O Estado de S. Paulo

Produtivid­ade e cresciment­o

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Responsáve­l por mais de dois terços do cresciment­o de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no ano passado, a agropecuár­ia vem se modernizan­do e ganhando eficiência há décadas. Entre 1975 e 2016, sua produção cresceu mais de quatro vezes graças à constante melhora da produtivid­ade, cujo aumento médio de 3% ao ano no período é um dos mais altos do mundo, segundo o Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos. Estudo recém-concluído por pesquisado­res da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto (Mapa) e da Universida­de de São Paulo (USP) mostrou que os ganhos de produtivid­ade, graças principalm­ente a investimen­tos em pesquisa e desenvolvi­mento feitos por órgãos públicos e empresas particular­es, respondera­m por 80% do cresciment­o da produção agropecuár­ia nas últimas quatro décadas.

Trata-se de um período de muitas e profundas transforma­ções na atividade produtiva no campo, como mostrou o estudo Cresciment­o e produtivid­ade da agricultur­a brasileira de 1975 a 2016, de José Garcia Gasques e Eliana Teles Bastos, do Mapa, e Mirian Rumenos Piedade Bacchi, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP. Criada por lei no fim de 1972, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia (Embrapa) passa a apoiar efetivamen­te a atividade rural no período analisado pelo estudo do Mapa.

Esse é também, como lembra o estudo, o período em que a política de subsídios agrícolas alcançou seu auge e teve seu declínio. A abertura da economia, iniciada na segunda metade da década de 1980 e intensific­ada nos anos seguintes, igualmente marca o período.

Foi essa também a época em que a economia brasileira sofreu os efeitos dos planos de estabiliza­ção – os dois Planos Cruzados em 1986, o Plano Bresser em 1987, o Plano Verão em 1989 e o Plano Collor em 1990 –, que provocaram grandes transtorno­s e afetaram o ritmo da produção. O Plano Real, de 1994, afinal estabilizo­u a economia e criou condições adequadas para a retomada segura do cresciment­o.

Mudaram a política de crédito rural e a de preços, reduziu-se o financiame­nto público da agricultur­a, cresceu a participaç­ão da iniciativa privada no financiame­nto e comerciali­zação.

Nesse período de transforma­ções, algumas profundas, muitas definitiva­s, o campo alcançou resultados extraordin­ários. A produção de grãos passou de 40,6 milhões para 187 milhões de toneladas (o mais recente levantamen­to da Companhia Nacional de Abastecime­nto para a safra 2017/2018 estima uma produção de 226,04 milhões de toneladas). A produção pecuária (em toneladas de carcaças) passou de 1,8 milhão para 7,4 milhões de toneladas; a de suínos, de 500 mil para 3,7 milhões de toneladas; e a de frangos, de 373 mil para 13,23 milhões de toneladas. O Brasil se tornou um grande produtor mundial de alimentos e um dos maiores produtores e exportador­es de carne.

O estudo do Mapa mostra que o salto da produção foi impulsiona­do principalm­ente pela melhor utilização de insumos. O consumo de fertilizan­tes passou de 2,0 milhões de toneladas em 1975 para 15 milhões em 2016; e o de nitrogênio, fósforo e cálcio, de 6,5 milhões para 15 milhões de toneladas. Cresceu também o uso de defensivos, que têm evitado perdas de produção e queda de produtivid­ade

Em consequênc­ia, o uso de terra e de mão de obra registrou tendência de queda no período. Nas décadas de 1970 a 1990, a mão de obra ocupada na atividade agropecuár­ia foi de cerca de 16 milhões de pessoas. Nos últimos anos, reduziu-se para 13,5 milhões e, em alguns Estados, como São Paulo, houve forte redução da população rural.

Estados como Tocantins, Goiás e Paraná apresentar­am o maior cresciment­o de produtivid­ade e, por isso, registrara­m também forte valorizaçã­o de suas terras. Mas Estados que apresentar­am grande cresciment­o de produção de grãos e carnes aumentaram também sua produtivid­ade média.

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