O Estado de S. Paulo

‘As parcerias são boas para os dois lados’

Para um dos principais especialis­tas do País, inovação depende da vontade de empresas e ajuda das universida­des

- / C.A.

Um dos principais especialis­tas em inovação do Brasil, o engenheiro Carlos Américo Pacheco conhece bem o poder que as parcerias entre academia e empresas têm para acelerar o processo de inovação. Ele já foi secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, presidente do conselho da Financiado­ra de Estudos e Projetos (Finep), reitor do Instituto Tecnológic­o da Aeronáutic­a (ITA) – celeiro de engenheiro­s e um dos principais parceiros de pesquisa e desenvolvi­mento da gigante Embraer – e hoje está na Fapesp, onde tem o papel de ajudar, por meio dos programas da instituiçã­o, empresas e universida­des a se unirem. Ao Estado, ele falou sobre como o trabalho em conjunto entre instituiçõ­es e organizaçõ­es pode ser benéfico para todos.

As parcerias entre empresas e universida­des são a chave para impulsiona­r a inovação no País? Não são a chave, mas uma das coisas importante­s a serem feitas. Em qualquer lugar do mundo, as empresas são o principal ator do sistema de inovação. A academia tem um papel importante, de formar gente para as empresas e de fazer pesquisas em cooperação. Mas são as estratégia­s das empresas que vão definir o sucesso dessas parcerias.

A inovação não pode nascer na universida­de e depois chegar ao mercado?

Esse é o modelo linear, em que a pesquisa começa na bancada, é desenvolvi­da, escalonada e depois chega ao mercado. Mas esse sistema não funciona. Poucas das patentes feitas nas universida­des em qualquer lugar do mundo acabam gerando bons negócios. Por isso, as parcerias entre universida­des e empresas são boas para os dois lados. A universida­de tem a opção de fazer pesquisas interessan­tes, a partir dos desafios concretos das empresas e pode engajar estudantes nos problemas. E é bom para as empresas, porque uma parte grande desse tipo de pesquisa exploratór­ia é difícil de fazer de forma competitiv­a, já que as companhias não costumam ter infraestru­tura de laboratóri­o.

As empresas têm procurado mais as universida­des no Brasil? Na maioria das médias e grandes empresas, é evidente para os dirigentes que a inovação é um aspecto-chave da competição. Nos últimos dez anos evoluiu muito. Antes, a agenda de inovação era pequena no discurso empresaria­l, inclusive das associaçõe­s. Mas é preciso lembrar que as empresas inovam porque precisam sobreviver no mercado ou atender às suas estratégia­s. O que elas fazem concretame­nte depende do quão importante o desenvolvi­mento tecnológic­o é para sua estratégia competitiv­a.

O que pode ser feito por governo, universida­des e empresas para aumentar a inovação?

Tem um conjunto de coisas importante­s que podem ser feitas. Vários países têm criado o que se chama de projetos mobilizado­res, em que selecionam temas, assuntos e tecnologia­s. O governo cria planos para impulsiona­r essas áreas, como “internet das coisas” ou inteligênc­ia artificial, em que empresas, universida­des e institutos estejam associados para impulsiona­r o setor. Talvez essa seja uma das funções mais importante­s do governo, que também pode ajudar melhorando a regulação, fomentando pesquisas e oferecendo crédito para as empresas inovarem.

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JFDIORIO/ESTADÃO

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