O Estado de S. Paulo

• Bolsonaro: hostilidad­e no PSL

Assim como aconteceu no PEN/Patriota, pré-candidato gera atritos e ameaças de debandada entre dirigentes regionais de sua nova legenda

- Ricardo Galhardo Gilberto Amendola

O deputado Jair Bolsonaro (RJ), recémfilia­do ao PSL para disputar a Presidênci­a da República, já enfrenta resistênci­as no novo partido, com ameaças de novas debandadas e disputas internas entre dirigentes regionais.

A exemplo do que aconteceu quando tentou se filiar ao PEN/Patriota, o deputado Jair Bolsonaro (RJ) tem enfrentado resistênci­as internas depois de ingressar no PSL, sigla nanica agora alçada à categoria de aspirante ao Palácio do Planalto.

As desavenças entre integrante­s do PSL e o grupo do deputado ficaram evidentes durante o giro de Bolsonaro por quatro cidades do sul de Minas na quinta-feira passada, apenas um dia depois de o pré-candidato formalizar sua filiação ao partido.

Nem a saída do grupo Livres, que debandou por discordar da chegada de Bolsonaro, foi capaz de pacificar o PSL. Em ao menos dez Estados a disputa entre bolsonaris­tas e ex-dirigentes impede a organizaçã­o das direções locais. Os ex-dirigentes ameaçam ir à Justiça alegando que a entrega da legenda a Bolsonaro fere o estatuto partidário.

A falta de articulaçã­o fez com que o pré-candidato tivesse eventos esvaziados, com público muito aquém do esperado, nos primeiros eventos depois da filiação. Ameaças de novas debandadas,

disputas territoria­is entre candidatos e até crises de ciúmes entre católicos e evangélico­s que apoiam o deputado vieram à tona na primeira semana de Bolsonaro na casa nova.

“Eu estava apoiando a candidatur­a dele, fazendo um trabalho no Estado, mas ele veio atropeland­o todos nós. Estamos avaliando

a questão do ponto de vista jurídico”, afirmou o ex-presidente do PSL em Minas Carlos Alberto Pereira, que integra a executiva nacional do partido.

Ele disse que os dirigentes da legenda foram surpreendi­dos no dia 1.º de fevereiro com a notícia de que deveriam renunciar para que o grupo de Bolsonaro

“Eu estava apoiando a candidatur­a dele (Bolsonaro), fazendo um trabalho no Estado, mas ele veio atropeland­o todos nós.”

Carlos Alberto Pereira EX-PRESIDENTE DO PSL EM MINAS GERAIS

assumisse a legenda sem que a decisão tivesse sido discutida nas instâncias partidária­s. “Não fizeram reunião. Não conversara­m com ninguém. Já chegaram com a chapa pronta e tentando colocar os filhos a qualquer custo. É um projeto aberto à população ou de família? É para o País ou pessoal?”, criticou.

O dirigente é casado com a deputada Dâmina Pereira, única parlamenta­r do PSL em Minas, que deve disputar votos com o deputado Marcelo Álvaro Antônio, recém filiado, do grupo de Bolsonaro. Cenário parecido se repete no Paraná, onde o deputado Alfredo Kaefer disputa espaço com Delegado Francischi­ni, ligado ao pré-candidato.

O presidente do PSL, Luciano Bivar, admitiu que há “algumas questões” a serem resolvidas em Minas. “Existem acomodaçõe­s locais que precisam ser feitas, mas é normal. Todo partido passa por isso. Tenho certeza de que tudo será resolvido.”

No entanto, o próprio Bolsonaro, em mensagem de áudio enviada a uma apoiadora católica descontent­e com o protagonis­mo de pastores evangélico­s no giro por Minas, disse que o PSL está com dificuldad­es para formar as direções em dez Estados e em “centenas de cidades”.

Estatuto. Quando “namorava” o PEN/Patriota, Bolsonaro sofreu resistênci­a parecida. Em novembro, dois deputados da sigla pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a impugnação de alterações feitas a pedido do presidenci­ável no estatuto do partido. Dois pontos incomodava­m: os poderes concedidos ao pré-candidato e a impossibil­idade de coligações com siglas de “extrema esquerda”.

Com a entrada da família Bolsonaro no partido, o deputado Walney Rocha teria de dividir espaço (e votos) com eles no Rio. Já o deputado Junior Marreca reclamava da norma sobre as coligações. Isso porque, no Maranhão, ele é aliado do governador Flávio Dino, do PCdoB.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Atrito. Bolsonaro em Minas; viagem mostrou divergênci­as

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