‘É PRECISO CORAGEM PARA TOMAR DECISÕES DURAS’
Para o ex-conselheiro de Al Gore e de Tony Blair, os líderes políticos têm de ser visionários para reinventar o setor público
O pesquisador e ex-consultor americano David Osborne, de 66 anos, é uma das principais autoridades internacionais em reforma e inovação na administração pública. Nesta entrevista ao Estado, Osborne diz como é possível melhorar a qualidade dos serviços públicos em meio à crise fiscal. Também afirma que, para promover as reformas necessárias na administração, os líderes políticos têm de ser visionários e ter coragem para tomar decisões duras. A seguir, os principais trechos da entrevista.
• Hoje, há uma forte crítica em relação aos políticos e ao governo no Brasil e em outros países. Há também um grande ceticismo quanto à promoção de mudanças no setor público. O que o senhor pensa sobre isso?
Isso tem a ver com fatores econômicos ligados à globalização e com o desempenho da burocracia estatal. Nas democracias desenvolvidas, acredita-se que é possível melhorar os serviços entregues aos cidadãos, mas essa é uma tarefa muito difícil, que requer uma liderança corajosa. Nos Estados Unidos, o expresidente Bill Clinton e o ex-vice-presidente Al Gore passaram oito anos tentando melhorar a burocracia federal. Mas o comportamento do Clinton (que se envolveu num escândalo sexual com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky) acabou prejudicando muito as reformas. Ainda assim, em algumas áreas, como na educação pública, houve uma melhora significativa – e, quando isso acontece, os cidadãos respondem e a confiança nos líderes políticos aumenta.
• No Brasil, o governo federal tem um grande déficit e muitos Estados e municípios enfrentam uma situação fiscal dramática. Como é possível melhorar os serviços públicos nessa situação?
Muitos governos passaram por situações semelhantes e conseguiram superá-las, quando seus líderes enfrentaram o problema. No Reino Unido, nos governos de Margaret Thatcher e Tony Blair, houve grandes mudanças no setor público. Nos anos 1990, o Canadá gastava mais de 35% do orçamento só para o pagamento dos juros da dívida pública. Aí, realizou grandes reformas, para equacionar uma terrível situação fiscal, e conseguiu restaurar, em boa medida, a confiança no governo. O que torna isso tão difícil de fazer é que, normalmente, essas decisões sofrem oposição de quem será afetado por elas, como os funcionários públicos. Agora, se você gasta mais do que arrecada, mais cedo ou mais tarde terá de reduzir os gastos, o que significa, muitas vezes, cortar o emprego – e os sindicatos dos servidores lutam contra isso. Há também a oposição dos que recebem benefícios do Estado. Como eles representam muitos votos, há receio de mexer nisso. Então, o que nós precisamos é que os nossos líderes tenham coragem de tomar decisões duras para enfrentar o problema.
• Na prática, o que é possível fazer para conseguir entregar mais para a população com os recursos disponíveis?
Há várias possibilidades. Há mais de uma década, quando era sócio de uma pequena empresa de consultoria que não