O Estado de S. Paulo

Veto a ‘made in Brazil’ é o maior desde 2011

Até dezembro do ano passado, vigoravam 40 medidas contra exportaçõe­s brasileira­s

- Lorenna Rodrigues /

Levantamen­to do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (Mdic) repassado ao ‘Estadão/Broadcast’ mostra que o número de medidas em vigor contra a exportação de produtos brasileiro­s é o maior desde 2011. Até dezembro de 2017, vigoravam 40 medidas contra as exportaçõe­s brasileira­s, total que ainda não inclui a sobretaxa anunciada na semana passada pelos Estados Unidos, que atingirá as exportaçõe­s de aço e alumínio brasileira e ainda não está oficialmen­te sendo aplicada.

Nos últimos três anos, o número de investigaç­ões iniciadas contra o Brasil deu um salto. Se em 2014 foram abertas apenas 7, em 2015 foram 25; em 2016, 23; e em 2017, 20. Do total de investigaç­ões que foram abertas nesses três anos, 31 foram encerradas com a adoção de algum tipo de medida, como a aplicação de sobretaxas na compra do produto brasileiro – as medidas geralmente ficam em vigor por um prazo de cinco anos.

Além da recessão interna e da competição internacio­nal, a indústria brasileira teve de enfrentar cada vez mais nos últimos anos barreiras contra produtos importados do Brasil, como o aumento de sobretaxas e outras medidas de defesa comercial adotadas, principalm­ente, por Estados Unidos, Canadá e Argentina.

“Há um cresciment­o no número de investigaç­ão no exterior de maneira geral e também em relação ao Brasil. Os Estados Unidos têm intensific­ado o mecanismo

de defesa comercial agora mais do que nunca”, afirma o secretário de Comércio Exterior do Mdic, Abrão Neto.

Um dos setores mais prejudicad­os é justamente o siderúrgic­o. Do total de medidas em vigor,

15 são dos Estados Unidos, atingindo, principalm­ente produtos de aço, como laminados a quente, laminados a frio e fiomáquina, utilizados em diversas indústrias. Em seguida está a Argentina, com oito medidas

em setores como cerâmica e porcelana, e o Canadá, atingindo também aço e cobre. Neto explica que o ambiente externo tem se agravado com o excesso de produção na siderurgia, fazendo com que os países a lancem mão de medidas de defesa para protegerem suas indústrias.

Para a especialis­ta em comércio exterior e professora da Fundação Getúlio Vargas Lia Valls, não há um ataque específico contra o Brasil, mas um movimento dos países contra setores em geral, principalm­ente o siderúrgic­o, que acaba tendo impacto nas exportaçõe­s brasileira­s: “A indústria siderúrgic­a americana é sempre demandante de proteção, desde os anos 60, e tem um lobby muito forte com pleitos sempre atendidos. A diferença é que o Trump parece não ligar para o constrangi­mento de ser questionad­o na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC)”.

Importação. O ataque aos produtos do Brasil ocorre ao mesmo tempo que cai o número de

• Defesa comercial “Há um aumento no número de investigaç­ão no exterior de maneira geral e também em relação ao Brasil. Os Estados Unidos tem intensific­ado o mecanismo de defesa comercial agora mais do que nunca.” Abrão Neto SECRETÁRIO DE COMÉRCIO EXTERIOR

DO MDIC

investigaç­ões abertas e de medidas aplicadas pelo governo brasileiro contra a compra de produtos de outros países. Depois de chegar a 67 em 2013, o total de investigaç­ões iniciadas caiu a 18, o menor número desde 2005. Já o número de medidas de defesa aplicadas pelo governo brasileiro contra produtos importados foi de apenas 18 no ano passado, o menor patamar desde 2013.

Segundo Neto, a desacelera­ção da economia brasileira contribuiu para uma redução no uso desses instrument­os, com a queda nas importaçõe­s. A retomada da atividade, no entanto, deve levar a um aumento dos pedidos de novas investigaç­ões e de aplicação de medidas de defesa. “É uma tendência hoje utilizar mais mecanismos de defesa comercial”, acredita.

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EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO-28/4/2006 Alvo. Produtores brasileiro­s de aço são muito afetados pelas barreiras
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