado. A situação salarial é crítica, principalm­ente para os praças.”

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Ministro. Silva e Luna, em seu gabinete em Brasília; para ele, maior participaç­ão dos militares no governo é ‘circunstan­cial’

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