Como retaliar com lógica econômica
Retribuir na mesma moeda é uma opção tentadora, mas não a mais recomendada aos países afetados pelas tarifas impostas pelo governo Donald Trump ao aço e ao alumínio importados. O desfecho é previsível. A União Europeia taxa produtos americanos como suco de laranja, bourbon, jeans ou motos Harley Davidson. Os Estados Unidos reagem e sobem as tarifas de importação de carros e máquinas. A China aproveita a brecha aberta por Trump e usa o conceito vago de “segurança nacional” para fechar suas portas. O fluxo de comércio global regride. O mundo entra em recessão.
O economista australiano Warwick McKibbin tem uma ideia melhor. Em vez de retaliar comercialmente, os países que investem em papéis americanos (leia-se China) deveriam simplesmente tirar o dinheiro de lá. A revoada dos títulos do Tesouro derrubaria o dólar, incentivaria exportações e inibiria importações – como quer Trump. Em contrapartida, o governo teria de pagar mais caro para emprestar no mercado o dinheiro que financia sua esbórnia fiscal. Isso atrairia recursos internos para poupança, reduziria consumo e investimentos. A economia americana perderia produtividade, diminuiria o ritmo e sofreria um ajuste necessário. O restante do mundo passaria bem, obrigado.
Os novos mercantilistas americanos que louvam Trump enxergariam então o óbvio: déficits comerciais não passam de uma estratégia confortável para manter o nível de consumo e atrair capital externo. “Os Estados Unidos descobririam rápido o erro fundamental na lógica econômica subjacente ao governo Trump”, diz McKibbin.