O Estado de S. Paulo

Bem ou mal, prêmio espelha uma história dos EUA e do mundo

- Luiz Carlos Merten

Em 1927, a Academia surgiu, fundada por produtores. Como eles ditavam as regras, selecionav­am quem podia ser admitido. Como reação, foram surgindo as guilds. No primeiro Oscar, todo mundo indicava, mas só o comitê de direção, o Board, escolhia os vencedores. O primeiro Oscar nasceu polêmico. O Board queria premiar The Crowd, de King Vidor. O lendário Louis B. Mayer, da Metro, fez uma revolução para que Sunrise , de F.W. Murnau, ganhasse o prêmio de qualidade artística. Tinha toda razão. A par do prêmio de qualidade artística, havia o de melhor produção – futuro melhor filme. Deu Wings, Asas.

A estatueta já nasceu como prêmio da indústria. Daqui a dez anos, torna-se centenária. Ao longo de todo esse tempo, houve decisões controvers­as, escolhas absurdas. O importante é que se pode perceber uma história dos EUA e do mundo por meio do Oscar. A depressão, a guerra, as mudanças de comportame­nto, os direitos civis, os novos papéis sociais espelham-se no Oscar.

Quantas vezes você ouviu críticas à Academia Sueca, que outorga o Nobel? Há menos notáveis na seleção do Nobel que na da Academia. O neorrealis­mo, o cinema japonês, os mestres – Ingmar Bergman, Federico Fellini, Luis Buñuel, etc. Os grandes autores que não foram premiados por filmes venceram pelo conjunto da obra. Neste quadro, as maiores injustiças – Cidadão Kane não ganhou nada, nem Alfred Hitchcock, Greta Garbo ou Charles Chaplin – são percalços que não afetam a atração do prêmio. E o Oscar soma. Agrega valor aos filmes, e aumenta as rendas em todo o mundo. Até por isso, o Brasil sonha entrar nesse clube restrito.

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