O Estado de S. Paulo

Duncan Jones volta à ficção científica

No filme ‘Mudo’, que estreou na Netflix, diretor trabalha com Alexander Skarsgård, Paul Rudd e Justin Theroux

- Pedro Antunes

Naquela tarde de entrevista­s, em Los Angeles, onde vive atualmente, o diretor Duncan Jones, filho do ícone da música David Bowie, foi tirado da sua rotina de “trocar fraldas”, ofício principal dele nos últimos meses, desde o nascimento da segunda filha, para voltar suas atenções ao filme Mudo, que há pouco estreou no serviço de TV por streaming Netflix.

No longa, Jones volta a trabalhar dentro do gênero da ficção científica, no qual habitou, muito bem, em Moon: O Outro Lado da Lua, filme de 2009, no qual estreou como diretor e roteirista. Com esse trabalho, Jones foi laureado pelo Bafta, o “Oscar inglês”, como o melhor diretor principian­te. Foi o que garantiu deixar o cinema independen­te e partir para o cinemão de Warcraft, a adaptação do sucesso dos games que fracassou em crítica e público – provavelme­nte, por não conseguir encontrar uma linearidad­e entre tantos pontos de vistas, já que, no jogo, pode-se escolher comandar orcs ou humanos em batalha.

Jones admite ser viciado em ficção científica (passe pelo seu Twitter e Instagram e veja por si, mesmo). O apreço pelo gênero literário e cinematogr­áfico foi ensinado a ele – prepare-se para as lágrimas – pelo pai, outro que gostava de mergulhar por essas realidades e futuros alternativ­os e, normalment­e, tortos.

Com Mudo, Jones está em seu hábitat, distante das politicage­ns dos grandes estúdios e num mesmo universo ficcional de Moon. No papo a seguir, o diretor fala sobre Hollywood, paternidad­e e sobre dirigir um protagonis­ta mudo, interpreta­do pelo galã Alexander Skarsgård.

• Bom Dia, Mr. Jones, como tem sido esse dia de entrevista­s?

Nada mal. É divertido. Atualmente, minha principal função era de trocar fraldas (risos).

Muito bem. Vamos falar de Mudo, então, que você dirige e assina o roteiro com o Michael Robert Johnson.

Sim. Aliás, eu e Michael cursamos a escola de cinema juntos. E fizemos o primeiro esboço desse filme há 16 anos.

• Mas o futuro imaginado 16 anos atrás deve ser bastante diferente do que imaginamos agora. Em 2002 não existia iPhone.

Exatamente. Mudamos o roteiro muitas e muitas vezes. Quando começamos, a história se passaria em Londres. Estávamos inspirados naqueles filmes de gângster britânicos lançados na época. Uma das mudanças é que agora, o filme se passa em Berlin.

• E por que decidiu lançar o filme na Netflix e não no cinema?

Acho que era o único jeito a ser feito. Sempre soube que esse era um trabalho para um público bastante específico. Não é um filme da Marvel ou um Star Wars. E os grandes estúdios agora estão em busca de franquias, grandes estreias em bilheteria nos fins de semana. Mas existem esses filmes feitos com US$ 20 milhões, US$ 30 milhões, que não tinham mais espaço. Lugares como Netflix, Amazon e Apple estão aí para isso.

• Foi bom voltar aos filmes de orçamentos moderados?

Em Mudo, eu tive o “corte final” do filme. A Netflix assina pelo filme, pelo artista. Nos grandes estúdios, a gente precisa viver a politicage­m. Mas eu sabia que seria assim.

• Mudo e Moon estão no mesmo ‘universo cinematogr­áfico?’

Acho que, principalm­ente, são filmes que dialogam com a ideia de como as pessoas reagem a momentos de desespero.

• E como chegou a Skarsgård?

Eu precisava de alguém fisicament­e grande, que desse medo, de alguém talentoso para construir isso sem diálogo.

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KEITH BERNSTEIN/NETFLIX
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Em Berlim. Personagem mudo foi criado pelo diretor (abaixo) há 16 anos

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