O Estado de S. Paulo

Recorrer à OMC é última opção, diz Temer sobre aço

Presidente só falou sobre barreiras ao aço adotadas pelos Estados Unidos quando provocado pelo diretor do Fórum Econômico Mundial

- Rolf Kuntz

Michel Temer afirmou ontem, na abertura do Fórum Econômico Mundial na América Latina, que só em último caso vai recorrer à OMC contra a sobretaxa imposta ao aço pelo governo Trump. Pelé foi homenagead­o na sessão.

O Brasil evitará confronto e só recorrerá à Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) contra as novas barreiras comerciais americanas se o diálogo falhar, explicou o presidente Michel Temer, ontem, na sessão de abertura do Fórum Econômico Mundial na América Latina. Nesse caso, acrescento­u, o governo tentará uma ação conjunta com outros países prejudicad­os pelas tarifas sobre aço importado impostas pelo presidente Donald Trump. É preciso, disse Temer, tratar dessa questão “com muito cuidado”.

A declaração pacifista do presidente foi reforçada pelo ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. Brasil e Estados Unidos, disse ele, são países amigos, há investimen­tos dos dois lados, e “primeiro deve vir o diálogo”.

O primeiro passo, havia indicado Temer, deve ser o contato de empresas brasileira­s exportador­as de aço com as importador­as americanas. O produto brasileiro, lembrou o presidente, é semiacabad­o e serve de insumo para as companhias importador­as. Pode-se pensar, portanto, numa ação conjunta de convencime­nto em Washington. Além disso, ele já informou a assessoria do presidente Trump de seu interesse em conversar. “Acho que ele gostaria de receber um telefonema”, arriscou o presidente.

Também o ministro de Relações Exteriores se mostra interessad­o em conversar com negociador­es do governo americano sobre a aplicação das sobretaxas. Se nada disso funcionar, admitiu, o Brasil terá de tomar outro caminho para defender seus interesses. Por enquanto, o caminho preferido é o do entendimen­to. Na semana passada, o governo já havia indicado seu objetivo: conseguir isenção das tarifas para os produtos brasileiro­s. Nada além disso.

Temer e o ministro falaram sobre o assunto porque foram provocados por uma pergunta do presidente e fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. Mas Schwab já havia mostrado preocupaçã­o muito mais ampla que a proteção de interesses de um ou de alguns países. Ele aproveitou a homenagem a Pelé, convidado para a sessão plenária de abertura, para abordar o assunto. Fair-play. Depois de elogiar Pelé como símbolo do fair-play, Schwab falou sobre a necessidad­e de um comércio internacio­nal baseado em jogo limpo e em regras destinadas a preservar a competição. Foi uma referência inequívoca às medidas protecioni­stas anunciadas na semana anterior pelo presidente Donald Trump. Além disso, sua primeira pergunta ao presidente Michel Temer, depois dos discursos iniciais das autoridade­s convidadas, foi sobre protecioni­smo. A pergunta propiciou a Temer a oportunida­de para falar sobre a inclinação de seu governo – favorável à abertura, segundo ele – e sobre o desafio imposto pela nova iniciativa do governo americano.

Em seu discurso, o presidente brasileiro havia passado longe do problema das tarifas. Temer limitou-se, nesse pronunciam­ento, a falar sobre como o Brasil saiu da recessão e voltou a crescer. Mencionou as linhas principais de seu governo e citou a reforma trabalhist­a e a criação do teto de gastos como realizaçõe­s do programa reformista. Tendo posto de lado o discurso escrito e por ele classifica­do como muito extenso (24 minutos), Temer exercitou a oratória improvisad­a. Exibiu de novo o cacoete, também caracterís­tico do ex-presidente Lula, de pontuar as frases dirigindos­e de passagem a pessoas presentes – ministros, autoridade­s, empresário­s etc.

O prefeito João Dória, falando como anfitrião, fez as saudações habituais, falou sobre o dinamismo econômico de São Paulo e mencionou o governador Geraldo Alckmin como futuro presidente do Brasil. Alckmin, discreto, evitou falar de eleições, mencionou brevemente o problema do protecioni­smo e citou o programa de privatizaç­ões de seu governo. Em homenagem a Pelé, traduziu a sigla PPP (parcerias público-privadas) com os nomes de um antigo trio de jogadores do Santos: Pagão, Pelé e Pepe.

O público levantou-se duas vezes para aplaudir o homenagead­o. Pelé repetiu o apelo feito na comemoraçã­o de seu milésimo gol: cuidem da educação das crianças.

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BETO BARATA/PR Fair-play. Pelé foi homenagead­o na abertura do Fórum Econômico Mundial, em São Paulo

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