O Estado de S. Paulo

Cubanos iniciam processo de transição da presidênci­a de Raúl

Perda da Venezuela como principal parceira comercial e paralisaçã­o no setor agrícola deverão agravar crise em Cuba

- Guilherme Russo / COM AP

Os cubanos foram às urnas ontem dar início ao processo político que resultará na saída de Raúl Castro da presidênci­a, em uma votação na qual os eleitores meramente ratificam os nomes aprovados pelo Partido Comunista. Os deputados “eleitos”, por sua vez, indicarão em 19 de abril o novo presidente, conforme a vontade do irmão de Fidel.

A perspectiv­a, segundo analistas, é que o próximo presidente de Cuba enfrente uma crise econômica crescente no país, em razão da paralisaçã­o nas reformas nos setores privado e agrícola – além da perda da Venezuela como sua principal financiado­ra.

De acordo com o economista cubano Carmelo Mesa-Lago, professor de economia e estudos latino-americanos da Universida­de de Pittsburgh, no ano passado, o governo venezuelan­o deixou de ser o maior parceiro comercial de Havana, posto que passou a ser ocupado pelos chineses.

“O problema disso é que quando alguém analisa toda a série de comércio da China com Cuba, não vê um aumento muito consideráv­el de comércio entre os países nos últimos anos”, afirmou Mesa-Lago ao Estado, explicando que foi uma diminuição dos gastos de Caracas – que enfrenta uma severa crise econômica – e não um aumento do comércio com Pequim que ocasionou o rearranjo.

Para o economista cubano Pavel Vidal, que trabalhou sete anos na direção de política monetária do Banco Central de Cuba e foi pesquisado­r do Centro de Estudos da Economia Cubana, em Havana, “o maior desafio do novo governo será que, imediatame­nte, terá de administra­r uma crise econômica e financeira que ainda não toca fundo, mas pode se agravar ainda mais, produto do que parece ser uma queda irreversív­el, ao menos no curto prazo, dos vínculos comerciais com a Venezuela”.

“Exceto pela abertura ao capital estrangeir­o, as principais reformas empreendid­as em Cuba estão hoje congeladas ou mais lentas. Por exemplo, o governo parece ter ficado sem ideias novas para impulsiona­r o setor agrícola, no qual se concentrar­am partes importante­s das reformas e onde parece haver as maiores potenciali­dades para substituir importaçõe­s e avançar no fornecimen­to de alimentos”, explicou Vidal.

Ao votar ontem em Santa Clara, o primeiro-vice-presidente de Cuba, Miguel DíazCanel, provável sucessor de Raúl, admitiu a paralisaçã­o na “atualizaçã­o do modelo”. “É um processo mais complexo do que pensamos a princípio e, por isso, não pudemos avançar.”

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AFP Mise en scène. Raúl Castro votou em Santiago de Cuba

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