O Estado de S. Paulo

Como retaliar com lógica econômica

- HELIO GUROVITZ E-MAIL: HELIO.GUROVITZ@ESTADAO.COM TWITTER: @GUROVITZ

Retribuir na mesma moeda é uma opção tentadora, mas não a mais recomendad­a aos países afetados pelas tarifas impostas pelo governo Donald Trump ao aço e ao alumínio importados. O desfecho é previsível. A União Europeia taxa produtos americanos como suco de laranja, bourbon, jeans ou motos Harley Davidson. Os Estados Unidos reagem e sobem as tarifas de importação de carros e máquinas. A China aproveita a brecha aberta por Trump e usa o conceito vago de “segurança nacional” para fechar suas portas. O fluxo de comércio global regride. O mundo entra em recessão.

O economista australian­o Warwick McKibbin tem uma ideia melhor. Em vez de retaliar comercialm­ente, os países que investem em papéis americanos (leia-se China) deveriam simplesmen­te tirar o dinheiro de lá. A revoada dos títulos do Tesouro derrubaria o dólar, incentivar­ia exportaçõe­s e inibiria importaçõe­s – como quer Trump. Em contrapart­ida, o governo teria de pagar mais caro para emprestar no mercado o dinheiro que financia sua esbórnia fiscal. Isso atrairia recursos internos para poupança, reduziria consumo e investimen­tos. A economia americana perderia produtivid­ade, diminuiria o ritmo e sofreria um ajuste necessário. O restante do mundo passaria bem, obrigado.

Os novos mercantili­stas americanos que louvam Trump enxergaria­m então o óbvio: déficits comerciais não passam de uma estratégia confortáve­l para manter o nível de consumo e atrair capital externo. “Os Estados Unidos descobriri­am rápido o erro fundamenta­l na lógica econômica subjacente ao governo Trump”, diz McKibbin.

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CARLOS BARRIA/REUTERS-2/2/2017 Retaliação. Motociclet­as Harley Davidson: alvos da UE
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