COM A CRISE, SETOR PRIVADO REDUZ APOIO A PROJETOS
Além da crise fiscal que se espalhou pelo País, dificultando as ações governamentais, o setor público sofreu os efeitos negativos do corte nas doações feitas por organizações sem fins lucrativos ligadas a alguns dos principais empresários brasileiros. Com a recessão, a fonte, outrora generosa, praticamente secou, segundo executivos das entidades e consultores envolvidos nos projetos, em geral destinados ao aumento da eficiência no setor público e à melhoria da qualidade dos serviços prestados à população.
Hoje, as organizações já não priorizam programas estaduais de grande porte, como a reforma da educação e o ajuste fiscal em Minas Gerais, nos governos de Aécio Neves e Antonio Anastasia, do PSDB, e a melhoria da segurança pública em Pernambuco, no governo de Eduardo Campos (1965-2014), do PSB, que consumiram milhões de reais. Agora, o dinheiro que restou é aplicado principalmente em programas de menor porte, desenvolvidos por dezenas de prefeituras, com apoio ocasional de consultores para a implantação dos projetos, e na criação de plataformas digitais voltadas ao compartilhamento de boas práticas de gestão.
“Hoje não é tão fácil conseguir patrocínio de empresários”, diz o consultor Vicente Falconi, um dos mais requisitados para tocar projetos no setor público. “Primeiro, porque a freguesia governamental aumentou muito. Segundo, porque a economia passou por um momento complicado e muita gente estava mal das pernas.”
Os empresários continuam, porém, a dedicar seu tempo à melhoria da administração pública, que afeta a competitividade do País, e a patrocinar seminários e estudos sobre o tema. Por meio do programa Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável, ligado à Comunitas, organização envolvida em várias ações de apoio ao setor público, um grupo de grandes empresários presta consultoria gratuita a 15 prefeituras. Fazem parte da lista Rubens Ometto, sócio da Cosan, do setor de açúcar e álcool; José Roberto Marinho, do Grupo Globo; José Ermírio de Moraes Neto, do Grupo Votorantim; e Carlos Jereissati Filho, do Grupo Iguatemi.
O envolvimento empresarial mais profundo com a causa deslanchou no início dos anos 2000, por meio da Fundação Brava, criada por Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann na 3G Capital, e do Movimento Brasil Competitivo (MBC), formado por Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau. Eles deram uma contribuição substancial para melhorar a gestão pública no País, ao apoiar diversos projetos, independentemente dos partidos políticos dos governantes.