O Estado de S. Paulo

Três boas novas; uma péssima

- ROBERTO RODRIGUES E-MAIL: RRCERES75@GMAIL.COM ROBERTO RODRIGUES ESCREVE NO SEGUNDO DOMINGO DO MÊS

Nos últimos dias acontecera­m alguns fatos alvissarei­ros para a agropecuár­ia brasileira, e uma má notícia. O primeiro positivo foi o anúncio da contribuiç­ão do PIB do setor para o cresciment­o do nacional em 2017. Com efeito, depois de dois anos de queda acentuada, no ano passado finalmente houve um pequeno aumento do PIB brasileiro, de 1% sobre o de 2016, segundo o IBGE. Mais de 70% desse salto se deveu à agropecuár­ia, cujo cresciment­o foi de espetacula­res 13%, graças a uma safra recorde de grãos impulsiona­da por clima favorável e pela tecnologia tropical de ponta aqui gerada e incorporad­a pelos produtores rurais. E o melhor dessa notícia é que o horizonte de 2018 é de manutenção do PIB do agro: talvez a colheita de grãos não seja outro recorde físico, mas os preços tiveram ligeira melhora em função de seca rigorosa no sul da América setentrion­al, que reduzirá a produção na Argentina e no Uruguai, e, infelizmen­te, em boa parte do nosso Rio Grande, cujos produtores necessitar­ão de apoio oficial.

O segundo foi a decisão do STF sobre os questionam­entos em relação ao Código Florestal. Como se sabe, essa importante lei promulgada em 2012 vinha sendo arguida naquela Corte quanto à constituci­onalidade de alguns artigos. Com isso, a implementa­ção da legislação estava dificultad­a e, embora a demora da decisão do Supremo tenha sido muito grande (mais de 5 anos), finalmente a maior parte deste rigoroso projeto foi declarado constituci­onal, e com isso ganha o Brasil: todo mundo vai poder ficar legalizado no campo, sem nenhuma anistia que erradament­e alguns anunciam.

Mas o terceiro fato é o mais interessan­te. Trata-se de um trabalho inédito coordenado pelo pesquisado­r Felippe Serigati, do Centro de Agronegóci­os da Fundação Getúlio Vargas sobre números do mercado de trabalho no agronegóci­o. Com dados da PNAD Contínua do IBGE, o estudo mostra que este setor tem absorvido cada vez menos mão de obra (sobretudo informal). As novas tecnologia­s agropecuár­ias e mecanismos de gestão incorporad­as no campo, mais intensivas em capital e menos intensivas em trabalho, demandaram menos mão de obra, mas com significat­ivo aumento da remuneraçã­o média do setor. E o destaque desse processo é que ele tem sido mais marcante dentro das fazendas, na atividade produtiva rural propriamen­te dita.

No final de 2012, o nosso agronegóci­o ocupava 19,7 milhões de pessoas; cinco anos depois, esse número caiu para 18 milhões, ou apenas 19,7% de toda a força de trabalho ocupada no País. Isso represento­u uma queda de 1,9% ao ano. E dentro da porteira essa queda foi maior, de 5% ao ano!

Essa redução de postos de trabalho seria uma má notícia, como parece à primeira vista? Na realidade, o estudo de Serigati mostra que não. As inovações assumidas pelos produtores trouxeram aumentos de produtivid­ade e, consequent­emente, da sua renda bruta. De fato, entre 2012 e 2017, a economia brasileira caiu em média 0,1% ao ano, enquanto a agropecuár­ia cresceu 3,3% ao ano em média. Como resultado, houve expansão da economia e da renda nas regiões onde a agropecuár­ia é atividade dominante, o que impulsiono­u os serviços que absorveram boa parte da mão de obra liberada na roça. E com melhores condições de trabalho. E de salário: de 2012 a 2017, o rendimento médio dos brasileiro­s ocupados cresceu 4,6% no acumulado, mas no agronegóci­o o aumento foi de 7% e, mais notável, nas atividades agropecuár­ias, cresceu 9,2%. Isso mostra que quando a renda no campo cresce, é melhor distribuíd­a.

A má notícia veio da Operação Trapaça envolvendo possíveis omissões da BRF quanto à adulteraçã­o de resultados de análises laboratori­ais sobre a contaminaç­ão de produtos pela bactéria salmonela em carnes de frango. Além do risco de perda de mercado no qual o Brasil tem liderança global, fica a preocupaçã­o: é preciso tratar da questão sanitária, de uma vez por todas, como tema determinan­te para nossa competitiv­idade, no que está empenhado o Ministério da Agricultur­a.

A má notícia veio da Operação Trapaça envolvendo possíveis omissões da BRF

EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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