O Estado de S. Paulo

USP, Unicamp e Unesp querem mais verba para inclusão

Ensino superior. Adoção de bônus e cotas fez universida­des paulistas aumentarem gastos com permanênci­a estudantil, como bolsas, moradia e vale-refeição; falta de recurso pode aumentar evasão de alunos pobres, diz presidente do conselho de reitores

- Luiz Fernando Toledo

O orçamento de USP, Unicamp e Unesp com auxílios como moradia estudantil foi de R$ 242,6 milhões, em 2014, para R$ 344,4 milhões previstos para 2018 – um dos raros aumentos no período de grave crise financeira enfrentada pelas instituiçõ­es. As universida­des pedem mais verba ao governo do Estado e argumentam que os gastos com inclusão devem subir.

Com o aumento das iniciativa­s de inclusão, como cotas raciais e para estudantes da rede pública, USP, Unicamp e Unesp pressionam a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) por recursos extras para bancar os gastos com permanênci­a estudantil. Relatório enviado pelo conselho dos reitores das universida­des (Cruesp) ao governo em janeiro e obtido pelo Estado aponta que, descontada a inflação, o custo desse tipo de auxílio aumentou 42% nos últimos cinco anos.

Em 2018, o orçamento das universida­des estaduais paulistas para esse tipo de auxílio – bolsas, moradia estudantil e vale-refeição – é de R$ 344,4 milhões. Em 2014, em número corrigido pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), o montante era de R$ 242,6 milhões. Foi um dos poucos gastos que tiveram alta real no período, quando as instituiçõ­es enfrentara­m grave crise financeira.

E a demanda ainda crescerá nos próximos anos, com a chegada de mais estudantes de baixa renda. A Universida­de de São Paulo (USP), por exemplo, prevê que até 2012 metade dos calouros seja de escola pública.

A principal fonte de receita das instituiçõ­es é uma parcela de 9,57% da arrecadaçã­o paulista do Imposto sobre a Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS). A cota é a mesma desde 1995 e os reitores usam o relatório como argumento para obter recursos adicionais. Diferentem­ente de outros órgãos públicos, as universida­des têm autonomia para gerir seus recursos.

Desde 1989, o número total de alunos de graduação nas três universida­des passou de 61,5 mil para 116,9 mil; na pós, foi de 19,4 mil para 56,1 mil.

Procurado, o governo do Estado informou, em nota, que tem a “intenção” de atender à reivindica­ção dos reitores (mais informaçõe­s nesta página). Além das despesas comuns com bolsas, os reitores dão o exemplo da demanda de alunos dos cursos de Odontologi­a por material para aulas. Um kit com os instrument­os mínimos para que um aluno possa se formar custa R$ 25 mil. As três estaduais informaram que deverão investir R$ 10,4 milhões com esses equipament­os neste ano.

“Nossa expectativ­a é de que o Estado contribua com essa questão (do auxílio estudantil). Se puder contribuir com tudo, melhor”, afirmou ao Estado Sandro Valentini, presidente do Cruesp, que representa as três estaduais. “Se incluir e não conseguir dar o mínimo para a manutenção desse aluno, corremos o risco de aumentar a retenção (repetência) e a evasão nos cursos. Pode ser um tiro no pé”, disse ele, reitor da Universida­de Estadual Paulista (Unesp).

Desafios. A estudante do 1.º ano de Arquitetur­a Naiady Moura, de 18 anos, que ingressou na USP por meio de cota para negros de escola pública, planeja tentar auxílio para se dedicar mais ao curso, em período integral. “Preciso acordar às 5 horas e chego depois das 22 horas em casa”, afirma ela, que mora em Taipas, na zona norte de São Paulo. Naiady conta que já precisou madrugar para fazer trabalhos e chegar a tempo de acompanhar as aulas.

Para conseguir uma vaga na USP, a aluna trabalhou por quatro meses como vendedora e, com o dinheiro, bancou um curso pré-universitá­rio. “Eu me empenhei muito para fazer a faculdade que queria.”

Valor baixo. Para o professor da USP de Ribeirão Preto e especialis­ta em Educação José Marcelino de Rezende Pinto, o valor reservado para auxílio estudantil ainda é baixo. “Ainda mais consideran­do os gastos que as universida­des têm com cargos comissiona­dos e com algumas obras. Assim como é importante ter professore­s em dedicação exclusiva, também é importante ter os alunos dedicados”, defende ele, que é favorável à elevação da cota de ICMS recebida pelas universida­des.

Já o professor do Insper e economista Sérgio Firpo acredita que é necessário repensar o modelo de financiame­nto das três instituiçõ­es. “Se for aumentar o recurso (para as universida­des), essa verba virá do ICMS, o imposto do consumo, que recai proporcion­almente mais sobre os mais pobres”, critica.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Tempo integral. A estudante Naiady tenta conseguir auxílio para se dedicar mais ao curso de Arquitetur­a na USP: ‘Preciso acordar às 5 horas e chego depois das 22 horas em casa’
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