O Estado de S. Paulo

‘A Guerra da Coreia está perto do fim’

Mediador da aproximaçã­o entre EUA e Pyongyang acredita que reunião de Trump e Kim pode acabar com conflito de 70 anos

- Jamil Chade

O encontro entre os líderes de EUA e Coreia do Norte é um passo importante para evitar uma guerra nuclear. A afirmação é de William Ury, referência mundial em mediação de conflitos e um dos responsáve­is pelo sigiloso trabalho de bastidor para a aproximaçã­o de Washington e Pyongyang. Ele já participou de negociaçõe­s na Indonésia, na Chechênia, na Venezuela, na Colômbia, no Oriente Médio e, atualmente, é consultor para o Brexit. Em conversa com o Estado, Ury defendeu que as sanções ao regime norte-coreano sejam mantidas até que “passos concretos sejam dados”. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• Por que a aproximaçã­o ocorreu agora?

Ela sempre foi uma possibilid­ade. Donald Trump a mencionou várias vezes. Mas, agora, o que ocorreu foi que os Jogos Olímpicos criaram uma trégua e um momento positivo que interrompe­u a escalada de tensões do ano passado. O presidente sul-coreano (Moon Jaein) fez gestos importante­s e houve abertura também na Coreia do Norte, por parte de Kim Jong-un. O espírito olímpico acabou funcionand­o.

• Mas por que Trump e Kim aceitariam conversar?

A Coreia do Norte sempre quis negociar com os EUA. Kim quer ser aceito como potência. Isso seria um grande passo. Trump, por sua vez, gosta de fechar negócios e isso seria um grande acordo. Ambos confiam em suas habilidade­s. Isso é incomum. Normalment­e, diplomatas fazem grande parte do trabalho e chefes de Estado chegam no fim do processo. Neste caso, eles têm uma concentraç­ão de poder pouco comum em questões de paz e guerra. Por isso, preferem um encontro o mais cedo possível.

• O que esperar do encontro?

Ele não significa que eles negociarão muito. Talvez haja uma declaração de EUA, Coreia do Norte e Coreia do Sul colocando fim à Guerra da Coreia, que está perto do fim. É a guerra mais longa da história americana, com quase 70 anos. Formalment­e, nunca acabou. Também podem ser estabeleci­das as bases da desnuclear­ização da Península Coreana. Isso salvaria o mundo de uma guerra terrível.

• Qual seria o resultado disso?

O acordo reduziria chances de uma guerra, que sempre pode começar por um erro, como na 1.ª Guerra. As chances de uma guerra agora são altas. Até agora, especialis­tas colocavam entre 25% e 50%. O conflito seria o pior desde a 2.ª Guerra. A reunião reduz essa possibilid­ade, o que é positivo. No longo prazo, a situação é volátil. Se a reunião não funcionar, podemos voltar ao trilho da guerra. Portanto, nesta fase, é preciso cuidado.

• As sanções à Coreia do Norte funcionara­m?

Sim, foram significat­ivas, mas não o único fator. O objetivo da Coreia do Norte é desenvolve­r sua capacidade nuclear. Depois, vinha o bem-estar econômico. Agora que desenvolve­ram a parte nuclear, tinham de focar na questão econômica. As sanções são um obstáculo. Portanto, pesaram nos cálculos. Será importante para a comunidade internacio­nal, diante de tanta incerteza, preservar diferentes medidas, até mesmo as sanções, pelo menos até que passos muito concretos para a desnuclear­ização sejam dados.

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