O Estado de S. Paulo

Poucos esperam o milagre da não digitaliza­ção

- Leonardo Trevisan, professor da PUC

É melhor ter cuidado com a “máxima” de que as empresas brasileira­s não estão preocupada­s com tecnologia digital. Não é bem assim.

Pesquisa realizada pela Vanson Bourne, encomendad­a pela Dell Technologi­es, com 3.800 “líderes de negócios” em 17 países incluído o Brasil, aplicada no segundo semestre de 2017, mostrou que 88% dos executivos brasileiro­s (contra 82% da média mundial) sabem que humanos e máquinas trabalharã­o integrados nos próximos cinco anos. Esta porcentage­m sugere que poucos setores ainda esperam o milagre da não digitaliza­ção.

Este estudo, Projetando 2030: uma visão dividida do futuro, também mostrou que só 29% dos líderes brasileiro­s, contra 42% na média mundial, afirmam não saber se “estão preparados para a concorrênc­ia com quem adotar o digital” na próxima década.

Portanto, convivem duas percepções. Uma, a evolução digital é inevitável. Outra, não há suficiente preparo para ela. E esta preocupant­e dualidade não chegou nem à projeção de carreiras nem à estrutura organizaci­onal das empresas.

Relatório da CNI, Confederaç­ão Nacional das Indústrias, Oportunida­des para a indústria 4.0: aspectos da demanda e oferta no Brasil, divulgado no Estadão, em 4 de fevereiro na página B4, indicou que mais da metade dos setores industriai­s do País está tão atrasada em relação à tecnologia digital, que corre forte risco de exclusão do novo ciclo industrial, o 4.0.

A simples leitura deste relatório revela onde estão os empregos do futuro. Os setores: extrativis­ta, alimentíci­o, bebidas, celulose e papel têm alta taxa de inovação. De nível médio estão, por exemplo, informátic­a e veículos. De nível baixo de inovação digital estão móveis e vestuário, entre outros. Este relatório está disponível no site da CNI.

É engano dizer que não há consciênci­a sobre automação no Brasil. Aliás, no estudo da Dell, 59% dos nossos executivos apontam falta de preparo da mão de obra para a inovação, dramática constataçã­o sobre o interesse da universida­de no tema.

É fato, portanto, que o tempo das ingênuas afirmações de que o Brasil “não precisa” de inovação digital apenas já passou. Como a pesquisa mostrou, ninguém acredita mais nisso. Outra coisa, bem diferente, é o que se faz para alcançar essa evolução...

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LEONARDO TREVISAN/ARQUIVO PESSOAL

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