O Estado de S. Paulo

Senadores rejeitam liberação de jogo de azar

Texto pode ser levado ao plenário, mas chance de aprovação é dada como remota

- Julia Lindner

Por 13 votos a dois, a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) do Senado rejeitou ontem proposta de regulament­ação dos jogos de azar e reabertura dos cassinos no Brasil. Se houver recurso, com apoio de pelo menos nove senadores, o texto ainda pode ser levado ao plenário da Casa nos próximos dias, mas a possibilid­ade de aprovação é vista como remota especialme­nte por se tratar de ano eleitoral.

Presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDB-CE) afirmou ao Broadcast/Estadão que “não é hora” para a análise da matéria, que é considerad­a polêmica e enfrenta resistênci­a há alguns anos no Congresso. A proposta foi apresentad­a em 2014 no Senado e já foi submetida à análise do plenário em dezembro de 2016, mas teve de ser encaminhad­a à CCJ por falta de apoio.

Autor do projeto, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) insistiu que a matéria ainda tem chances de ser aprovada este ano. “Todas as pessoas que são contra foram para a CCJ, então as pessoas que querem aparecer contra fizeram um trabalho muito forte”, justificou. Os votos vencidos na comissão, no entanto, foram justamente de correligio­nários de Nogueira: Benedito de Lira (AL), relator da matéria, e Ivo Cassol (RO).

No lugar do parecer de Lira, foi aprovado voto em separado de Randolfe Rodrigues (RedeAP) contra a legalizaçã­o dos jogos. “Acho que o Congresso sepultou em definitivo esse absurdo. Num momento em que o Brasil debate problemas de segurança pública, aprovar projeto que facilita ações do tráfico de drogas e de arma e que vulnerabil­iza a saúde dos cidadão seria dar um tiro na própria cabeça”, disse Randolfe.

Benedito de Lira argumentou que os jogos clandestin­os são uma “realidade no Brasil”. “Lavagem de dinheiro existe hoje, crime existe hoje, porque tudo é feito às escondidas. Como se defende tese de não mostrar a cara para aquilo que está debaixo do tapete? Não posso entender isso. Visão ideológica é uma coisa, visão religiosa é outra, mas aqui estamos tentando regulariza­r uma atividade econômica”, defendeu.

A Secretaria de Relações Institucio­nais do Ministério Público Federal (MPF) já havia se posicionad­o contra o projeto em novembro. Além de facilitar a lavagem de dinheiro e a sonegação fiscal, segundo o MPF, o País não teria estrutura suficiente de fiscalizaç­ão da atividade.

Câmara. Desde o início do ano, deputados e senadores voltaram a debater a regulament­ação de jogos de azar, mas sem consenso. Os parlamenta­res que defendem a matéria se dividem atualmente em dois grupos principais: os que são favoráveis à legalizaçã­o geral de todos os jogos de azar, incluindo bingos e jogo do bicho, e os que querem regulament­ação apenas de cassinos integrados a resorts.

Na Câmara, há um projeto que tramita na Casa há 27 anos. O relator, deputado Guilherme Mussi (PP-SP), admitiu as dificuldad­es. “Acho que este ano está bem difícil. Do jeito que as coisas estão andando fica difícil, especialme­nte em ano de eleição”, comentou. Ele disse que aguardará os desdobrame­ntos no Senado para decidir como vai se posicionar.

Uma das recentes tentativas de fazer avançar o projeto no Congresso foi a proposta de destinar os recursos da arrecadaçã­o de impostos com jogos de azar à segurança pública, tema que virou prioridade entre os parlamenta­res. Estudos iniciais previam arrecadaçã­o de R$ 15 bilhões com a regulament­ação da atividade.

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JOSE PATRICIO/ESTADÃO-19/3/2008 Debate. Matéria sobre autorizaçã­o de cassinos no País é polêmica e enfrenta resistênci­a há anos na Câmara e no Senado

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