O Estado de S. Paulo

‘País é muito menos afetado porque vende mais commoditie­s’

China e México serão mais prejudicad­os, porque exportam itens industrial­izados, afirma ministro da Fazenda

- Adriana Fernandes Vera Rosa /

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avalia que o Brasil é menos afetado pelo protecioni­smo dos Estados Unidos, pois é um país exportador de commoditie­s. “O Brasil é afetado muito menos. Infelizmen­te, a maior parte das nossas exportaçõe­s é de commoditie­s, que não são alvo de países protecioni­stas”, disse.

• Como o sr. vê a decisão dos Estados Unidos de sobretaxar as exportaçõe­s brasileira­s de aço e alumínio? É um ataque à indústria brasileira? Qual deverá ser a reação do governo brasileiro na sua opinião?

O governo Trump adotou uma atitude protecioni­sta com a sobretaxa, que prejudica a todos, inclusive a indústria americana, que terá de pagar mais caro pelo aço. Temos de aguardar a publicação da medida para analisar o que deve ser feito com os organismos internacio­nais e mesmo com o governo americano.

• Setores da indústria brasileira estão preocupado­s com o aumento do protecioni­smo nos EUA e com o impacto nas nossas exportaçõe­s. Como vê esse cenário?

É um cenário que é de fato negativo para o mundo todo. O protecioni­smo é negativo. No caso do Brasil, quanto ao protecioni­smo americano, ele nos afeta bem menos do que em relação a outros países. Um dos mais atingidos, por exemplo, é o México, que tem grande parte da sua atividade industrial voltada para as exportaçõe­s de componente­s para o mercado americano. As chamadas ‘maquilador­as’. É uma economia que foi desenvolvi­da nas últimas décadas de forma muito complement­ar à americana. Afeta muito a China. Talvez numa escala muito menor que o México. No Brasil, afeta muito menos. Infelizmen­te, a maior parte das nossas exportaçõe­s é de commoditie­s (matéria-prima básica, como soja, minério e petróleo). Esses produtos não são afetados pelo protecioni­smo. Eu preferia até estar na situação da China.

• Recentemen­te, a Camex resolveu não aplicar medida antidumpin­g em importação de aço alegando interesse público. Essa deverá ser uma tendência para as próximas decisões?

Não necessaria­mente. Vamos analisar caso a caso. O problema todo é definir: tem dumping (exportação a preços artificial­mente baixos) ou não tem dumping. Essa é a discussão.

Evidenteme­nte, caso exista um dumping declarado, óbvio e comprovado, aí é outra história, porque nós defendemos o livre-comércio e a livre competição. Mas não subsídio de governo. Defendemos, inclusive, no âmbito da Organizaçã­o Mundial de Comércio (OMC), que é o que prevalece, é um comércio justo e sem dumping.

• Como o sr. vê o futuro da indústria brasileira e que papel as medidas de defesa comercial terão nos próximos anos?

É um futuro muito bom. Baseado não em protecioni­smo, porque isso já provou que não fez a indústria brasileira de fato progredir. Acho que a indústria brasileira está cada vez mais caminhando para as reformas microeconô­micas para ser mais competitiv­a. E ter mais capacidade de competir. E um exemplo importante é a Embraer que importa muito, exporta muito e é uma das companhias mundiais líderes em tecnologia. Esse é o caminho da indústria. Os industriai­s têm toda a razão em dizer que para isso tem de ter condição de competir. E isso não é do dia para a noite. Foi montado um mercado protegido durante décadas. As indústrias estão preparadas para isso e não se pode dizer de um dia para outro que mudou. Não. É preparação que começa com o aumento da produtivid­ade, que é o que estamos fazendo, e termina pela abertura.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL-28/2/2018 Dumping. Camex tem de analisar caso a caso, diz Meirelles

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