OSCAR, 90
O dilema entre ser uma festa politizada ou uma cerimônia dedicada à arte divide a intenção dos organizadores e o desejo dos artistas
Premiação chega aos 90 anos dividida entre a política e a arte. Gary Oldman e Frances McDormand (à direita) são os mais cotados para ir para casa com os prêmios de melhor ator e atriz. Guillermo del Toro e Greta Gerwig (à esquerda) disputam a direção com A Forma da Água e Lady Bird.
Um dilema vivem os organizadores do Oscar, cuja 90.ª cerimônia ocorre na noite deste domingo, 4, a partir das 22h, com transmissão pela Globo e pelo canal TNT: em meio a discussões acaloradas sobre má conduta sexual e abuso de poder, os organizadores da festa querem privilegiar o cinema como arte. “Queremos torná-la a mais divertida possível – reverente e respeitosa, mas também emocionante”, disse Jennifer Todd, uma das produtoras responsáveis pela cerimônia. “O Oscar deve ser um espetáculo, com performances divertidas.”
A declaração soa estranha, anacrônica até, pois, desde que explodiu a primeira acusação contra o produtor Harvey Weinstein, em outubro, a comunidade cinematográfica (especialmente a americana) colocou em pauta sua indignação – a entrega do Globo de Ouro, no início de janeiro, tornou-se uma manifestação favorável ao movimento Time’s Up, com atrizes vestindo preto para protestar contra o assédio sexual e Oprah Winfrey proferindo um discurso abrasador. Já a premiação dos atores, o Screen Actors Guild, trouxe apenas apresentadoras e foi focada na desigualdade de gênero e outros problemas sociais. E, durante o Bafta, o Oscar britânico, ativistas da violência doméstica, inspirados na campanha Time’s Up, ocuparam o tapete vermelho.
A era #MeToo, porém, não parece sensibilizar os responsáveis pela transmissão de Oscar, cientes da importância e da visibilidade da festa. O recado é: nosso show será focado em filmes, não no momento cultural em torno deles. “Lembrem-se também que o Oscar representa uma grande janela comercial para a indústria do cinema e temos de aproveitar essa 90.ª cerimônia”, enfatiza Jennifer Todd.
Um dos motivos para minimizar o aspecto ativista da festa seria o alegado desinteresse do telespectador: segundo pesquisa da empresa Nielsen, que há anos analisa minuto a minuto a transmissão do evento, há uma fuga de audiência cada vez que algum artista defende uma causa social ou critica algum político. No ano passado, quando questão de raça era urgente, a cerimônia foi acompanhada na TV por 32,9 milhões de pessoas nos Estados Unidos, a segunda
pior audiência desde 1974. A recente transmissão do Globo de Ouro teve uma queda de 5% em relação ao ano passado, enquanto a festa do Screen Actors despencou 30%.
Mesmo assim, são esperados discursos politizados, tanto no tapete vermelho, quando as estrelas deverão exibir pins de apoio ao Time’s Up, como no palco, agradecendo o prêmio. E representantes do Time’s Up anunciam que o movimento terá um espaço durante a cerimônia, informação ainda não confirmada pelos organizadores. Quem terá a mais difícil tarefa, no entanto, será o comediante Jimmy Kimmel, que volta a apresentar a cerimônia.
Responsável pelo número de abertura da cerimônia, momento ideal para comentários irônicos, Kimmel confirmou, em diversas entrevistas, que falará sobre assédio sexual. “É complicado, pois a festa tem que começar com cenas divertidas e, quando você trata de determinados assuntos, fica evidente um certo desconforto”, disse ele, que também deverá ironizar Trump.
Mas a cena mais esperada será a volta do casal Faye Dunaway e Warren Beatty. Depois da confusão da troca de envelopes do ano passado, eles deverão, segundo o canal TMZ, revelar novamente o melhor filme. Agora, com mais brincadeiras.