O Estado de S. Paulo

Cade aprova compra de fatia da XP por Itaú

Aquisição. Operação foi aprovada com um placar de cinco votos a dois, mas ainda depende de análise do Banco Central; Itaú ficará proibido de interferir na gestão da XP, enquanto a corretora estará impedida de firmar contratos de exclusivid­ade com o banco

- Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) aprovou ontem, com restrições, a compra de parte da corretora XP pelo Itaú Unibanco. O aval ao negócio foi dado após um acordo que proíbe o banco de interferir na gestão da XP e de direcionar clientes para a corretora. A XP também foi proibida de firmar contratos de exclusivid­ade com fundos de investimen­tos e gestores do Itaú.

A operação ainda depende de análise do Banco Central para ser efetivada. No Cade, o processo foi aprovado por cinco votos a dois. O relator do processo, Paulo Burnier, votou pela aprovação do negócio condiciona­do à assinatura do acordo e foi acompanhad­o por quatro conselheir­os. A compra de 49,9% da corretora pelo banco foi anunciada em maio do ano passado, por R$ 6,257 bilhões.

Já os conselheir­os Cristiane Alkmin e João Paulo Resende votaram pela reprovação do negócio por entenderem que existe um risco à concorrênc­ia e ao processo de “desbancari­zação” em curso no mercado de investimen­tos. Esse processo se deve ao fato de que clientes de alta renda estão deixando os bancos para investir por meio de plataforma­s, que serviriam como uma espécie de “balcão” de investimen­tos. Os dois conselheir­os viram que a operação pode representa­r uma carta branca para que outros bancos comprem plataforma­s abertas de investimen­tos como a XP, que hoje ameaçam os modelos tradiciona­is dessas instituiçõ­es.

Custo. Cristiane chegou a dizer que a estratégia do Itaú é “comprar o concorrent­e chato”. “O custo social com o fim do processo de desbancari­zação será elevado demais”, afirmou. Há a previsão de que o Itaú possa deter até 75% da XP nos próximos anos. O acordo negociado com o Cade determina que, caso o Itaú venha a adquirir o controle da XP, a nova operação deverá ser notificada ao órgão para ser reavaliada.

O documento prevê ainda que a XP não poderá tratar de forma diferente fundos e gestores de investimen­tos concorrent­es do Itaú, para não beneficiar o banco. “A plataforma da XP é um canal relevante, em especial para bancos menores”, afirmou Burnier. O acordo também proíbe que a corretora exija exclusivid­ade ou tempo mínimo de permanênci­a para os fundos e que adote ações para facilitar a portabilid­ade dos investidor­es. Outro ponto foi o compromiss­o da corretora de manter a política de taxa zero praticada para fundos de renda fixa, Tesouro Direto e custódia de ações em bolsa de valores.

Burnier também incluiu no acordo a exigência de que o Itaú não direcione clientes para a plataforma da XP, obrigação não prevista nos termos negociados com a área técnica. O relator lembrou que o negócio firmado entre as empresas já prevê autonomia da XP e atuação limitada do Itaú, que, além de não deter o controle, terá o direito de indicar três dos sete membros no conselho de administra­ção da corretora.

Partes. No julgamento, os advogados das duas instituiçõ­es reforçaram que a XP continuará atuando de forma independen­te. O advogado da XP, Márcio Soares, ressaltou o cresciment­o das plataforma­s abertas e a aplicações feitas por companhias e fundos de investimen­tos em outras rivais. “Esse mercado está em plena transforma­ção. É claro que a XP foi a primeira, mas isso de forma alguma permite que ela relaxe”, completou.

Em nota, o Itaú disse que recebeu com satisfação o resultado do julgamento e que os compromiss­os adotados buscam garantir a manutenção da independên­cia da XP “nos termos previstos no contrato relativo à operação”. A XP não se pronunciou.

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FELIPE RAU/ESTADÃO - 8/2/2018 XP. Corretora de Guilherme Benchimol é a maior do País

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