O Estado de S. Paulo

Com tarifa, 146 mil vagas podem ser fechadas

Medida causará perdas de postos em setores que utilizam o aço como insumo, diz estudo

- Cláudia Trevisan

Estudos divulgados nos Estados Unidos nos últimos dias avaliam que a tarifa de 25% sobre a importação de aço terá um impacto mais negativo do que positivo sobre a geração de empregos no país. O Trade Partnershi­p, instituiçã­o dedicada à defesa do livre-comércio, estima que haverá uma perda líquida de 146 mil postos de trabalho, resultado da criação de 33.464 posições na indústria siderúrgic­a e da perda de 179.334 em outros setores da economia que utilizam aço como insumo.

Impacto semelhante ocorreu em 2002, quando o então presidente George W.Bush impôs tarifas sobre a importação de aço, ainda que de maneira muito mais pontual que a ampla barreira erigida por Donald Trump, o atual ocupante da Casa Branca.

Estudo encomendad­o pelo Trade Partnershi­p na época estimou que o protecioni­smo de Bush destruiu 200 mil postos de trabalho durante os 18 meses em que vigorou. O número superava o total de pessoas empregadas em siderúrgic­as, que estava em 187 mil no mês de dezembro de 2002.

Outra análise feita na época pelo Peterson Institute for Internatio­nal Economics concluiu que a tarifa levou à criação de apenas 3.500 postos de trabalho na indústria do aço. Mas a pequena expansão teve um custo astronômic­o para os consumidor­es americanos, na forma de aumento de preços decorrente da elevação da cotação do aço. O estudo estimou que cada um desses empregos custou US$ 400 mil.

“As tarifas certamente vão ajudar as indústrias de aço e alumínio a expandirem seus lucros e ampliarem sua produção em certa medida, mas elas provavelme­nte não trarão de volta os empregos perdidos”, escreveu o economista Eswar Prasad em estudo publicado pelo Brookings Institutio­n na sextafeira. Segundo ele, grande parte da redução de postos de trabalho no setor é decorrente da tecnologia e da automação.

Para justificar a medida protecioni­sta, o presidente Donald Trump usou o argumento de preservaçã­o da defesa da segurança nacional, que vários países prometeram contestar na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). Mas sua decisão de excluir o Canadá e o México e vincular a eventual aplicação da tarifa sobre os dois países à renegociaç­ão do Nafta foi vista por seus críticos como uma tentativa de extorsão para obter concessões na área comercial.

Sem distinção. As barreiras anunciadas são amplas e não distinguem o aço acabado do semiacabad­o, que ainda vai ser processado nos EUA. “Deveria haver uma clara distinção entre os dois, pelo menos uma diferencia­ção de alíquota”, disse Brendan Blair, diretor de operação internacio­nais da Pasha Stevedorin­g & Terminals, empresa responsáve­l pelas placas de aço destinadas à siderúrgic­a California Steel, que fabrica o aço usando o produto semiacabad­o como matéria-prima. Além dela, outras cinco siderúrgic­as nos EUA produzem aço nas mesmas condições. Juntas, elas respondem por 6% da produção americana.

 ?? CLÁUDIA TREVISAN/ESTADAO ?? Linha. Usina da California Steel, que transforma aço semiacabad­o em bobinas de laminado
CLÁUDIA TREVISAN/ESTADAO Linha. Usina da California Steel, que transforma aço semiacabad­o em bobinas de laminado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil