A busca por flexibilidade
Estudo mostra que fazer o próprio horário é o que leva metade das mulheres a empreender; 30% criam negócio para ter mais tempo com a família, como Márcia Delatorre (foto), da Casa de Bolos
Estudo da Rede Mulher Empreendedora (RME), entidade de apoio ao empreendedorismo feminino, aponta que a cada 100 empresas abertas no Brasil, 52 são lideradas por mulheres.
A pesquisa, realizada em agosto e setembro de 2017, indica que 79% delas possuem nível superior ou mais, 55% têm filhos, 44% são chefes de família, 61% são casadas e a idade média ao empreender era 38,7 anos.
O estudo ouviu 1.365 empreendedoras de todo o Brasil e também apurou o motivo que levou essas mulheres a criarem o negócio. A flexibilidade de horário impulsionou 50% delas e 30% alegaram o desejo de ter mais tempo com a família.
“É importante deixar claro que a busca por flexibilidade de horário e o desejo de estar mais perto da família e dos filhos é quase uma pegadinha. Eu passei por isso e desde então, acompanho esse movimento de mulheres deixando o mundo corporativo para abrir o próprio negócio”, conta a fundadora da RME, Ana Fontes.
De acordo com ela, a flexibilidade de horário é um fato, mas em pouco tempo as empreendedoras constatam que para o negócio dar certo devem se dedicar e trabalhar muito.
“Independentemente do tempo de dedicação ao negócio, as mães empreendedoras conquistam liberdade para administrar o tempo. Hoje, tenho a flexibilidade, mas também a responsabilidade e preciso compensar momentos de ausência de alguma forma, porque o negócio depende de mim.”
Antes de se tornar franqueada da Casa de Bolos, a administradora Márcia Delatorre atuou no mercado formal por 22 anos. “Eu liderava equipe com 70 pessoas na área de facilities. O ambiente era um pouco hostil, com muitas cobranças e pouca flexibilidade. Eu estava na segunda gestação e sabia que as coisas ficariam mais complicadas quando o bebê nascesse. Empreender foi uma alternativa.”
Márcia diz que realmente conquistou mais tempo com a família. “Foi uma mudança positiva. É claro que ter menos trabalho não costuma acontecer com quem empreende, mas tenho muito mais flexibilidade e posso estar com meus filhos quando há uma necessidade maior. Também podemos tirar momentos de descanso em dias alternativos, coisa que no mundo corporativo não seria possível.”
A empresária diz que o sonho de empreender atingiu várias pessoas da família. “Hoje, minhas duas irmãs, meu irmão, meu marido e meu cunhado estão no negócio. Temos cinco unidades. Trabalhamos juntos e crescemos juntos.”
Márcia aplicou a experiência corporativa ao negócio, para que a operação ficasse bem estruturada. Segundo ela, quem pensa em empreender costuma ser alguém que gosta de desafios. Ela recomenda que antes de definir a área de atuação, a pessoa avalie bem o que quer e busque muitas informações.
“Para tocar o negócio é preciso grande dedicação, muito foco, amor e respeito pelo que faz. Uma coisa é estar no mundo corporativo e receber relatórios prontos para analisar, outra é ser dona de um negócio e, caso seja necessário, estar disposta até a lavar o banheiro, porque no começo não dá para escolher as tarefas. Tem de ter estrutura emocional. Também é importante não focar na questão financeira. Se preocupe em desempenhar um bom trabalho, porque o resultado financeiro é consequência disso.”
Lívia Gress de Oliveira aproveitou o período de licença maternidade para elaborar o seu plano de negócio. “Durante a licença, o mercado de trabalho no Rio de Janeiro ficou muito ruim, principalmente na área de óleo e gás, na qual eu atuava”, conta a franqueada da escola Makevator Service. “Muitas pessoas foram demitidas e concluí que era grande a chance de ser dispensada quando retornasse ao trabalho. Vi que era o momento de dar um rumo diferente à minha carreira para ter mais tempo para acompanhar o crescimento da minha filha.”
Hoje, ela tem a possibilidade de distribuir o seu tempo como lhe convém. “Não que eu tenha mais tempo, mas tenho como me organizar melhor. Fico com minha filha parte da manhã, antes de levá-la à creche. Quando ela tem médico, não preciso pedir autorização para ninguém para levá-la à consulta, basta remanejar minha agenda, porque como dona do negócio devo estar sempre presente.”
Ela diz que está satisfeita com a escolha. “Também posso acompanhar meu marido em algumas viagens profissionais, coisa que antes era impossível. Mas minha dedicação é muito maior. Costumo trabalhar aos sábados, em alguns dias fico até às 22h na loja e uso os domingos para fazer pauta de reunião.”
Lívia conta que o carro-chefe da Makevator é a formação profissional em maquiagem, mas também oferece cursos de designer de penteados e de sobrancelhas, alongamento de cílios e cursos de aperfeiçoamento em todas essas áreas.
Segundo ela, a opção por essa área de atuação ocorreu porque já tinha feito curso de maquiagem. “Nos finais de semana, já estava atuando como maquiadora em ensaios fotográficos e produtoras, e também atendia clientes particulares. Investi no mercado da beleza porque é um trabalho que me traz satisfação pessoal e profissional, sensação que já tinha perdido na área em que atuava.”