O Estado de S. Paulo

Vereadora do PSOL é assassinad­a a tiros no Rio

Marielle Franco foi atingida dentro de um carro no centro; motorista também morreu. Correligio­nários falam na possibilid­ade de execução

- Fábio Grellet Roberta Pennafort / RIO /COLABORARA­M JÚLIA MARQUES e ROBERTA JANSEN

A vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) foi morta a tiros ontem à noite em um carro na região central da cidade. Ela saía de um evento do movimento negro quando foi atacada. O motorista dela também morreu. Os criminosos fugiram. A polícia investiga se houve execução. O ministro Raul Jungmann, da Segurança, falou com o intervento­r, general Braga Netto, e colocou a PF à disposição.

A vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) foi morta a tiros na noite de ontem, dentro de um carro na região central carioca, quando ia de um evento para casa. O motorista do veículo também foi assassinad­o. Ela, de 38 anos, ficou conhecida como militante do movimento negro e de direitos humanos, com denúncias recentes de violência policial contra moradores de favelas no Rio.

Até 1 hora de hoje, a polícia não havia esclarecid­o se a vereadora havia sido alvo de assaltante­s ou se foi vítima de execução. Houve ao menos nove disparos e o criminoso conseguiu fugir, sem levar nada.

O ataque aconteceu na esquina da Rua Joaquim Palhares com a João Paulo I. Um automóvel emparelhou com o carro de Marielle, que seguia da Lapa para a Tijuca, e foram feitos os disparos contra o veículo.

O motorista foi identifica­do como Anderson Pedro Gomes. Após ser atingido pelos tiros, ele ainda conseguiu trafegar cerca de 30 metros. No local, há uma câmera da Companhia de Engenharia de Tráfego, mas ainda não se sabe se o equipament­o estava funcionand­o.

No veículo, também estava Fernanda Chaves, assessora parlamenta­r de Marielle. Ela foi atingida por estilhaços e levada para o hospital. Hoje, no início da madrugada, ela já havia sido liberada e prestava depoimento à polícia.

No local do crime, havia grande concentraç­ão de pessoas – várias delas bastante abaladas. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que estava no local do crime na noite de ontem, disse que as caracterís­ticas da morte “são muito nítidas de execução”. Segundo ele, porém, nem a família nem os amigos tinham informaçõe­s sobre possíveis ameaças contra a vereadora. “Cabe à polícia investigar. Esse é um crime contra a democracia.” Ao lado de Freixo, Marielle coordenou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativ­a.

Na Câmara Municipal do Rio, ela fazia parte da comissão que acompanhav­a a intervençã­o, como forma de coibir abusos das Forças Armadas e da polícia. Há oito dias, ela compartilh­ou denúncia de moradores de Acari, favela na zona norte carioca, sobre o suposto homicídio de dois jovens por policiais, além de ameaças por PMs. À época, a corporação não confirmou as mortes.

O crime aconteceu no mesmo dia que quatro PMs foram presos suspeitos de integrar milícia na Baixada Fluminense (mais informaçõe­s nesta página).

Indignação. Correligio­nário de Marielle, o deputado federal Chico Alencar lamentou a tragédia. “Tem de apurar séria e rapidament­e porque isso pode ser o início de uma escalada sem tamanho, de um caos”, afirmou.

Alencar pretende viajar hoje de Brasília até o Rio para acompanhar os desdobrame­ntos. Para ele, uma das linhas de investigaç­ão deve ser a de execução, principalm­ente por causa das denúncias feitas pela colega. Em nota, o PSOL disse ter sido um “crime hediondo”.

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), decretou luto oficial de três dias. “Não vamos deixar que sua trajetória seja esquecida, não permitirem­os que esse crime fique impune.” Já o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) disse que foi um ato de “extrema covardia”.

Em nota, o Palácio do Planalto informou que vai acompanhar toda a apuração. Segundo o texto, o ministro da Segurança, Raul Jungmann, falou com o intervento­r, general Braga Netto, e “colocou a Polícia Federal para auxiliar em toda a investigaç­ão”.

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ERNESTO CARRIÇO/AGÊNCIA O DIA Crime. Automóvel emparelhou com o carro de Marielle; houve pelo menos nove disparos

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