Psicopatia na liderança
Os psicopatas estão por toda a parte no nosso dia a dia. Nas organizações, percebemos um ambiente bem favorável para a ação desses indivíduos. Nos últimos anos, tanto em sala de aula quanto nos projetos que tenho implementado nas organizações, a psicopatia é um tema que vem marcando muita presença nas discussões sobre liderança. Alunos e profissionais de diversas áreas de atuação relatam suas experiências negativas com essas mentes perigosas.
Psicopatia significa doença da mente. Entretanto, não se refere a sofrimento mental, delírios, depressão ou síndrome do pânico. Ocorre uma frieza nas relações, dissimulação e sedução visando ao seu próprio benefício. Esse tipo de comportamento é relacionado à ocorrência de delinquência, crime e dominância, mas também é associado à competência social e liderança.
No meio corporativo é bem significativo o número de psicopatas em posições de liderança. Há estudiosos e autores sobre o tema, como Ana Beatriz Barbosa Silva, que alertam: a forma como as empresas estão estruturadas pode colaborar para que indivíduos egocêntricos ocupem cargos de poder. Há sistemas que se perpetuam, se favorecendo desse perfil.
Na liderança, são indivíduos dissimulados, que agem embasados na política “de que os fins justificam os meios”. Fingem, representam e tem um carisma diferenciado que usam para manipular as equipes. O objetivo principal é dominar e controlar as pessoas.
São líderes insensíveis, com dificuldade de dar feedback genuíno, demonstrando um real interesse no aprimoramento do liderado. Não conseguem se colocar no lugar do outro e ter generosidade numa conversa ou no relacionamento interpessoal. Racionalizam e sentem pouco, buscando vantagem, sempre. Suas ações são cruéis e seguidas por ausência de remorso.
Tive a oportunidade de conviver com uma chefe que tinha esse transtorno de personalidade. Não foi fácil perceber, pois enganava bem pela simpatia e boa retórica. A intriga era a sua ferramenta mais poderosa. Demonstrava ser amiga e interessada, mas colocava um contra o outro, disseminando fofocas e promovendo desentendimentos na equipe. Buscava culpados pelos seus erros. Fingia sentimentos e emoções, que realmente eram desconhecidos por ela. De tão envolvente, era difícil perceber que havia perigo em suas atitudes.
Alguns anos de relacionamento com esse perfil de liderança trouxeram algumas lições de vida. Uma delas é deixar de achar que podemos mudar as pessoas, que as tentativas de conversar e melhorar suas atitudes são inúteis. Outra é perceber a manipulação no excesso de pedidos (“não conte a ninguém”) e segredos, que são armadilhas para criar uma cumplicidade nas ações.
Mais uma: não permitir que faça intrigas com o seu nome e desentendimentos profissionais. Vá até as pessoas e converse. Esclareça os conflitos. E, talvez a mais relevante, respeite a sua intuição.
Por experiência própria afirmo que o desgaste é muito maior do que a riqueza do aprendizado. O ar pesado do ambiente, até mesmo maquiavélico, gera falta de qualidade de vida. Um líder psicopata pode afetar a saúde física e mental de todos a sua volta. É um quadro de promessas não cumpridas, escassez de emoções, excesso de mentiras, intrigas, agressividade na comunicação dentre outras atitudes destrutivas.
Ao identificar um perfil semelhante, se afaste e vá em busca de líderes que influenciem de forma construtiva e equilibrada. Se perceber transtornos de personalidade e desalinhamento entre o discurso e ação, se proteja e não permita que o relacionamento profissional evolua. Redesenhe o seu plano de carreira e se afaste desse vampiro que suga a energia emocional.