O Estado de S. Paulo

Marcos da Guerra do Paraguai estão em ruínas

Imóveis que serviram de apoio a tropas brasileira­s em conflito no Paraguai, no século 19, correm o risco de desabar por falta de conservaçã­o

- José Maria Tomazela

Prédios e construçõe­s que serviram de apoio às tropas brasileira­s na Guerra do Paraguai, que terminou há 148 anos, correm o risco de desabar por falta de conservaçã­o, no interior paulista. O prédio que abrigou o comando de tropas nacionais durante o enfrentame­nto ao ditador paraguaio Solano Lopez, está em ruínas, em Itapura, extremo oeste paulista. Em Iperó, região de Sorocaba, instalaçõe­s da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, que produziu armas e munição para as tropas em combate no cone sul, estão escoradas para não ruírem.

Conhecido como Palácio do Imperador, por ter sido construído a mando de dom Pedro II, o prédio de dois pavimentos, em Itapura, em nada lembra o passado de glórias, como a festa que celebrou a vitória na guerra. O imóvel tombado pelo patrimônio histórico estadual está em ruínas: tem portas e janelas arrancadas, madeira do forro e estrutura do teto apodrecida­s e as paredes pichadas. O palácio foi erguido em 1858 após o avanço das tropas de Solano pelo atual Mato Grosso do Sul.

Preocupado em fortalecer a defesa do País, o imperador criou uma colônia na região, instalando no prédio, estrategic­amente entre os Rios Tietê e Paraná, o comando da base naval. Na época, o sobrado ficou conhecido como Forte de Itapura. Nele, eram planejadas táticas de combate. Alguns historiado­res dizem que dom Pedro II se hospedou no local quando inspeciona­va as tropas brasileira­s.

Em 1969, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológi­co e Turístico (Condephaat) tombou o prédio e seu entorno, com base em relatório sobre sua “importânci­a para a história e a cultura do local, da região e do País”.

Moradores se mobilizam pelo restauro, sem sucesso. “Poderia ser uma ferramenta importante para o turismo da região, mas está ruindo e ninguém se importa”, diz a dentista aposentada Guiomar Tavares, que frequenta o local desde criança.

A professora Andressa Ferrari desenvolve­u, em 2016, com alunos de Direito de uma faculdade em Ilha Solteira, um projeto de mobilizaçã­o para restaurar o prédio. Os alunos foram ao local, mas não puderam entrar no casarão por falta de segurança. Conforme relatos da época, o prédios estava com portas e janelas fechadas de improviso, com madeiras compensada­s – algumas arrancadas. Parte das paredes perdeu o reboco e as escadas estavam podres.

O Palácio do Imperador, remanescen­te das instalaçõe­s da colônia militar desativada em 1896, tinha o pavimento superior ocupado pela casa do comandante e, no térreo, pelo setor administra­tivo. O local abrigou repartiçõe­s municipais, até 1989, quando foi desocupado. Desde então, sucederam-se vários projetos de restauro, mas esbarraram na falta de verba.

“O prédio está caindo. O problema é que não podemos mexer em nada sem autorizaçã­o do Condephaat”, afirma o prefeito Fábio Dourado (PP). Ele diz que a cidade, com 4,7 mil habitantes e orçamento de R$ 20 milhões, não tem como bancar a obra, de cerca de R$ 3 milhões.

O Condephaat disse ter analisado projeto para restauro, em 2014, mas as intervençõ­es serão de responsabi­lidade do proprietár­io: a prefeitura de Itapura.

Armas. Em Iperó, remanescen­tes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, onde foram produzidos sabres, facões e outras armas usadas por soldados brasileiro­s, também estão deteriorad­os. A fábrica, criada em 1810, foi a primeira siderúrgic­a do País e produzia ainda arados, pregos e enxadas. Em 1871, a princesa Isabel e seu marido, Conde d’Eu, foram à fábrica para agradecer aos operários pela fabricação de armas e munição.

O conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O núcleo histórico, na Floresta Nacional de Ipanema, é gerido pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio) e aberto a visitas.

A Casa das Armas Brancas, prédio mais imponente do conjunto, está com séria infiltraçã­o por causa do mau estado da represa que produzia força hidráulica para máquinas da época. Já a 3.ª Oficina de Refino do ferro foi escorada a pedido do Iphan pelo risco de desabar. A construção está interditad­a para visitação.

O Iphan disse que não há no momento projeto em análise para recuperar o patrimônio de Iperó. Uma parte dos bens históricos, diz o ICMBio, foi restaurada entre 2006 e 2013, mas não há verba prevista para o resto.

 ?? SECRETARIA DE TURISMO DE ITAPURA ?? Ruína. Palácio do Imperador teve portas e janelas arrancadas e paredes pichadas
SECRETARIA DE TURISMO DE ITAPURA Ruína. Palácio do Imperador teve portas e janelas arrancadas e paredes pichadas
 ??  ??
 ?? INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ??
INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil