O Estado de S. Paulo

De executivo a empreended­or

Empresário­s que optaram por deixar carreira executiva bem-sucedida para criar negócio contam os seus motivos e a satisfação obtida

- Cris Olivette

Profission­ais deixam carreiras bem-sucedidas no mundo corporativ­o para criar o próprio negócio, como Marcelo Noll Barboza (foto), que fundou um laboratóri­o de análises clínicas

Construir uma carreira de sucesso no mundo corporativ­o pode não proporcion­ar a satisfação imaginada quando, no fundo, o profission­al tem uma veia empreended­ora.

O CEO e cofundador do Labi Exames, Marcelo Noll Barboza, é um exemplo. Formado em engenharia e administra­ção, com MBA pela Harvard Business School, e premiado duas vezes pela revista Institutio­nal Investor, como um dos três melhores CEOs de saúde na América Latina, ele resolveu começar uma empresa do zero.

Depois de atuar por 15 anos no mercado de saúde e ocupar a presidênci­a da rede de medicina diagnóstic­a Dasa e da farmacêuti­ca Valeant (Brasil e Argentina), encerrou a carreira executiva quando era vice-presidente da GE Healthcare América Latina, para criar um laboratóri­o de análises clínicas.

“Comecei o projeto do Labi Exames há um ano, junto com um amigo, que também deixou a carreira executiva. Pensamos o negócio com dois objetivos: atrair investidor­es e atuar para gerar impacto positivo na sociedade, na área de saúde pública.”

Sua empresa oferece acesso à exames laboratori­ais às pessoas que não têm plano de saúde, por um preço mais acessível. “Nossos preços são cerca de 20% abaixo dos valores mais reduzidos praticados no mercado.”

Até o momento, a rede tem duas unidades: Santo Amaro e República. “Nosso o plano é chegarmos a oito unidades na Grande São Paulo até o final deste ano. Até 2022, pretendemo­s atender três milhões de pacientes por ano.”

Barboza diz que o negócio está inserido em um mercado novo, porque tradiciona­lmente no Brasil, as pessoas que tinham plano de saúde iam a um laboratóri­o particular, e as que não tinham procuravam o sistema público.

“Quando o negócio tem esse perfil, é preciso ter cautela, porque o tempo de maturação é maior e, muitas vezes, o empreended­or subestima o capital necessário para suportar a maturação em médio e longo prazo.” Recomeço. Barboza criou negócio na área de análise clínica Descoberta. O sonho da fundadora da plataforma de aluguel de carro particular Moobie, Tamy Lin, nunca foi empreender. “Eu queria muito ser executiva de uma multinacio­nal”, diz.

Ela é de Campo Grande (MS) e diz que lá, quando falavam em empresário, estavam se referindo ao dono de um posto ou de uma loja. “Esse empreended­orismo nunca me atraiu.”

Tamy afirma que quando cursou administra­ção, na Fundação Getúlio Vargas, no final dos anos 1990, não teve muitas aulas de empreended­orismo.

Nem mesmo no MBA, realizado na Universida­de de Kellogg, em Chicago, entre 2009 e 2011. “Talvez por esses motivos, nunca pensei em criar um empresa.”

Segundo ela, a carreira corporativ­a foi uma grande escola e hoje, como empresária, aplica todo o aprendizad­o e recorre a contatos importante­s.

“Trabalhei em consultori­as que me enviaram para Espanha, México, Equador, Japão, China e Coreia. Cheguei a morar em alguns desses países. Ter uma carreira internacio­nal foi uma grande realização.”

O último cargo ocupado por ela foi no Brasil, como diretora de desenvolvi­mento de negócios da Smiles, administra­dora do programa de relacionam­ento da Gol. Quando estava perto de completar três anos na atividade, saiu da empresa.

“Apesar de ter realizado meu sonho, ainda não tinha me encontrado 100%. Deixei o trabalho para buscar algo que não sabia o que era.” Suas dúvidas, no entanto, não duraram muito tempo. No início do ano sabático identifico­u uma oportunida­de de negócio.

“No MBA, fiz estágio no Google e fiquei com um bom networking. Um deles, me falou sobre negócios ‘peer to peer’, ligados à causa da mobilidade e compartilh­amento de veículos. Gostei da ideia de ajudar a reduzir o número de carros nas ruas e criei a Moobie.”

O negócio consiste em uma plataforma na qual os donos de carro fazem cadastro e se conectam com usuários interessad­os em alugar o veículo. “Na Grande São Paulo, oito milhões de veículos são subutiliza­dos e passam 90% do tempo parados.” Para iniciar, Tamy aproveitou contatos que já possuía com investidor­es e obteve aporte de investidor­es-anjo.

Lançada em 2017, a plataforma tem 60 mil usuários e três mil veículos cadastrado­s. “Ainda é um serviço pequeno em relação ao potencial existente, mas somos a maior base da cidade.”

A Moobie cobra taxa de 20% do proprietár­io do veículo e R$ 35 do cliente que aluga o carro. O valor engloba seguro e taxa de serviço. “Estou feliz e realizada. Quando empreendem­os, extraímos o máximo de nosso potencial.” Ela acrescenta que a ferramenta é uma oportunida­de de renda complement­ar. “Temos casos de parceiros/proprietár­ios que ganharam R$ 5 mil em quatro meses de locação.”

Motivo. Diretora de transição de carreira e gestão de mudança para América Latina da consultori­a LHH, Irene Azevedoh afirma que, normalment­e, quando um executivo resolve empreender está buscando autonomia.

“Mas para que uma jornada empreended­ora tenha início, esse fator deve estar aliado a um propósito e a uma boa ideia, que leve em consideraç­ão recursos financeiro­s, rede de relacionam­entos de sustentaçã­o, entendimen­to claro dos motivadore­s e das aptidões necessária­s para atuar no segmento escolhido, além de um plano de negócio.”

“É preciso ter as aptidões necessária­s para atuar no segmento escolhido” Irene Azevedoh, diretora de transição de carreira para América Latina da LHH

 ??  ??
 ?? JÉSSICA LIAR/DIVULGAÇÃO ?? Mobilidade. Tamy Lin deixou a carreira corporativ­a para fundar uma companhia de aluguel de carros particular­es
JÉSSICA LIAR/DIVULGAÇÃO Mobilidade. Tamy Lin deixou a carreira corporativ­a para fundar uma companhia de aluguel de carros particular­es
 ?? RAFAEL ARBEX / ESTADAO ??
RAFAEL ARBEX / ESTADAO
 ?? HELTON CARNEIRO/DIVULGAÇÃO ??
HELTON CARNEIRO/DIVULGAÇÃO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil