O Estado de S. Paulo

‘Há preocupaçã­o de como novo governo vai encarar o ajuste’

Para estrategis­ta, cenário é favorável à retomada de investimen­tos, mas investidor está cauteloso à espera das eleições

- Anna Carolina Papp

Os investimen­tos, que ensaiaram uma reação no último trimestre do ano passado, após 14 quedas consecutiv­as, devem voltar ao mapa em 2018. Para Axel Christense­n, estrategis­ta-chefe para América Latina e Ibéria da BlackRock – maior gestora de recursos do mundo –, as empresas começam a vislumbrar melhores cenários por conta do ambiente externo favorável e do aumento – ainda que tímido – da demanda interna. Ele pondera, porém, que, à medida que as eleições se aproximam, investidor­es estrangeir­os ficam mais cautelosos e dão um passo atrás à espera de definições no campo político. “Há muita preocupaçã­o de como o novo governo vai arcar com a responsabi­lidade do ajuste fiscal”, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• O Brasil cresceu 1% em 2017, após dois anos de retração. O sr. vê uma retomada consistent­e?

A economia brasileira vinha recuando e destoando do cresciment­o global. Vimos uma recuperaçã­o no ano passado, e o ambiente externo deve dar suporte para essa retomada. É mais fácil para o Brasil crescer quando o resto do mundo está crescendo, pois há mais demanda – além das taxas de juros mais baixas, que impulsiona­m o cresciment­o, especialme­nte do lado doméstico. As pessoas estão mais inclinadas a investir, a se movimentar. Temos boas expectativ­as para o Brasil.

Qual a perspectiv­a para 2018?

Somos relutantes em dar uma projeção, mas acreditamo­s que será bem melhor do que 2017. A redução das taxas de juros leva um tempo para ter um impacto na economia real. O mercado reage muito rapidament­e, mas as empresas levam um tempo para tomar decisões de investimen­to. Então, muito do que foi feito no ano passado terá impacto na economia este ano.

• O sr. acha que a economia crescerá com base no consumo ou no investimen­to?

A resposta é: ambos, provavelme­nte em uma sequência. Acreditamo­s que será puxada pelo investimen­to. As empresas têm cenário externo positivo e os custos de financiame­nto estão caindo por causa das baixas taxas de juros. Por causa da recessão, houve um trabalho por parte das empresas para se tornarem mais eficientes e reduzirem custos – e agora que a economia está reaquecend­o, elas vão se beneficiar desse processo. Os investimen­tos devem crescer, e o consumo vai seguir. Lembro que, há alguns anos, havia uma discussão de como a economia brasileira estava piorando, mas mesmo assim o mercado de trabalho não refletia isso. Na saída da crise, é o mesmo ciclo: o investimen­to vai à frente e demora um pouco para o emprego e os salários voltarem de forma sólida. E esses dois fenômenos são muito importante­s para fundamenta­r o consumo.

• A Bolsa segue batendo recordes, embora a nota de crédito do Brasil tenha sido rebaixada mais uma vez e a reforma da Previdênci­a, enterrada. Por quê?

Se você olhar para os mercados globais de ações, 2017 foi um ano muito positivo. O Brasil se destacou e foi melhor que os EUA e outros países desenvolvi­dos. O contexto global de cresciment­o deu suporte para o mercado acionário, e o Brasil não é exceção. Além disso, a queda da Selic tirou a atrativida­de da renda fixa. As empresas estão começando a vislumbrar melhores resultados por conta do cenário externo e aumento tímido da demanda interna. Fora que os mercados tendem a olhar para frente, e não exatamente o que está acontecend­o agora – e eles estão gostando do que veem.

Mesmo com eleições à frente?

Eventos políticos são cruciais em decisões econômicas e geram

volatilida­de. Esseéoa no de eleições na América Latina –eo caso do Brasil é muito particular, porque está muito difícil saber quem de fato vai concorrer. Em casos como o Brexit, ou a vitória do Trump nos EUA, percebemos que surpresas podem acontecer. Areação do mercado pode variar muito, já que espera-se um candidato focado na agenda de reformas, como a da Previdênci­a, e outras medidas de equilíbrio fiscal. Mas ainda é muito cedo para dizer.

O que investidor­es estrangeir­os têm perguntado sobre o Brasil?

Há muita preocupaçã­o de como

o novo governo vai arcar com a responsabi­lidade do ajuste fiscal. Há um grande fluxo de investimen­tos para os emergentes, com destaque para o Brasil. Mas, estamos entrando num período em que os investidor­es devem ficar um pouco mais cautelosos e dar um passo atrás para entender melhor o que vai acontecer. Até pouco tempo, eles me perguntava­m se a reforma da Previdênci­a seria aprovada – e acho que essa pergunta já foi respondida. Também querem saber sobre as eleições e quais os potenciais candidatos. Ah, e perguntam do Bolsonaro – querem saber quem ele é.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO-9/2/2017 Futuro. Para Christense­n, cenário para o País é favorável

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