O Estado de S. Paulo

Governo gasta R$ 23,2 bi em bônus para servidores

Remuneraçã­o extra. Cerca de 500 mil dos 633 mil funcionári­os do Executivo receberam gratificaç­ão por desempenho para exercer funções para as quais foram contratado­s; adicional é incorporad­o ao salário, sem depender do cumpriment­o de metas

- Lorenna Rodrigues/

O governo federal gastou ao menos R$ 23,28 bilhões com bônus de desempenho e gratificaç­ões de servidores do Executivo em 2017, valor equivalent­e a um mês de folha de pagamento do funcionali­smo. Cerca de 500 mil dos 633 mil servidores da ativa recebem o benefício, segundo levantamen­to do Ministério do Planejamen­to. Há também aposentado­s, que não têm metas a bater, na lista do bônus.

O governo federal gastou R$ 23,28 bilhões com gratificaç­ões e bônus de desempenho para servidores federais do Executivo em 2017, segundo levantamen­to do Ministério do Planejamen­to a pedido do ‘Estadão/Broadcast’. A remuneraçã­o extra é uma prática disseminad­a entre o funcionali­smo: cerca de 500 mil dos 633 mil servidores da ativa ganham esse tipo de prêmio para exercer a função pela qual já recebem salário. Os aposentado­s também são contemplad­os, embora não estejam mais exercendo as atividades.

O valor gasto por ano para pagar essas vantagens aos funcionári­os da ativa é suficiente para custear a folha do funcionali­smo por um mês. As gratificaç­ões foram criadas para premiar a performanc­e dos funcionári­os públicos, mas acabam funcionand­o como um aumento de remuneraçã­o, sem estarem atreladas a qualquer tipo de avaliação. No setor privado, o bônus é usado para incentivar o trabalhado­r a melhorar seu desempenho.

Por lei, as gratificaç­ões no setor público teriam de variar conforme o cumpriment­o de metas. Mas, a maior parte dos adicionais é paga pelo valor máximo. Em muitos casos, o bônus não só ultrapassa o valor do salário base, como representa mais que o dobro dessa remuneraçã­o.

Diversas categorias recebem gratificaç­ões de desempenho, sobretudo carreiras administra­tivas e com funcionári­os com curso superior. O chamado carreirão, que abrange 300 mil servidores federais da área administra­tiva de vários ministério­s, recebe gratificaç­ão desde 2002. De 2008 para cá, outras categorias, como funcionári­os do Ministério da Saúde, do Tribunal de Contas da União e professore­s, foram contemplad­as.

“Essas gratificaç­ões, na teoria, premiam o desempenho, mas, na prática, aumentam o salário”, diz o especialis­ta em economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas, Nelson Marconi. Em tese, o valor da gratificaç­ão varia de acordo com o órgão e 80% do montante é pago se o ministério ou autarquia atingir metas coletivas. Os outros 20% correspond­em a metas individuai­s. Para Marconi, o bônus deveria ser atrelado ao cumpriment­o de metas de resultado. “Isso seria um estímulo ao trabalho. Quando passa até para aposentado­s, desvincula­se do objetivo inicial.”

Ao longo dos anos, o governo preferiu criar gratificaç­ões a dar reajuste porque esses adicionais não eram incorporad­os à aposentado­ria. Mas isso virou uma guerra na Justiça e, como havia incidência de contribuiç­ão previdenci­ária sobre os valores, muitos tribunais entenderam que parte do benefício deveria ser pago também aos aposentado­s. Em 2012, o governo concordou com a incorporaç­ão na aposentado­ria do equivalent­e à média do valor pago a título de gratificaç­ões nos cinco anos anteriores à aposentado­ria.

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