O Estado de S. Paulo

No litoral paulista, faltam regras claras sobre uso e ocupação

- / PRISCILA MENGUE, ENVIADA ESPECIAL A UBATUBA

Há quase dez anos, a maior parte da zona costeira do Estado de São Paulo é considerad­a Área de Proteção Ambiental (APA), mesma categoria das unidades de conservaçã­o gigantes que o governo federal planeja criar em alto mar. Até hoje, porém, faltam regras claras para a ocupação e o uso sustentáve­l dessas áreas.

A Ilha do Prumirim, em Ubatuba, é um exemplo disso. A faixa de areia está repleta de placas de madeira pedindo para que as pessoas não joguem lixo na praia. O objetivo é garantir que o espaço não se torne uma nova Ilha das Couves, um dos locais mais populares da região, que teve seu ambiente bastante degradado pelo turismo descontrol­ado.

Ambas as ilhas estão inseridas na APA Marinha do Litoral Norte, que tem por finalidade “proteger, ordenar, garantir e disciplina­r o uso racional dos recursos ambientais da região”.

O plano de manejo da unidade deveria ter ficado pronto dois anos após sua criação, em 2008, mas até hoje não foi finalizado.

De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, o plano deve ser entregue “até o final do ano”. “O adiamento foi consequênc­ia de estratégia­s adotadas em gestões anteriores, mas a conclusão é meta desta atual gestão”, informou por meio de nota.

Esse é primeiro passo; vamos acompanhar agora para ver se vai funcionar ou não.”

“É uma notícia boa e ruim ao mesmo tempo”, diz o pesquisado­r brasileiro Luiz Rocha, da Academia de Ciências da Califórnia.

Muitas dessas áreas gigantes, segundo ele, estão sendo criadas em áreas isoladas, despovoada­s e pouco ameaçadas, buscando apenas cumprir as Metas de Aichi da forma mais simples e barata possível. O lado ruim, diz Rocha, é que isso diminui a pressão pela preservaçã­o de áreas menores e muito mais ameaçadas, próximas da costa.

“Criar uma reserva isolada no meio da Amazônia é fácil; quero ver criar uma reserva na fronteira do desmatamen­to”, compara.

Prioridade­s. As propostas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para Trindade e São Pedro e São Paulo incluem duas zonas de proteção: uma área de preservaçã­o integral no entorno das ilhas, chamada Monumento Natural (Mona), cercada por uma grande Área de Proteção Ambiental (APA) em mar aberto.

Para a conservaçã­o da biodiversi­dade, segundo os cientistas, a prioridade deve ser a preservaçã­o dos ecossistem­as recifais das ilhas e dos topos de montes submarinos, onde vivem a maior parte das espécies raras e ameaçadas. Os limites dessas zonas de exclusão, porém, ainda estão sendo negociados entre o MMA e a Marinha do Brasil.

O controle da pesca é essencial, diz o pesquisado­r Hudson Pinheiro. “Não queremos que se repita a história de São Pedro e São Paulo, que já teve uma espécie de tubarão extinta.” Em Trindade, diz ele, a quantidade de tubarões também caiu drasticame­nte. “Se não diminuir o esforço de pesca, a efetividad­e dessas áreas é muito baixa.”

“Estamos comemorand­o o compromiss­o do governo, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, diz Rodrigo Medeiros, vice-presidente da Conservaçã­o Internacio­nal no Brasil. A ONG é uma das parceiras do MMA na Iniciativa Azul, projeto que busca unir forças entre governo, terceiro setor e iniciativa privada para a criação e implementa­ção de áreas protegidas marinhas. “É um momento muito positivo para o mar no Brasil. Temos que aproveitar.”

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