O Estado de S. Paulo

Receita em queda pode levar à fusão de sindicatos

Para dirigentes, várias das 5,4 mil representa­ções existentes no País têm funções sobreposta­s e poderiam se unir numa única entidade

- Renée Pereira

O fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a deve provocar uma onda de fusões e fechamento de entidades patronais nos próximos anos, na avaliação de representa­ntes do setor. Com o orçamento mais apertado, os sindicatos terão de se reinventar para sobreviver – ou ficarão pelo meio do caminho.

“Será uma transição dolorosa em que vai prevalecer quem tiver mais competênci­a e for mais comprometi­do”, diz José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), cujos associados são sindicatos espalhados pelo Brasil. Na avaliação dele, este será um ano de adequação da nova realidade – um momento para as entidades traçarem suas estratégia­s.

Segundo Martins, muitas das 5,4 mil entidades patronais que atuam no País – entre sindicatos, federações e confederaç­ões – têm funções sobreposta­s

Competênci­a • “Será uma transição dolorosa em que vai prevalecer quem tiver mais competênci­a e comprometi­mento”

José Carlos Martins PRESIDENTE DA CBIC

e, portanto, poderiam se unir numa única entidade. Em Santa Catarina, por exemplo, há 24 sindicatos da indústria da construção civil (Sinduscon) enquanto que em São Paulo, um dos maiores mercados do País, existe apenas um.

Esse processo de consolidaç­ão tende a ser benéfico para o País uma vez que a tendência é criar um sistema mais forte e com lideranças mais responsáve­is com os impactos macroeconô­micos de suas decisões, afirma o economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Quando o sistema é muito pulverizad­o, eles não conseguem enxergar o impacto sobre toda a economia.”

Ajustes. Por enquanto, para se manterem atuantes, os sindicatos têm enxugado sua estrutura e apostado na prestação de serviços e no desenvolvi­mento de produtos diferencia­dos para as empresas.

O Sinduscon-SP começou a se preparar para as mudanças que viriam com a reforma trabalhist­a desde o primeiro semestre do ano passado, quando já se falava no fim da contribuiç­ão sindical. Uma das saídas do sindicato foi fazer uma campanha para que as empresas se tornassem associadas – ou seja, elas não recolheria­m a contribuiç­ão sindical, mas pagariam uma mensalidad­e. “No fim de fevereiro, o número de associados tinha subido de 500 para 1.400. Até o fim do ano, queremos chegar a 2.500”, afirma o presidente do Sindicato, José Romeu Ferraz Neto.

Na outra ponta, a entidade cortou 40% dos custos fixos e reduziu de 90 para 50 o número de funcionári­os. Os dois andares que ficaram vagos com o corte da mão de obra serão usados para um novo projeto de inovação na construção. O sindicato vai ganhar com a locação do espaço e, se os projetos derem certo, também terá participaç­ão nos ganhos do negócio.

Diferencia­l. A produção de materiais exclusivos, como estudos, cursos de capacitaçã­o e seminários, é outra estratégia dos sindicatos para continuare­m de pé. Foi com esse discurso que o Sindicato da Indústria de Especialid­ades Têxteis do Estado de São Paulo (Sietex) bateu à porta das empresas para convencêla­s a continuar pagando a contribuiç­ão sindical, que representa 80% da receita da entidade.

O presidente da Sietex, Paulo Henrique Schoueri, disse que a empreitada pode ser considerad­a bem-sucedida, porque a arrecadaçã­o caiu 30% e não 90% como previa inicialmen­te. “Mostramos todos os benefícios, produtos e estudos para justificar o pagamento. Afinal ir para Brasília custa dinheiro.” A campanha da Sietex começou em setembro do ano passado.

O Sindiplast, da indústria de material plástico, que viu a receita cair 25%, também fez o mesmo. “Apresentam­os nossos produtos e mostramos que, sem a contribuiç­ão, teríamos de desativar os serviços ou passar a cobrar pelos produtos”, afirmou o presidente do sindicato, José Ricardo Roriz Coelho.

Choque. Na opinião do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), apenas quem enxerga valor e comprometi­mento nos sindicatos vai pagar a contribuiç­ão neste ano. “Foi um choque para o setor.” Na federação, o imposto representa 20% das receitas, que vêm minguando ano após ano por causa da crise no Rio. “Nossa arrecadaçã­o de hoje equivale à do fim de 2010”, diz o vice-presidente da federação, Ricardo Maia. Para se ajustar aos números, a solução é seguir a mesma receita dos demais: cortar gastos. “Adotamos, por exemplo, um atendiment­o móvel que elimina a necessidad­e de estrutura física.” São 90 contêinere­s com toda infraestru­tura para atender filiados em áreas que não justificam filial.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Espaço para projetos. Corte de funcionári­os deixa dois andares vazios no SindusconS­P
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