O Estado de S. Paulo

Por candidatur­a, Meirelles propõe pacto de risco a Temer

Ministro quer concorrer ao Planalto pelo MDB com compromiss­o de fazer seu nome decolar até julho

- Vera Rosa / BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai oferecer seu nome a Michel Temer para disputar o Planalto pelo MDB, partido do presidente. No acordo em gestação, ele se compromete­ria a fazer sua candidatur­a decolar de abril, quando deixaria o cargo, até julho, tempo em que viajaria pelo País, informa Vera Rosa. Se seu nome não emplacar ou se Temer resolver entrar na corrida por novo mandato, o ministro retiraria a pré-candidatur­a para apoiar o presidente – ou quem o MDB indicar para a vaga, em um pacto de confiança e de risco. Meirelles quer ser candidato, mas avalia que precisa de tempo para expor sua plataforma, tornar seu nome conhecido e “traduzir” a melhoria dos indicadore­s econômicos em metas sociais. Ele já conversou com o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), mas ainda não teria falado com Temer. O ministro é filiado ao PSD, de Gilberto Kassab.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai propor um pacto de risco ao presidente Michel Temer, na tentativa de tornar viável sua candidatur­a ao Palácio do Planalto. Se Temer aceitar o acordo, Meirelles deixará o comando da economia na reforma ministeria­l, prevista para o início de abril, e até o começo de julho fará viagens pelo País, já filiado ao MDB, com o objetivo de se tornar conhecido.

A proposta a ser apresentad­a pelo ministro é que, se o seu nome não decolar nesse prazo de três meses, ou mesmo se Temer resolver disputar novo mandato, ele retirará a pré-candidatur­a para apoiar o presidente.

Meirelles quer ser candidato, mas avalia que precisa de tempo para expor sua plataforma ao País, “traduzir” a melhoria dos indicadore­s econômicos em metas sociais e aumentar a popularida­de. Seu desejo de concorrer, no entanto, esbarra na possível pretensão de Temer de entrar no páreo.

Com receio de deixar o governo e depois ser “cristianiz­ado” pelo Planalto, o ministro conversou recentemen­te com o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), e decidiu sugerir o acordo a Temer, nos próximos dias. A interlocut­ores, Meirelles tem dito que, caso não consiga respaldo popular e político, fará campanha para o presidente ou para o postulante que ele avalizar e não retornará à equipe.

As últimas pesquisas de intenção de voto mostram que Meirelles tem no máximo 2% das preferênci­as. Temer, por sua vez, nem chega a esse patamar. Na avaliação dos dois, porém, o que mais importa é o potencial de cresciment­o daqui para a frente. O ministro encomendou levantamen­tos qualitativ­os de opinião para saber o que eleitores esperam do próximo ocupante do Planalto e como as pessoas encaram sua possível candidatur­a.

Ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Meirelles é filiado ao PSD, mas o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicaçõ­es, Gilberto Kassab, chefe do partido, fechou acordo para apoiar o prefeito João Doria (PSDB) ao governo paulista. Em troca, Kassab negocia a vaga de vice na chapa de Doria e, além disso, deve aderir à campanha do governador tucano Geraldo Alckmin à Presidênci­a, rifando Meirelles.

Costura. As articulaçõ­es do Planalto são para unir o centro político, mas até agora esse acerto está cada vez mais difícil de ser costurado com os aliados. Na semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), engrossou a fila dos candidatos com o discurso da “mudança” e assegurou não estar disposto a defender Temer.

“O convite para Meirelles se filiar ao MDB já foi feito e só estamos aguardando a resposta”, disse o senador Jucá, líder do governo que se tornou o primeiro réu no Supremo Tribunal Federal em investigaç­ão aberta após delação da Odebrecht (mais informaçõe­s na pág. A9). Ao ser questionad­o se as denúncias contra Temer dificultam o plano do MDB de pleitear mais quatro anos no poder, Jucá respondeu que o presidente já está exposto. “Ele sabe que vai sofrer, porque querem criminaliz­ar o mundo político. Nós respeitare­mos a decisão dele, seja qual for. E Meirelles será muito bem-vindo.”

O favorito de Meirelles para ocupar sua cadeira é o secretário executivo da Fazenda, Eduardo Guardia. Em reunião com Temer no domingo, no Palácio do Jaburu, o ministro sugeriu Guardia para substituí-lo, mas, ciente de que seu braço direito não conta com a simpatia do Planalto nem do Congresso, encaminhou também o nome do secretário de Acompanham­ento Fiscal, Mansueto Almeida. Nos bastidores, Jucá se movimenta para que o titular do Planejamen­to, Dyogo Oliveira – seu afilhado político – seja transferid­o para a Fazenda.

Imagem. Embora esteja conversand­o há tempos sobre suas intenções eleitorais com Temer, Meirelles ainda não expôs a ele a ideia de acordo recíproco. Em entrevista ao Estado, publicada no dia 25, o ministro disse que vai defender o “legado” de Temer se entrar na corrida.

A estratégia para “humanizar” a imagem de Meirelles vem sendo desenhada por sua equipe de comunicaçã­o. Além de postar anteontem uma foto no Twitter com sua cadela Teresa Cristina, a Trica, da raça cavalier king charles spaniel, o chefe da economia já fala nas redes sociais como candidato.

Ao responder a questões com a hashtag #PergunteAo­Meirelles, o ministro adiantou pontos de um futuro programa, dizendo que sua prioridade será garantir emprego aos brasileiro­s. “É necessário uma economia crescendo. (...) Em segundo lugar, uma inflação baixa para que o salário não seja corroído ao longo do tempo. Depois, o uso competente dos recursos públicos, garantindo melhor saúde, melhor educação e mais segurança”, afirmou ele em vídeo no Twitter.

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FERNANDO BIZERRA JR./EFE Economia. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo

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