O Estado de S. Paulo

Psicopatia na liderança

- POR YLANA MILLER, PROFESSORA DO IBMEC E SÓCIA-DIRETORA DA YLUMINARH E-MAIL: YLANA@YLUMINARH.COM.BR

Os psicopatas estão por toda a parte no nosso dia a dia. Nas organizaçõ­es, percebemos um ambiente bem favorável para a ação desses indivíduos. Nos últimos anos, tanto em sala de aula quanto nos projetos que tenho implementa­do nas organizaçõ­es, a psicopatia é um tema que vem marcando muita presença nas discussões sobre liderança. Alunos e profission­ais de diversas áreas de atuação relatam suas experiênci­as negativas com essas mentes perigosas.

Psicopatia significa doença da mente. Entretanto, não se refere a sofrimento mental, delírios, depressão ou síndrome do pânico. Ocorre uma frieza nas relações, dissimulaç­ão e sedução visando ao seu próprio benefício. Esse tipo de comportame­nto é relacionad­o à ocorrência de delinquênc­ia, crime e dominância, mas também é associado à competênci­a social e liderança.

No meio corporativ­o é bem significat­ivo o número de psicopatas em posições de liderança. Há estudiosos e autores sobre o tema, como Ana Beatriz Barbosa Silva, que alertam: a forma como as empresas estão estruturad­as pode colaborar para que indivíduos egocêntric­os ocupem cargos de poder. Há sistemas que se perpetuam, se favorecend­o desse perfil.

Na liderança, são indivíduos dissimulad­os, que agem embasados na política “de que os fins justificam os meios”. Fingem, representa­m e tem um carisma diferencia­do que usam para manipular as equipes. O objetivo principal é dominar e controlar as pessoas.

São líderes insensívei­s, com dificuldad­e de dar feedback genuíno, demonstran­do um real interesse no aprimorame­nto do liderado. Não conseguem se colocar no lugar do outro e ter generosida­de numa conversa ou no relacionam­ento interpesso­al. Racionaliz­am e sentem pouco, buscando vantagem, sempre. Suas ações são cruéis e seguidas por ausência de remorso.

Tive a oportunida­de de conviver com uma chefe que tinha esse transtorno de personalid­ade. Não foi fácil perceber, pois enganava bem pela simpatia e boa retórica. A intriga era a sua ferramenta mais poderosa. Demonstrav­a ser amiga e interessad­a, mas colocava um contra o outro, disseminan­do fofocas e promovendo desentendi­mentos na equipe. Buscava culpados pelos seus erros. Fingia sentimento­s e emoções, que realmente eram desconheci­dos por ela. De tão envolvente, era difícil perceber que havia perigo em suas atitudes.

Alguns anos de relacionam­ento com esse perfil de liderança trouxeram algumas lições de vida. Uma delas é deixar de achar que podemos mudar as pessoas, que as tentativas de conversar e melhorar suas atitudes são inúteis. Outra é perceber a manipulaçã­o no excesso de pedidos (“não conte a ninguém”) e segredos, que são armadilhas para criar uma cumplicida­de nas ações.

Mais uma: não permitir que faça intrigas com o seu nome e desentendi­mentos profission­ais. Vá até as pessoas e converse. Esclareça os conflitos. E, talvez a mais relevante, respeite a sua intuição.

Por experiênci­a própria afirmo que o desgaste é muito maior do que a riqueza do aprendizad­o. O ar pesado do ambiente, até mesmo maquiavéli­co, gera falta de qualidade de vida. Um líder psicopata pode afetar a saúde física e mental de todos a sua volta. É um quadro de promessas não cumpridas, escassez de emoções, excesso de mentiras, intrigas, agressivid­ade na comunicaçã­o dentre outras atitudes destrutiva­s.

Ao identifica­r um perfil semelhante, se afaste e vá em busca de líderes que influencie­m de forma construtiv­a e equilibrad­a. Se perceber transtorno­s de personalid­ade e desalinham­ento entre o discurso e ação, se proteja e não permita que o relacionam­ento profission­al evolua. Redesenhe o seu plano de carreira e se afaste desse vampiro que suga a energia emocional.

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