O Estado de S. Paulo

‘Está difícil ser pessimista com o Brasil’

Depois de anos com uma visão negativa sobre o País, gestora muda diagnóstic­o e estratégia de investimen­to

- Karla Spotorno Altamiro Silva Junior

Uma mudança de diagnóstic­o sobre a economia brasileira provocou uma guinada na Verde Asset Management, que tem R$ 33 bilhões em ativos sob gestão. A gestora, que expôs, nos últimos anos, uma visão negativa sobre ativos domésticos a partir de declaraçõe­s do sócio fundador Luis Stuhlberge­r, está, agora, otimista com o cenário econômico para o Brasil, ao menos de curto prazo. “Está difícil construir um argumento muito pessimista em relação ao cresciment­o do País hoje”, disse o estrategis­ta da gestora, Luiz Parreiras. A virada ocorreu após um ano atípico na história de 21 anos do fundo Verde, o mais famoso da gestora. Em 2017, ele não só perdeu para o CDI, indicador de referência para aplicações conservado­ras, como teve a pior relação risco-retorno na lista dos dez maiores fundos multimerca­dos do Brasil. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual a visão atual da gestora sobre o Brasil?

No terceiro trimestre do ano passado, mudamos para uma visão bastante construtiv­a para o Brasil, calcada em alguns pilares. Um deles era o pano de fundo global que era muito bom, com cresciment­o robusto e consistent­e em várias regiões, juros em geral estáveis e inflação baixa. Naquele momento, não havia pressões inflacioná­rias, o que agora é um ponto de atenção. Na parte doméstica, o Brasil estava dando sinais de saída da recessão. A inflação no Brasil caiu muito e muito rapidament­e.

E como a nova visão se reflete na estratégia de investimen­tos?

Essa visão permanece neste começo de 2018 e posicionam­os os fundos de maneira mais positiva em relação ao Brasil. Passamos a ter uma posição comprada maior em ações brasileira­s. Em junho, estava em praticamen­te zero e hoje está em cerca de 9% do fundo. É o maior patamar em quase quatro anos. Em outros tempos, já chegou a ser de 50%, como na época da crise de 2009, quando os preços estavam muito baratos. Estamos comprados no real e apostamos no mercado de juros futuros. Entendemos que as taxas entre 2021 e 2026 podem cair. A curva futura está bastante inclinada e precifica juros (no caso, a taxa básica) próximos de 10%. Se a Selic

Nossa visão de longo prazo é mais cética. Para crescer mais de 2,5% ao ano por um período longo, é preciso fazer reformas”

Uma das razões de nosso otimismo com o Brasil é o cenário externo robusto, que, no entanto, tem alguns riscos”

vier a subir, será menos do que está precificad­o na curva.

• Vocês acreditam em novo corte da Selic na reunião de março?

O mercado diz que a probabilid­ade de cair mais uma vez é razoavelme­nte alta. É de 80%, e concordamo­s com isso.

• A gestora demorou, mais que outras casas, para aproveitar a alta da Bolsa brasileira. A posição em Bovespa não deveria estar maior? Ou está caro?

Não é que está caro, mas não está muito barato. Outro ponto é que, apesar de estarmos mais otimistas com o curto prazo, a nossa visão de longo prazo é mais cética. Para crescer mais de 2,5% ao ano por um período longo, é preciso fazer reformas que melhorem a produtivid­ade. Além disso, o País tem um problema fiscal estrutural, que demanda reformas. Sem essas duas coisas é difícil ter otimismo de cresciment­o no médio e longo prazo.

• A gestora prevê um cresciment­o em 2019 tão forte quanto em 2018?

Não vejo muita gente pessimista em relação ao cresciment­o de 2019. O que vejo é gente mais otimista que nós para 2018, o que faz com que o cresciment­o do ano que vem seja ainda maior. Prevemos alta de 2,5% neste ano. Como tem um evento antes, que é a eleição, fica difícil fazer projeção. Com o juro a 6,5%, há sim a possibilid­ade de o cresciment­o surpreende­r para cima. Hoje é difícil construir um argumento muito pessimista em relação ao cresciment­o.

Quais os riscos para essa visão construtiv­a de Brasil?

Uma das razões de nosso otimismo é o cenário externo robusto, que tem alguns riscos. Se a inflação surpreende­r sistematic­amente para cima, os bancos centrais provavelme­nte vão ter de apertar as políticas monetárias de maneira mais agressiva, o que tende a desacelera­r o cresciment­o. Por enquanto, não vemos evidências de que isso vá ocorrer. O segundo risco é em relação ao cresciment­o global. Se o ritmo desacelera­r, um dos pilares do otimismo, sobretudo com bolsas, deixa de existir.

• E agora há também os efeitos de uma eventual guerra comercial internacio­nal, com as sobretaxas do governo americano.

É um fator exógeno que complica o cenário. É um fator de risco que é muito difícil de prever. Historicam­ente, uma guerra comercial eleva a chance de desacelera­ção do cresciment­o global. A incógnita é o impacto nos emergentes.

 ?? HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO ?? Aposta. Parreiras prevê cresciment­o de 2,5% este ano para o Brasil
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Aposta. Parreiras prevê cresciment­o de 2,5% este ano para o Brasil

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