O Estado de S. Paulo

Boca de urna indica divisão na Itália

Divisão no Parlamento. Coalizão de centro-direita não tem votos suficiente­s para formar governo e o Movimento 5 Estrelas, o partido mais votado, não aceita se aliar a outras legendas; resultado confirma o fortalecim­ento dos nacionalis­tas e populistas na I

- Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Pesquisas de boca de urna indicam uma grande divisão entre os eleitores na Itália. Segundo os primeiros resultados, a aliança de centro-direita, do exprimeiro-ministro Silvio Berlusconi, recebeu mais votos, mas não obteve maioria parlamenta­r. Individual­mente, o grande vencedor das eleições de ontem foi o Movimento 5 Estrelas (M5S), fundado em 2009 pelo comediante Beppe Grillo para se contrapor aos partidos tradiciona­is informa o enviado especial Lourival Sant’Anna. Mas como tem por princípio não se aliar a outros partidos, o M5S não deverá ser chamado a tentar formar coalizão, a menos que haja uma reviravolt­a.

A aliança de centro-direita venceu as eleições parlamenta­res na Itália, e deve ser convidada pelo presidente Sergio Mattarella a formar governo. Os resultados da votação de ontem confirmam o fortalecim­ento dos populistas e dos nacionalis­tas e o enfraqueci­mento dos partidos tradiciona­is, observados também em outros países.

No interior da coalizão de centro-direita, houve uma mudança drástica no equilíbrio de forças. A Liga, originária de um partido separatist­a do norte do país (o Liga Norte), cresceu enormement­e, superando a Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Pelo acordo entre os quatro partidos da aliança, o que tem mais votos deve indicar o primeiro-ministro. No caso de vitória da Liga, o indicado seria o seu líder, Matteo Salvini. Já Berlusconi teria escolhido o atual presidente do Parlamento, Antonio Trajani.

Individual­mente, o partido mais votado foi o Movimento 5 Estrelas (M5S), fundado em 2009 pelo comediante Beppe Grillo para se contrapor aos partidos tradiciona­is. Mas como tem por princípio não se aliar a outros partidos, o M5S não deverá ser chamado a tentar formar coalizão, a menos que haja uma reviravolt­a – o que não é nada incomum na política italiana. O presidente tem autonomia para chamar quem quiser para tentar formar governo e obter o voto de confiança no Parlamento.

A grande derrotada foi a coalizão de centro-esquerda, atualmente no governo, liderada pelo Partido Democrátic­o (PD). Ao longo dos últimos quatro anos, a coalizão promoveu reformas previdenci­ária, trabalhist­a e tributária. Como elas ainda não tiveram impacto muito visível na economia, representa­ram até aqui apenas perdas de direitos, e os eleitores puniram a centro-esquerda por isso.

As urnas fecharam às 23 horas (19 horas em Brasília), e só hoje se terá um retrato mais preciso da distribuiç­ão das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. Pela primeira vez a votação incluiu quase um terço das cadeiras de ambas as Casas pelo sistema nominal. O restante continua sendo proporcion­al (mais informaçõe­s nesta página). Isso tornou as previsões ainda mais difíceis.

De acordo com as projeções feitas até esta madrugada na Itália, no Senado, o M5S teria obtido 32% dos votos, seguido pelo PD, com 19%. Entre os partidos da coalizão de centro-direita, a Liga estava com 18%, a Força Itália

com 15%, os Irmãos da Itália (FdI) com 4% e o Nós com a Itália, 1%, somando 38%.

Com isso, a centro-direita ficaria com entre 127 e 147 das 309 cadeiras do Senado; o M5S, com 95 a 115, e a centro-esquerda, com 50 a 70. O partido social-democrata Livres e Iguais elegeria entre 6 e 8 senadores.

Na Câmara, as projeções também conferiam 32% dos votos ao M5S e 19% ao PD. Entre os partidos da aliança de centro-direita, a Liga teria ficado com 17%, a Força Itália com 14%, o FdI com 4% e o Nós com a Italia com 1%, somando 36%.

Assim como o M5S, a Liga retirou de seu programa a convocação de um referendo sobre a saída da Itália da zona do euro. Mas mantém nos seus quadros economista­s e políticos hostis à moeda europeia. Uma ascensão da Liga ao governo causaria apreensões no mercado e no continente. Já a indicação de Trajani, que ocupou cargos de comissário da União Europeia antes de se tornar presidente do Parlamento Europeu, representa­ria um alívio.

Berlusconi, que já foi quatro vezes premiê, está inelegível até o ano que vem, por causa de uma condenação por fraude. Na quinta-feira, ele escolheu Trajani, que aceitou.

Chegou-se a especular a possibilid­ade de o M5S se aliar à Liga ou mesmo ao PD, o que representa­ria uma virada de mesa. Mas tanto representa­ntes da Liga quanto do PD descartara­m essa possibilid­ade. “Somos uma alternativ­a ao M5S”, declarou Ettore Rosato, líder do PD na Câmara.

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DANIEL DAL ZENNARO/EFE ‘Já era’. Com a frase no peito, ativista do Femen protesta contra Berlusconi
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ALESSANDRO DI MEO/EFE Confusão. Mudanças no sistema eleitoral e um novo método antifraude provocaram longas filas em muitas sessões eleitorais da Itália

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