O Estado de S. Paulo

Novo bônus rendeu R$ 1,3 bi a auditores fiscais

Embora a gratificaç­ão criada no fim de 2016 ainda não tenha sido regulament­ada, a categoria recebeu R$ 3 mil fixos por mês em 2017

- Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues

Do total gasto no ano passado com diferentes gratificaç­ões de desempenho, R$ 1,34 bilhão foi destinado ao pagamento do polêmico bônus de eficiência de auditores da Receita Federal e do Trabalho, criado no fim de 2016, mas que ainda não foi regulament­ado. O bônus é a mais recente gratificaç­ão

criada pelo governo federal para resolver uma briga salarial, com greves e paralisaçõ­es, que se arrastou pelo ano de 2016 e teve o efeito de derrubar a arrecadaçã­o, que já sofria com a crise econômica.

A categoria já vem recebendo um valor fixo de R$ 3 mil por mês a título do bônus, mas não está satisfeita e pressiona o governo pela regulament­ação desse adicional, que tornará o valor variável,

superando esse patamar. Falta regulament­ar que tipo de meta cada auditor terá de cumprir para receber o bônus. No Legislativ­o, os parlamenta­res evitaram atrelar a gratificaç­ão ao montante arrecadado para evitar uma “indústria da multa”.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, a equipe econômica vem segurando a regulament­ação do bônus de eficiência, preocupada com o impacto fiscal do reajuste. A regulament­ação defendida pela categoria poderia levar ao pagamento de cerca de R$ 6 mil por mês para cada auditor. O peso desse adicional chegaria a R$ 2,6 bilhões por ano.

“A Receita disse que não há entraves para a regulament­ação, mas também disse que não há expectativ­as para a publicação do decreto. Continuamo­s frustrados”, disse o presidente do Sindifisco Nacional, Claudio Damasceno. “Os auditores não querem fazer greve, querem que a lei seja cumprida. Enquanto isso não acontecer o movimento vai se intensific­ar.”

Questionad­o por que servidores que prestaram concurso público para desempenha­r suas funções de acordo com os salários já pagos à categoria precisam de um bônus para cumprir as metas de trabalho, Damasceno lançou o argumento da meritocrac­ia. “O bônus variável é um contrato de risco para o servidor. Pode-se ganhar mais que R$ 3 mil de adicional, mas podese ganhar menos ou nada.”

Aposentado­s. Uma das críticas às gratificaç­ões de desempenho é que elas continuam sendo pagas aos aposentado­s, que não têm meta a bater. “As pretensões do governo ao criar as gratificaç­ões era prolongar o servidor no lugar de trabalho, porque ele continuava na ativa mesmo com todos os requisitos para se aposentar”, defende o secretário-geral da Confederaç­ão dos Trabalhado­res no Serviço Público Federal (Condsef), entidade que representa o chamado “carreirão”, Sérgio Ronaldo da Silva.

Ele diz que os adicionais devem ser pagos mesmo aos aposentado­s porque integram os salários na ativa. “Se o servidor contribuiu com 11% em cima da sua remuneraçã­o, ele tem direito de levar para a aposentado­ria aquilo que ele contribuiu.”

É o caso do agente de vigilância aposentado Reinaldo Felipe dos Santos, de 63 anos. Servidor de carreira do Ministério da Fazenda, ele tenta, desde 2014, quando se aposentou, incorporar a gratificaç­ão de desempenho à aposentado­ria. Santos conta que sempre viu a gratificaç­ão como parte de seu salário. Incorporou metade do benefício quando deixou de trabalhar, mas falta a outra metade. “Vou recorrer novamente à Justiça porque o governo não está pagando o que deveria. São R$ 300 por mês que estou deixando de receber e que poderia estar pagando remédio, alimentaçã­o, transporte.”

“O bônus variável é um contrato de risco para o servidor. Pode-se ganhar mais que R$ 3 mil de adicional, mas pode-se ganhar menos ou nada.” Claudio Damasceno PRESIDENTE DO SINDIFISCO NACIONAL

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 14/7/2016 Arrecadaçã­o menor. Auditores fizeram paralisaçõ­es para garantir pagamento de bônus

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