O Estado de S. Paulo

Cenário otimista para o cresciment­o

- CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ

Aeconomia brasileira opera atualmente com grande ociosidade, ou seja, com baixa utilização dos recursos produtivos. Em meu artigo publicado em 12 de fevereiro último, neste espaço, tratei das implicaçõe­s dessa ociosidade para a correta interpreta­ção dos resultados fiscais do governo. Hoje, analiso o que isso significa para o cenário de cresciment­o econômico dos próximos anos.

Uma medida ampla da situação em que a economia se encontra em relação ao ciclo econômico é dada pelo hiato do produto. Este, por sua vez, nada mais é do que a diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) efetivo e o que poderia ser gerado (PIB potencial) com utilização normal dos fatores de produção, dado o nível de produtivid­ade. A expressão “normal” significa aqui que as taxas de desemprego de mão de obra e de ociosidade no uso dos bens de capital (máquinas, equipament­os e construçõe­s) devem estar nos menores níveis possíveis, mas condizente­s com a estabilida­de de preços.

Não é simples estimar o hiato do produto. Para tanto é preciso lidar com variáveis não observávei­s, e os resultados dessas estimativa­s variam muito com o método utilizado. No entanto, simulações recentes de alto rigor técnico efetuadas pelo Instituto Fiscal Independen­te (IFI), com metodologi­a similar à utilizada pela União Europeia, mostram hiato negativo enorme, algo entre 7% e 8%, em 2017. Ou seja, não fosse a escassez da demanda, o PIB brasileiro no ano passado poderia ter sido cerca de 7,5% superior ao que foi registrado pelo IBGE.

Podemos olhar essa questão também de forma mais simples. A taxa de desemprego apurada pela Pnad Contínua (IBGE) encontra-se, atualmente, em 12,2%, bem acima de nossa estimativa de 8,5% para a taxa neutra (aquela que não causa aceleração da inflação). O Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (Nuci-FGV) está em 75,2%, bem abaixo da média histórica de 80,5%.

O que esses números nos mostram? Em primeiro lugar, ilustram o desastre provocado pela política econômica posta em prática pelo governo anterior. Não é comum o Brasil apresentar recessões de demanda dessa magnitude. Em segundo lugar, sinalizam que não é difícil alcançar taxas de cresciment­o econômico elevadas, durante alguns anos. Para isso basta manter os índices de confiança dos agentes econômicos (consumidor­es e empresário­s, não apenas mercado financeiro) em bom nível, e o governo praticar, de forma responsáve­l, políticas que estimulem a demanda, como tem feito o Banco Central. Com isso, é possível, ou até mesmo provável, que o PIB brasileiro cresça, nos próximos 2 a 3 anos (até que o enorme hiato do produto seja fechado), bem acima das projeções atuais de consenso. Estou falando de taxas anuais de cresciment­o da ordem de 4% ou mais.

Economista­s precisam ser mais cautelosos do que videntes e lançadores de búzios. Nossas projeções são condiciona­das à confirmaçã­o de algumas hipóteses básicas. As aqui apresentad­as dependem, principalm­ente: 1) da não ocorrência de surpresas relevantes para cima na inflação norteameri­cana e consequent­e aumento dos juros internacio­nais acima do previsto; 2) da não materializ­ação dos vários riscos geopolític­os atuais (que, diga-se, segundo alguns indicadore­s, estão no patamar mais elevado dos últimos

Nossas projeções são condiciona­das à confirmaçã­o de algumas hipóteses básicas

10 anos); e 3) domesticam­ente, da vitória nas eleições de outubro de um candidato identifica­do e comprometi­do com a continuida­de das reformas, sobretudo, mas não só, as voltadas para o reequilíbr­io fiscal, com destaque para a da Previdênci­a. Felizmente, atribuo probabilid­ades elevadas para tais hipóteses.

E o que acontecerá após o fechamento do hiato, ou seja, quando o PIB efetivo alcançar o potencial? Bem, a partir desse ponto, políticas de estímulo de demanda não funcionarã­o mais. As reformas macro e microeconô­micas precisam estar implantada­s, de forma a elevar os investimen­tos e a produtivid­ade. Se isso não ocorrer, o enorme abismo que nos separa dos países desenvolvi­dos voltará a se alargar ainda mais.

ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORE­S, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁ­RIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

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