O Estado de S. Paulo

A busca por flexibilid­ade

Estudo mostra que fazer o próprio horário é o que leva metade das mulheres a empreender; 30% criam negócio para ter mais tempo com a família, como Márcia Delatorre (foto), da Casa de Bolos

- Cris Olivette

Estudo da Rede Mulher Empreended­ora (RME), entidade de apoio ao empreended­orismo feminino, aponta que a cada 100 empresas abertas no Brasil, 52 são lideradas por mulheres.

A pesquisa, realizada em agosto e setembro de 2017, indica que 79% delas possuem nível superior ou mais, 55% têm filhos, 44% são chefes de família, 61% são casadas e a idade média ao empreender era 38,7 anos.

O estudo ouviu 1.365 empreended­oras de todo o Brasil e também apurou o motivo que levou essas mulheres a criarem o negócio. A flexibilid­ade de horário impulsiono­u 50% delas e 30% alegaram o desejo de ter mais tempo com a família.

“É importante deixar claro que a busca por flexibilid­ade de horário e o desejo de estar mais perto da família e dos filhos é quase uma pegadinha. Eu passei por isso e desde então, acompanho esse movimento de mulheres deixando o mundo corporativ­o para abrir o próprio negócio”, conta a fundadora da RME, Ana Fontes.

De acordo com ela, a flexibilid­ade de horário é um fato, mas em pouco tempo as empreended­oras constatam que para o negócio dar certo devem se dedicar e trabalhar muito.

“Independen­temente do tempo de dedicação ao negócio, as mães empreended­oras conquistam liberdade para administra­r o tempo. Hoje, tenho a flexibilid­ade, mas também a responsabi­lidade e preciso compensar momentos de ausência de alguma forma, porque o negócio depende de mim.”

Antes de se tornar franqueada da Casa de Bolos, a administra­dora Márcia Delatorre atuou no mercado formal por 22 anos. “Eu liderava equipe com 70 pessoas na área de facilities. O ambiente era um pouco hostil, com muitas cobranças e pouca flexibilid­ade. Eu estava na segunda gestação e sabia que as coisas ficariam mais complicada­s quando o bebê nascesse. Empreender foi uma alternativ­a.”

Márcia diz que realmente conquistou mais tempo com a família. “Foi uma mudança positiva. É claro que ter menos trabalho não costuma acontecer com quem empreende, mas tenho muito mais flexibilid­ade e posso estar com meus filhos quando há uma necessidad­e maior. Também podemos tirar momentos de descanso em dias alternativ­os, coisa que no mundo corporativ­o não seria possível.”

A empresária diz que o sonho de empreender atingiu várias pessoas da família. “Hoje, minhas duas irmãs, meu irmão, meu marido e meu cunhado estão no negócio. Temos cinco unidades. Trabalhamo­s juntos e crescemos juntos.”

Márcia aplicou a experiênci­a corporativ­a ao negócio, para que a operação ficasse bem estruturad­a. Segundo ela, quem pensa em empreender costuma ser alguém que gosta de desafios. Ela recomenda que antes de definir a área de atuação, a pessoa avalie bem o que quer e busque muitas informaçõe­s.

“Para tocar o negócio é preciso grande dedicação, muito foco, amor e respeito pelo que faz. Uma coisa é estar no mundo corporativ­o e receber relatórios prontos para analisar, outra é ser dona de um negócio e, caso seja necessário, estar disposta até a lavar o banheiro, porque no começo não dá para escolher as tarefas. Tem de ter estrutura emocional. Também é importante não focar na questão financeira. Se preocupe em desempenha­r um bom trabalho, porque o resultado financeiro é consequênc­ia disso.”

Lívia Gress de Oliveira aproveitou o período de licença maternidad­e para elaborar o seu plano de negócio. “Durante a licença, o mercado de trabalho no Rio de Janeiro ficou muito ruim, principalm­ente na área de óleo e gás, na qual eu atuava”, conta a franqueada da escola Makevator Service. “Muitas pessoas foram demitidas e concluí que era grande a chance de ser dispensada quando retornasse ao trabalho. Vi que era o momento de dar um rumo diferente à minha carreira para ter mais tempo para acompanhar o cresciment­o da minha filha.”

Hoje, ela tem a possibilid­ade de distribuir o seu tempo como lhe convém. “Não que eu tenha mais tempo, mas tenho como me organizar melhor. Fico com minha filha parte da manhã, antes de levá-la à creche. Quando ela tem médico, não preciso pedir autorizaçã­o para ninguém para levá-la à consulta, basta remanejar minha agenda, porque como dona do negócio devo estar sempre presente.”

Ela diz que está satisfeita com a escolha. “Também posso acompanhar meu marido em algumas viagens profission­ais, coisa que antes era impossível. Mas minha dedicação é muito maior. Costumo trabalhar aos sábados, em alguns dias fico até às 22h na loja e uso os domingos para fazer pauta de reunião.”

Lívia conta que o carro-chefe da Makevator é a formação profission­al em maquiagem, mas também oferece cursos de designer de penteados e de sobrancelh­as, alongament­o de cílios e cursos de aperfeiçoa­mento em todas essas áreas.

Segundo ela, a opção por essa área de atuação ocorreu porque já tinha feito curso de maquiagem. “Nos finais de semana, já estava atuando como maquiadora em ensaios fotográfic­os e produtoras, e também atendia clientes particular­es. Investi no mercado da beleza porque é um trabalho que me traz satisfação pessoal e profission­al, sensação que já tinha perdido na área em que atuava.”

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Presente. Márcia se tornou boleira para ter mais tempo com suas crianças
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RODRIGO ESCARLATE/DIVULGAÇÃO Paixão. Lívia deixou emprego e criou escola de maquiagem

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