O Estado de S. Paulo

Uma nova era

Com referência­s a ‘Tubarão’, ‘E.T.’ e ‘De Volta Para o Futuro’, Alexandre Herchcovit­ch desfila hoje, na Biblioteca Mário de Andrade, a nova coleção da À La Garçonne

- Sergio Amaral

Captando o zeitgeist da moda do Brasil (e do mundo), a marca À La Garçonne está entre as mais interessan­tes e relevantes do mercado nacional. Tendo como estilista e diretor de novos negócios Alexandre Herchcovit­ch, um dos mais celebrados nomes da moda brasileira, sob a direção de seu marido, o empresário e diretor criativo Fábio Souza, ela investe num tipo de luxo sob medida para os novos tempos. “O luxo para nós tem a ver com exclusivid­ade e quantidade. Nosso cliente quando chega na loja quer saber quantos produtos daquele foram feitos”, conta Alexandre.

É dessa linha superexclu­siva a mais emblemátic­a peça da grife, a parka militar pintada à mão com motivos como cordas e temas náuticos, animais selvagens, flores e pássaros exóticos. “Quero que meu cliente sinta que não comprou um produto perecível”, completa Fábio, explicando um dos fundamento­s da grife, a promoção de mudanças menos abruptas entre uma coleção e outra.

No desfile que acontece hoje à tarde na Biblioteca Mário de Andrade, Alexandre e Fábio apresentam a quinta coleção da marca, 01-2018 (outra pequena adaptação para tempos atuais em que as estações já não fazem mais sentido para o consumidor), tendo como um dos elementos de referência­s os personagen­s de filmes da Universal Pictures, como E.T.,

Tubarão e De Volta Para o Futuro. “Não é uma coleção temática, são roupas que a gente tem vontade de usar, de ver por aí, é um mix”, fala Fábio.

Dias antes da apresentaç­ão, numa cantina no Bom Retiro, onde fica o atelier da marca, Alexandre e Fábio falaram ao

Estado sobre a moda e os novos tempos, as mudanças de hábito de consumo, política nacional e a fluidez de gênero das novas gerações.

O que podem contar da coleção nova da À La Garçonne? Fábio.

Não é uma coleção temática. São roupas que a gente tem vontade de usar, de ver por aí, é um mix...

Alexandre. Tem parka militar pintada à mão. Tem e vai ter até a última coleção (risos.)

Fábio. Essa é a grande diferença entre a À La Garçonne e a marca Alexandre Herchcovit­ch. Ele sempre foi conhecido por alterar as coleções radicalmen­te a cada semestre. Na À La Garçonne nem viramos coleção a cada semestre, ela vira a cada ano. Quero que meu cliente sinta que ele não comprou um produto perecível, é mais slow.

Quem são os parceiros dessa coleção 01-2018? Alexandre.

Estamos começando duas parcerias superimpor­tantes: New Era e The North Face. Também firmamos uma parceria de dois anos coma UniversalS­t udi os. Durante esse período agente vai usar uns 30 personagen­s. Em agosto agente lança um licenciame­nto com Melissa de vários produtos.

• Os desfiles já acontecera­m no Masp, no Theatro Municipal, na Bienal, desta vez será na Biblioteca Mário de Andrade… Alguma razão especial para ser lá?

Fábio.

Gostamos de ocupar espaços da cidade. Não tem regra: posso fazer dentro de uma loja ou de uma borrachari­a ou dentro da Prefeitura. É onde der vontade.

• A marca tem uma identidade forte com a cultura urbana e o streetwear… Alexandre.

Acho que a À La Garçonne é bem misturada. Num mesmo desfile tem camiseta, jeans, vestido de festa... Ficam algumas imagens mais fortes, como o street que você mencionou, porém o que a gente mais tem vendido são as roupas de festa.

A que vocês atribuem esse sucesso? Fábio.

É uma roupa mais sexy do que a que o Alexandre fazia na marca dele.

Alexandre. A marca Alexandre Herchcovit­ch foi construída de uma maneira tão forte que eu ficava preso à sua própria história. Aqui estou exercitand­o 500 outros lados.

• Você tem acompanhad­o o que está acontecend­o com sua marca, Alexandre? Alexandre.

Não muito… Acho que ainda tem produtos licenciado­s porque as pessoas postam e me marcam, mas não vejo muito movimento. Não procuro, mas o que chega para mim eu acompanho.

• O sucesso da marca parece exceção no mercado… Como enxergam esse momento? Fábio.

Está difícil de maneira geral porque estamos vivendo dois movimentos. Um

é a decadência política brasileira que está muito séria e afetou a economia de uma maneira bem drástica, então alguns segmentos estão se sobressain­do, mas são poucos. A grande maioria está sofrendo porque o cliente parou de consumir. A outra questão é que no passado as marcas de roupa concorriam com outras marcas de roupa. Hoje você concorre com celular, carro, viagem, as pessoas estão diversific­ando os gastos.

Por que as marcas grandes parecem sofrer mais? Fábio.

Porque as pessoas não querem mais usar o que o vizinho usa. Elas buscam exclusivid­ade. Isso nos favorece porque priorizamo­s a exclusivid­ade. Quando não é peça única, temos uma grade de 30 (exemplares de um mesmo item).

• As questões de gênero, um tema que você, Alexandre, sempre abordou, hoje estão bastante em voga. O que acha disso? Alexandre.

Acho tudo maravilhos­o. Tem uma mudança violenta. E que bom que as pessoas estão na dúvida de que gênero elas são. Que bom que elas não querem se encaixar em denominaçõ­es. Tenho viajado bastante para dar palestras em faculdades e são duas as questões principais: moda agênero e reciclagem, reúso, sustentabi­lidade.

É um caminho sem volta? Fábio.

Tem exagero, tem modismo e tem oportunism­o, mas não tem mais como você não abordar estes temas, não declarar onde você está colocando seu descarte. O aqueciment­o global está aí, embora o Trump diga que é mentira. Temos que falar do lixo, de reúso, as pessoas não querem mais ficar presas a um padrão, estamos vivendo uma grande mudança de tudo, da mídia, do consumo.

• Várias celebridad­es usam – e postam – looks seus. É quase regra hoje em dia fazer ações com blogueiras e influencia­dores. Vocês têm algum trabalho nesse sentido?

Fábio.

A gente não veste celebridad­e. As celebridad­es que vestem e compram. É um movimento natural, somos uma marca pequena. Não temos recurso para pagar blogueiro.

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Inverno 18. Herchcovit­ch, Fábio Souza e dois looks da nova coleção da À La Garçonne

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