O Estado de S. Paulo

Candidatur­a do MDB divide núcleo político de Temer

Ministros e emedebista­s divergem sobre estratégia eleitoral: apoiar a tentativa de reeleição ou o projeto de Meirelles

- Vera Rosa Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Os conselheir­os mais próximos do presidente Michel Temer estão divididos quanto ao projeto eleitoral do partido para este ano. Se todos neste momento concordam que a sigla deve voltar a ter um presidenci­ável, eles não se entendem quanto ao nome que deve estar na urna em outubro. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Wellington Moreira Franco, sonha ver Temer candidato à reeleição. Já o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, trabalha pelo nome do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Padilha conta com apoio do presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR), para quem Meirelles reúne credenciai­s para unir o centro político e ser o candidato do governo, migrando do PSD para o MDB. A discussão sobre a candidatur­a de Temer à reeleição ganhou força após o governo decretar a intervençã­o na segurança pública do Rio, no mês passado.

Amigo do presidente Michel Temer desde os anos 1990, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Wellington Moreira Franco, é hoje um dos principais defensores, no Palácio do Planalto, da candidatur­a do chefe a um novo mandato. Em público, ele desconvers­a, mas, nos bastidores, não apenas tem simpatia pela ideia como trabalha com afinco para que o projeto se concretize.

A proximidad­e do ministro com o presidente causa ciúmes dentro e fora do Planalto. O gabinete de Moreira fica no quarto andar do Planalto. Na outra ponta, no mesmo andar, fica o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Os dois integram a direção do MDB, fazem parte do grupo de Temer e, ao lado do presidente, são alvo de inquérito aberto para apurar repasses de R$ 10 milhões da Odebrecht para o partido, em 2014.

Mesmo assim, Moreira e Padilha têm um relacionam­ento protocolar e não é raro protagoniz­arem divergênci­as. Conhecido por fazer planilhas certeiras com o placar de votações no Congresso, Padilha, por sua vez, parece mais pragmático em relação à sucessão presidenci­al. O chefe da Casa Civil tem a mesma opinião do presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), para quem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reúne credenciai­s para unir o centro político e ser o candidato do governo, migrando do PSD para o MDB.

Diante dos holofotes, porém, Padilha diz apenas que a base do governo, liderada pelo MDB, deve ter um único concorrent­e ao Planalto. “Meirelles faz uma justa postulação, mas nós temos de ter a competênci­a de chegar em junho e verificar quem possui melhores perspectiv­as para ser candidato”, disse Padilha ao Estado.

Intervençã­o. A discussão sobre a candidatur­a de Temer à reeleição ganhou força após o governo decretar a intervençã­o na segurança pública no Rio, no mês passado. Mesmo com o alto índice de rejeição do presidente e 1% nas pesquisas de intenção de voto, auxiliares diretos, como o marqueteir­o Elsinho Mouco, dizem acreditar numa “mudança de vento” com o foco do governo na segurança pública. Moreira foi um dos que aconselhar­am Temer a convocar as Forças Armadas para a intervençã­o federal no Rio.

A agenda negativa, porém, voltou a rondar o Palácio do Planalto após novos reveses no Judiciário. No início do mês, Temer foi incluído em inquérito que apura o repasse da Odebrecht – no qual já figuram Moreira e Padilha – e, na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso,

do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a quebra de seu sigilo bancário na investigaç­ão sobre irregulari­dades envolvendo o chamado Decreto dos Portos, editado em maio do ano passado.

Na lista dos conselheir­os de Temer figura ainda o ex-presidente José Sarney (MDB). Em recente conversa com ele e Moreira, Sarney afirmou que o MDB precisava ter um candidato para chamar de seu na campanha e impedir o governo de ser espancado na arena eleitoral.

Disse que seu maior arrependim­ento, naquela época, foi não ter apoiado ninguém. “Precisava de um candidato para defender o meu legado”, insistiu o ex-presidente, que aconselhou Temer a não repetir o “erro” quase três décadas depois. Até no Planalto, porém, o MDB é chamado de “franquia” política, que pode ter um palanque diferente em cada Estado.

Base. O recado de Sarney tem como pano de fundo a tentativa de pré-candidatos de partidos que integram a base aliada de se afastarem da imagem do governo. Além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se lançou na disputa presidenci­al na semana passada com o discurso de independên­cia em relação

à atual gestão.

“A obrigação de defender o legado é do governo, não da minha candidatur­a. Para defender o legado do governo, não estou disposto”, disse ele ao ter seu nome oficializa­do na corrida eleitoral, na quinta-feira passada, em Brasília.

Para aliados na Câmara, como o líder do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), mesmo que a ação no Rio renda frutos à imagem do presidente, uma candidatur­a dependerá ainda de outros fatores.

“Se o governo conseguir, não é nem só fazer dar certo, mas que essa percepção seja transforma­da em um fortalecim­ento da imagem do presidente, evidenteme­nte que ele vai ter uma outra posição, mas ele tem dito que não é candidato. Se isso se configurar, ele no mínimo será um grande eleitor”, disse. “Na política, a percepção do eleitor é imprevisív­el. Você pode ter aí uma reação que pode mudar isso. Vamos aguardar os fatos. Nada em política é irreversív­el.”

Segundo o deputado do PP, uma candidatur­a única do centro vai depender da capacidade e do altruísmo dos líderes dos partidos. “O que a gente tem visto na política é que as pessoas têm se preocupado às vezes com os projetos pessoais”, afirmou Ribeiro. / COLABORARA­M DAIENE CARDOSO e ISADORA PERON

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ANDRE DUSEK/ESTADAO-17/11/2015 Aliados. Jucá, Padilha, Sarney, Moreira e Temer, então vice-presidente, durante evento do MDB em novembro de 2015

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