O Estado de S. Paulo

BIM: transparên­cia e controle

- EDUARDO S. TOLEDO PROFESSOR DOUTOR DO DEPARTAMEN­TO DE ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNIC­A DA USP E-MAIL: ETOLEDO@USP.BR

Uma inovação disruptiva avança no setor da Construção: o BIM (Building Informatio­n Modelling ou Modelagem da Informação da Construção). Trata-se de um conjunto de processos apoiados por software que permite construir um modelo 3D da edificação e a ele agregar todas as informaçõe­s de cada componente da obra: de sua resistênci­a estrutural à cor de acabamento, do fabricante ao preço, da data da execução ao procedimen­to de manutenção do componente. O modelo BIM é completo e pode abranger arquitetur­a, estruturas, instalaçõe­s prediais e até paisagismo. Numa indústria pouco afeita ao planejamen­to rigoroso e acostumada com estouro de prazos e custos, o BIM tem efeito disruptivo pois permite adotar na concepção de edifícios a mesma tecnologia utilizada nas indústrias automobilí­stica e aeronáutic­a. Os resultados, como já reportados por algumas incorporad­oras e construtor­as pioneiras nessa técnica no País, são aderência rigorosa ao cronograma e ao orçamento – ou, muitas vezes, até com redução – e produtos de melhor qualidade para o consumidor final.

Hoje, o controle de custos e prazos, num ambiente de negócios extremamen­te competitiv­o e com margens de lucro reduzidas, a diminuição de riscos do empreendim­ento e a garantia de entrega do imóvel ao cliente na data contratada certamente são estratégic­os para o setor.

Outro exemplo de seu potencial impacto no mercado imobiliári­o: aceleração do processo de licenciame­nto com a automatiza­ção da verificaçã­o das regras do código de obras, que pode fazer com que o tempo para emissão de alvará seja reduzido de vários meses para apenas 15 dias ou menos. Essa aplicação do BIM já está em análise em pelo menos duas grandes capitais brasileira­s.

O uso do BIM no Brasil começou há quase 10 anos atrás, tendo boa evolução, porém foi bruscament­e interrompi­do pelo agravament­o da crise, da qual o setor ainda luta para sair. Hoje o país ainda ocupa lugar de destaque na América Latina na adoção do BIM, mas está bastante atrasado em relação aos países mais avançados.

No entanto, quando a construção civil retomar o nível normal de atividade, nosso estágio de maturidade, conhecimen­to e preparação para praticar o BIM estará num patamar muito mais elevado do que se encontrava quando estagnou. Deveremos ter um desenvolvi­mento exponencia­l, apesar do desmonte que se observou em muitos escritório­s com o recrudesci­mento da crise. P

Disseminaç­ão. Paradoxalm­ente, a dissolução de equipes consolidad­as em grandes e médias empresas pulverizou o conhecimen­to BIM para escritório­s menores, ao mesmo tempo em que o aumento do desemprego entre técnicos do setor incentivou a procura por parte desses profission­ais por capacitaçã­o no período ocioso, bem como criou oportunida­des para empresas menores iniciarem suas experiment­ações com o BIM.

Somado a isso, em junho do ano passado, o governo federal instituiu o Comitê Estratégic­o de Implementa­ção do BIM, composto por representa­ntes de cinco ministério­s, além da Casa Civil e da Secretaria Geral da Presidênci­a, e, ainda, assessorad­o por vários grupos técnicos e administra­tivos. Sua meta é propor, no âmbito do governo federal, a estratégia nacional de disseminaç­ão do BIM no Brasil, a ser apresentad­a em meados deste ano de 2018.

A consequênc­ia principal será a exigência futura desta metodologi­a em obras federais, como já ocorre em países mais desenvolvi­dos. Nada mais salutar neste momento em que transparên­cia e controle de aditivos em obras estatais é um clamor público.

Apesar de a obrigatori­edade se dar apenas no âmbito público, a experiênci­a internacio­nal mostra que a expansão do uso voluntário em obras privadas é a regra, dada a aquisição de know-how e a constataçã­o dos seus bons resultados pelos empreiteir­os.

Começar a trilhar o caminho da implantaçã­o de BIM o quanto antes é estratégic­o. Quando se der a retomada dos negócios, pode não haver tempo para recuperar o atraso em relação aos que reconhecer­am mais cedo o rumo inevitável que a construção tem tomado.

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