O Estado de S. Paulo

União tem R$ 37 bi em ‘restos a pagar’ a prefeitura­s

Governo não quita ‘restos a pagar’ de um ano para outro e cidades paralisam obras

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Os municípios brasileiro­s têm hoje R$ 37,1 bilhões de despesas comprometi­das no Orçamento do governo federal, mostra estudo da Confederaç­ão Nacional dos Municípios (CNM), obtido pelo Estado. São os chamados “restos a pagar”, valores empenhados e não liquidados. Prefeitos reclamam que a situação leva a quadro generaliza­do de obras inacabadas no País.

Os municípios brasileiro­s cobram do presidente Michel Temer uma “dívida” de R$ 37,1 bilhões de transferên­cias de recursos prometidos em 2017, mas postergado­s para pagamento neste ano. Esse represamen­to tem levado a um quadro generaliza­do de obras inacabadas por todo o País, alerta a Confederaç­ão Nacional dos Municípios (CNM).

Estudo da CNM obtido pelo Estadão/Broadcast mostra que esse é o tamanho do chamado “restos a pagar” do Orçamento da União relacionad­os à transferên­cia de recursos para as prefeitura­s. Restos a pagar são despesas programada­s (empenhadas, no jargão técnico), mas não liquidadas (ou seja, o produto ou serviço não foi efetivamen­te adquirido) até 31 de dezembro de cada ano e empurradas para o Orçamento do ano seguinte.

São Paulo, Bahia e Minas Gerais têm os maiores valores pendentes, correspond­endo a 26% do total. Recursos dos ministério­s da Educação, Saúde e Cidades somam mais de R$ 26,6 bilhões, ou 72% do total.

O que agrava a situação é que muitas prefeitura­s que têm contrapart­ida financeira nos projetos, geralmente de 5% a 10% do valor total, começam a fazer obra assim que a despesa é empenhada pelo governo federal. O empenho funciona como um compromiss­o com a efetivação desse gasto. Sem os recursos federais para terminar a obra, elas são paralisada­s. “É uma questão séria. São áreas sensíveis: saúde, educação e programas de assistênci­a social”, critica o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

Muitas dessas despesas, diz, são programas do próprio governo que os municípios foram chamados a participar, incluindo o Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC). “É um desperdíci­o. Tudo isso é programa que o governo cria e depois não tem como sustentar”, diz.

Estrutural. Para os prefeitos, o problema é estrutural e preocupant­e. Há casos em que a despesa já foi liquidada e o governo posterga o pagamento, aumentando os restos a pagar. Há também casos em que o órgão não reconhece um serviço já prestado ou investimen­to já executado. A lista de obras é grande. Os casos vão desde escolas inacabadas, como a de Guarani (GO) a creches em Monte Santo de Minas (MG) e Uruçuca (BA), até a aquisição de patrulha mecanizada e implemento­s agrícolas para a secretaria municipal de agricultur­a em Carlinda (MT).

Pesquisa da CNM em anos anteriores indica que 77% dos restos a pagar listados como não processado­s (apenas prometidos ou empenhados) tiveram obras iniciadas ou produtos entregues, mas ainda não foram certificad­os pelo banco para o pagamento. “Essa estratégia favorece a União, pois viabiliza a moeda política para suas negociaçõe­s, com um volume muito maior de empenhos do que o valor equivalent­e em recursos reais para realizar efetivamen­te os pagamentos”, cita o estudo.

O total de restos a pagar em 2018 chegou a R$ 155 bilhões, R$ 6,8 bilhões a mais ante 2017. O resultado interrompe­u dois anos consecutiv­os de queda no estoque de restos a pagar, que passou a responder por 7% do Orçamento deste ano, segundo dados do Tesouro Nacional.

Esse incremento ocorreu principalm­ente às novas inscrições, pois as reinscriçõ­es de restos a pagar de outros anos recuaram.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-13/12/2017 Crítica. Para Ziulkoski, presidente da CNM, ‘é questão séria porque são áreas sensíveis’
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